A imunoterapia pode ser uma opção para pelo menos um subgrupo de pacientes com cancro do pâncreas, concluiu estudo de investigadores clínicos do Sylvester Comprehensive Cancer Center in the University of Miami Miller School of Medicine.
Como publicado na revista JAMA Oncology os pacientes com mutações herdadas no gene BRCA e outras mutações semelhantes podem obter respostas completas com a imunoterapia que em alguns casos, podem ir de quase morte a recuperações duráveis.
“Esta é uma subpopulação altamente selecionada de pacientes com cancro do pâncreas que carregam mutações específicas, mais comumente no gene BRCA”, referiu Peter Hosein, do Sylvester’s Gastrointestinal Cancers Site Disease Group.
O investigador, autor sénior do estudo, acrescentou que os cancros destes pacientes “respondem à imunoterapia quando a maioria dos tumores pancreáticos não responde.”
Os tumores geralmente escapam da vigilância do sistema imunológico enviando sinais falsos, essencialmente dizendo às células imunológicas que são tecidos normais e não cancro. Algumas imunoterapias frustram esse mecanismo bloqueando esses sinais e desencadeando a resposta imune. Embora essa abordagem tenha sido eficaz em vários tipos de cancro, falha com frequência no cancro do pâncreas.
Em 2017, um paciente com cancro do pâncreas recidivado foi tratado com sucesso num no ensaio clínico ASCO TAPUR. O paciente foi selecionado por ter a mutação BRCA herdada, que levou a uma carga mutacional tumoral relativamente alta e outras alterações que tornaram as imunoterapias eficazes.
“As mutações BRCA e RAD51C tornam os tumores geneticamente instáveis, criando proteínas anormais chamadas neoantígenos que sensibilizam o sistema imunológico”, referiu o Peter Hosein. “O cancro do pâncreas geralmente é imunologicamente frio – não gera uma resposta imune. Mas essas mutações, que aparecem em cerca de 5% dos cancros pancreáticos, tornam os tumores imunologicamente mornos e mais propensos a responder a imunoterapias”.
Com base nos resultados do ensaio os investigadores procederam a um estudo com a participação de 12 pacientes com BRCA, RAD51C e mutações semelhantes, e usaram medicamentos que estavam no mercado, mas que não tinham sido aprovados para tratar o cancro do pâncreas.
Todos os pacientes do estudo foram tratados com quimioterapia e outros medicamentos, mas desenvolveram resistência. Depois de receber duas imunoterapias diferentes, com ipilimumab e nivolumab, quatro pacientes tiveram respostas completas, um teve uma resposta parcial e dois tiveram doença estável, o que é uma incrível taxa de sucesso para pacientes com cancro do pâncreas avançado e resistente ao tratamento.
Num artigo publicado pelo Sylvester Comprehensive Cancer Center é descrito que um dos pacientes de resposta completa tinha sido diagnosticado com cancro do pâncreas em julho de 2017. Durante dois anos, a doença foi controlada através de quimioterapia e com outros medicamentos. Mas no verão de 2019, seu cancro tornou-se resistente a todos os tratamentos. O que é uma ocorrência comum em tumores pancreáticos e em outros cancros.
O investigador clinico Peter Hosein referiu que foram tentados “três tipos diferentes de quimioterapias muito intensivas, mas o cancro mostrou-se completamente resistente”. Em face do estado do paciente que estava a tomar dois opióides poderosos para controlar a dor e dado que o tumor tinha uma rara mutação RAD51C, foi aplicada a imunoterapia e ao fim de duas semanas, já estava completamente sem analgésicos e os níveis de marcadores tumorais melhoraram.
Após dois anos de tratamento, o paciente não tinha doença detetável. Agora está fora do tratamento há 10 meses, sem evidência de recorrência do cancro.
“Este é um verdadeiro avanço”, disse o investigador clinico Peter Hosein, e concluiu: “Sinceramente, uma vez que o cancro desenvolve resistência, os pacientes morrem rapidamente. O cancro do pâncreas é um dos cancros mais mortais, em que a taxa de sobrevivência de cinco anos é de apenas 10%. Esta investigação encorajadora significa que podemos continuar a melhorar esses resultados para os nossos pacientes”.