Investigadores da UC colaboram em projeto europeu para reduzir risco de transmissão de infeções em hospitais

Investigadores da UC colaboram em projeto europeu para reduzir risco de transmissão de infeções em hospitais
Investigadores da UC colaboram em projeto europeu para reduzir risco de transmissão de infeções em hospitais. Foto: Rosa Pinto

A Universidade de Coimbra (UC) através da Faculdades de Ciências e Tecnologia (FCTUC) e da Faculdade de Medicina (FMUC) está a participar no projeto “Human – Centric Indoor Climate for Healthcare Facilities (HumanIC)”, liderado pela Universidade Técnica de Varsóvia, Polónia.

O projeto reúne uma rede doutoral financiada no âmbito do Programa Marie Curie e tem como objetivo desenvolver estudos que permitam reduzir o risco de transmissão de infeções hospitalares em unidades de saúde. Assim, as novas abordagens, focadas no ser humano, pretendem melhorar o clima em unidades de saúde.

O projeto financia trabalhos de onze teses de doutoramento a serem realizadas em oito universidades europeias de referência. A abordagem proposta no projeto vai para além dos métodos tradicionais, que se concentram exclusivamente nos edifícios e nos seus sistemas de ventilação e climatização, mas propõe soluções mais complexas que integram as interações entre fontes de contaminação, fluxos de ar e as necessidades clínicas e energéticas dos espaços hospitalares.

“Há evidências claras de que os escoamentos de ar controlam a dispersão e a exposição a agentes patogénicos transportados pelo próprio ar e depositados nas superfícies nos microambientes que rodeiam e estão nas proximidades do corpo humano. Desta forma, pretendemos desenvolver métodos inovadores que analisam as interações humanas com os microambientes de risco, como salas de cirurgia e enfermarias”, explicou Manuel Gameiro da Silva, docente do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da FCTUC e coordenador do projeto na UC, citado em nota de imprensa da Universidade.

O objetivo é minimizar a propagação de agentes patogénicos transportados pelo ar, garantindo ao mesmo tempo conforto térmico e segurança. Ao gerar novos conhecimentos sobre a transmissão de contaminantes e a dinâmica dos fluxos de ar, pretendemos otimizar o design de soluções técnicas e implementar métodos eficazes de controlo do clima interior em hospitais”, afirmou ainda Manuel Gameiro da Silva que é investigador da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI).

O programa de investigação envolvido no projeto é ambicioso e de uma formação especializada. Assim, o consórcio HumanIC pretende criar uma nova geração de cientistas e engenheiros especializados para futuras interfaces no design hospitalar.

Para o investigador todo o trabalho envolvido “é o resultado de uma colaboração entre equipas académicas europeias de topo e parceiros da indústria de AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado) e saúde”.

Manuel Gameiro da Silva esclareceu que o conceito de clima interior centrado no ser humano refere-se ao microambiente que rodeia o corpo humano, privilegiando a segurança e o bem-estar dos doentes, e referiu: “Este tipo de clima interno desempenha um papel crucial em locais como salas de operações, unidades de isolamento e laboratórios, onde a segurança depende de condições ambientais altamente controladas.”

Na nota da Universidade é referido que as infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) continuam a ser um desafio sério. É estimado que, anualmente, mais de 4 milhões de doentes contraiam infeções nos hospitais da União Europeia, com cerca de 80 mil doentes afetados diariamente. Estas infeções, agravadas pela resistência antimicrobiana, representam não só um risco elevado de mortalidade, mas também custos significativos. Estudos recentes mostram que a melhoria do ambiente interior hospitalar pode reduzir os custos associados a doenças transmitidas pelo ar em 9% a 20%.

Para os investigadores a pandemia de COVID-19 demonstrou a importância de um design hospitalar eficaz, à medida que muitos hospitais foram obrigados a operar além da sua capacidade normal. Este desafio é agravado pelas alterações climáticas, que aumentam a procura por cuidados de saúde devido a novas doenças e infeções relacionadas com o calor, bem como à necessidade de manter condições térmicas confortáveis nos hospitais, sem comprometer a eficiência energética.

Da informação disponível é indicado que o projeto HumanIC é financiado pela Comissão Europeia, através do programa Horizonte Europa, com o valor global de 2,7 milhões de euros, decorrerá até 2027 e conta com a participação de parceiros académicos e tecnológicos de uma dezena de países.