À medida que a pandemia COVID-19 evolui, também evoluem as investigações sobre os efeitos da mesma na saúde do coração. Uma área de particular interesse dos médicos envolve a COVID-19 como causa da inflamação do músculo cardíaco, uma condição conhecida como miocardite.
Dados da Fundação de Miocardite, nos EUA, indicam que a miocardite afeta mais frequentemente pessoas jovens, saudáveis e atléticas. São as pessoas na puberdade até os 30 anos as que correm maior risco. A miocardite afeta duas vezes mais homens que mulheres, e se não for tratada, pode levar à insuficiência cardíaca, e é também uma das causas de morte cardíaca súbita.
Os investigadores monitoraram pacientes com COVID-19 para detetar evidências de miocardite. Na análise verificaram que um número significativo de pessoas com casos graves de COVID-19 também tinham problemas cardíacos.
Esses problemas cardíacos geralmente tomavam a forma de um mau funcionamento do coração e desenvolviam sintomas clínicos de insuficiência cardíaca, e ocorriam num ambiente de doença sistémica grave, explicou John Boehmer, cardiologista do Penn State Heart and Vascular Institute, EUA. Mas o que não ficou claro é se a miocardite e outros sintomas relacionados à insuficiência cardíaca eram causados especificamente pela COVID-19 ou por outras condições de saúde.
Um estudo conduzido em Frankfurt, Alemanha, relatou os resultados dos testes de ressonância magnética cardíaca (MRI) numa coorte de 100 pacientes recuperados recentemente de COVID-19. Os resultados, publicados em julho de 2020, revelaram inflamação cardíaca contínua em 60% dos pacientes e envolvimento cardíaco em 78% dos pacientes. “Mas os estudos em curso não conseguiram reproduzir esses resultados”, referiu John Boehmer.
Outro estudo, publicado em setembro de 2020, examinou os resultados da ressonância magnética cardíaca de 26 atletas universitários da The Ohio State University, EUA, que apresentavam sintomas de COVID-19. Os resultados mostraram que 15% desses atletas apresentavam sinais de ter miocardite.
As descobertas levaram muitos programas desportivos a promover testes aos estudantes atletas. “Até agora, não encontramos miocardite ou envolvimento cardíaco significativo com doença cardiovascular em pacientes com sintomas limitados”, referiu John Boehmer. “Não parece que os resultados cardiovasculares estejam relacionados com a pandemia”.
Num artigo publicado no JAMA Cardiology, em outubro de 2020, uma equipa de cardiologistas desportivos, apoia as observações de John Boehmer. “A nossa experiência combinada sugere que a maioria dos atletas com COVID-19 são assintomáticos a com doença leve e, até ao momento, a estratificação de risco de retorno ao jogo gerou poucos casos de patologia cardíaca relevante.”
São necessários mais estudos para determinar se existe uma conexão entre miocardite e a COVID-19, entretanto qualquer pessoa envolvida em qualquer tipo de atividade atlética que tenha sofrido de COVID-19 deve tomar precauções antes de regressar ao trabalho ou à competição desportiva.
O estudo publicado no JAMA Cardiology recomenda que os atletas aumentem lentamente sua atividade após recuperação de casos assintomáticos ou leves de COVID-19. As pessoas com COVID-19 moderado a grave devem convalescer por duas semanas após o desaparecimento dos sintomas e, então, devem retomar lentamente a atividade física sob a orientação do médico e equipa de treino desportivo.
Embora John Boehmer não tenha observado um aumento de miocardite ou sintomas relacionados em pacientes com COVID-19 durante a pandemia, ele observou uma tendência preocupante. “Há um excesso de morte cardíaca e vascular devido às pessoas adiarem os cuidados médicos regulares porque têm medo de vir ao hospital”.
As pessoas devem ficar atentas aos sinais de problemas cardíacos de emergência – dor no peito, mandíbula ou pescoço, desconforto nos braços e ombros, falta de ar – e ligar para o 112 se suspeitarem de um ataque cardíaco.