Impacto negativo dos incêndios vai muito para além de uma primeira análise, em que a perda da madeira da floresta é apenas uma das consequências, bem como a perda de solo fértil que as chuvas do inverno arrastam para o leito dos rios e riachos com as consequências na saúde dos leitos e das águas, a perda de fauna assume uma dimensão nem sempre devidamente avaliada e valorizada.
Paulo Russo Almeida, professor e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tem vindo a alertar para a morte, todos os anos, de milhares de colmeias, pelos incêndios diretamente, e na sua sequência devido à falta de alimentação.
A apicultura é uma atividade que, em muitos casos, é um suporte para muitas famílias que vivem nas regiões do interior do país, pelo que o investigador tem mostrado também preocupação com a falta de apoios para ajudar os apicultores das zonas afetadas na retoma da sua atividade.
Para o investigador em apicultura, Paulo Russo Almeida, “a manter-se esta vaga de incêndios, ano após ano, os apicultores começam a não ter locais para colocarem os seus apiários, para além de verem as suas colmeias a desaparecerem irremediavelmente. Os locais ardidos, nem este ano, nem no próximo, têm condições para produzirem.”
Nos meios rurais do interior os incêndios estão a destruir vastas extensões de rosmaninho, urze, torgas, chamiça, queirogas, silvas, tomilho, estevas, giestas e outras espécies arbustivas que são fundamentais para alimentação das abelhas. Uma flora que leva sempre dois ou três anos a regenerar-se, e que é importante também para a qualidade e quantidade do mel produzido.
Para além das zonas rurais, a destruição de extensões de florestas como é o caso de eucaliptais, nas regiões mais litorais, onde as abelhas procuram nesta flora a matéria-prima elementar para a produção de mel, pode configurar-se um grande golpe na sobrevivência da atividade apícola em Portugal bem como perdas de produção de outros frutos por diminuição de abelhas na atividade de polinização.
Em face do aumento de probabilidade de incêndios, o investigador da UTAD recomenda aos apicultores para “a importância de garantirem um anel de segurança, com cerca de 10 metros de largura em volta dos apiários, eliminando a matéria combustível”, e sugere ainda, quando possível, “a colocação de telas de tecido em redor das colónias que isolem o terreno impedindo o crescimento das plantas.”
“Quando se anunciam apoios oficiais para repor a floresta flagelada pelos incêndios e para as empresas que deixaram de laborar por falta de madeira”, Paulo Russo Almeida manifesta estranheza que não se fale “em apoiar também os apicultores que viram os incêndios destruírem as suas colmeias, e que precisam urgentemente de ajudas não só para reposição dos apiários mas também para alimentação das abelhas” dado que, em muitos casos, toda a flora que suporta a alimentação das abelhas foi destruída.