O genoma do coronavírus 2019-nCoV acaba de ser sequenciado no Instituto Pasteur, em França. O isolamento das estirpes do coronavírus 2019-nCoV detetadas em França foi totalmente feito com sucesso. Os cientistas usaram as amostras recolhidas nos primeiros casos confirmados em França.
O Coronavirus 2019-nCoV, responsável pelos casos de pneumonia que surgiram na China, é diferente dos dois outros vírus conhecidos por causar surtos respiratórios nos últimos anos: O vírus SARS-CoV, responsável pelo surto de SARS em 2003, e o MERS-CoV, responsável por um surto que surgiu em 2012 no Oriente Médio.
O Institut Pasteur esteve envolvido ativamente no combate aos dois surtos anteriores, o que permitiu adquirir um grande conhecimento sobre estes coronavírus que auxiliam na situação atual. “Para o SARS-CoV e o MERS-CoV, as células conhecidas como Vero E6 foram identificadas para cultivar os dois coronavírus”, explica Sylvie van der Werf, diretora do Centro Nacional de Referência (CNR) para vírus respiratórios do Institut Pasteur.
A cientista acrescentou: “Em janeiro de 2020, nós recuperamos os coronavírus SARS e MERS que são mantidos sob condições estritamente controladas, para estarmos prontos logo que fosse detetada uma amostra positiva para o coronavírus 2019-nCoV”.
Crescimento extremamente rápido do vírus em cultura
Na sexta-feira, 24 de janeiro de 2020, no mesmo dia em que os primeiros casos foram confirmados, o Instituto Pasteur iniciou o processo de cultura das amostras que apresentaram resultado positivo para o vírus nas células Vero E6. “Usando métodos de deteção, observamos uma carga viral alta nas amostras colhidas nos pacientes do hospital de Paris. Isso permitiu-nos identificar quais amostras que deveriam ser cultivadas primeiro”, referiu Sylvie Behillil, vice-diretora do CNR do Instituto Pasteur.
Os vírus foram cultivados de 25 a 26 de janeiro de 2020. Na manhã do dia 27 de janeiro, a cultura já tinha crescido. Um crescimento que surpreendeu os cientistas, pois referiu Sylvie Behillil: “Nós não pensamos que iria crescer tão rapidamente”. O rápido crescimento da cultura pode ser explicado pela “alta carga viral nas amostras”, mas também pela “qualidade das amostras”, acrescenta Vincent Enouf, vice-diretor do CNR do Institut Pasteur.
“Pudemos ver as células a ser danificadas e, então, agrupadas, o que pode indicar que elas foram infetadas. Mas não observamos esse efeito citopático em todas as amostras inoculadas; isso garantiu-nos que tínhamos conseguido isolar as estirpes. Um isolamento confirmado por análises adicionais”.
Virus 2019-nCoV está agora disponível para investigação
Agora que os cientistas do Instituto Pasteur têm acesso ao coronavírus 2019-nCoV, podem avançar com o estudo para conhecer melhor esta nova estirpe. Uma investigação que vai concentrar-se em quatro áreas principais.
■ Sorologia: Analisar reações antígeno-anticorpo com base nos anticorpos encontrados no soro sanguíneo dos pacientes e desenvolver um teste sorológico eficaz para rastrear a infeção na população. Um teste que os cientistas indicam não ser um teste rápido de diagnóstico para uso hospitalar, mas um teste para identificar soroconversão na população.
■ Desenvolvimento de tratamentos específicos: Testar moléculas antivirais conhecidas que atuam no ciclo de replicação de alguns vírus para avaliar seu potencial terapêutico ou mesmo profilático e procurar anticorpos que possam ter aplicações terapêuticas.
■ Vacinação: Com base no vírus, o desenvolvimento de abordagens de vacina que já foram exploradas para outros vírus, como o Ebola, MERS-CoV e SARS-CoV , com o objetivo de propor uma vacina candidata.
■ Patogénese viral: Compreender como o vírus funciona, como ele se replica e interage com a célula e o organismo hospedeiro, para obter uma imagem mais clara de sua natureza patogénica e identificar biomarcadores para infeção ou novos alvos para o desenvolvimento de tratamentos.