Um estudo clínico coordenado pelo Instituto de Investigação para o Desenvolvimento (IRD, sigla do francês), de França, e pela Universidade de Chiang Mai, da Tailândia, envolvendo investigadores tailandeses, americanos e franceses, comprova uma nova estratégia para prevenir a transmissão do vírus da hepatite B de mãe para filho. Os resultados do estudo clínico, realizado na Tailândia, durante cinco anos, foram agora publicados no New England Journal of Medicine.
Os investigadores lembraram que “em países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos, a hepatite B é uma infeção aguda adquirida na idade adulta, e normalmente, os pacientes recuperam”. No entanto, “na Ásia, a hepatite B é mais comumente adquirida por nascimento ou na infância, e frequentemente torna-se uma doença crónica, levando a cirrose e a cancro do fígado na idade adulta”.
Na Ásia, a hepatite B afeta mais de 100 milhões de pessoas e é um importante problema de saúde pública.
Na Tailândia, mais de 2 milhões de adultos estão infetados com o vírus, ou seja, cerca de 5 vezes mais do que com o VIH. Os governos têm conseguido eliminar a transmissão do VIH e da sífilis de mãe para filho, agora também pretendem eliminar a transmissão perinatal do vírus da hepatite B.
Uma estratégia combinando eficácia e tolerância
Neste estudo, a equipa internacional liderada por Gonzague Jourdain, do IRD, envolvendo investigadores tailandeses, americanos e franceses, procurou avaliar a eficácia e tolerância de uma nova abordagem para prevenir a transmissão do vírus da hepatite B em mães com alto risco de transmissão. Devido à alta carga viral, as mães podem transmitir o vírus ao filho, apesar da vacina e de imunoglobulinas no recém-nascido.
A equipa de investigadores analisou a possibilidade de fortalecer a estratégia atual, constituída por vacina e imunoglobulinas, adicionando um antiviral à mãe, o tenofovir disoproxil fumarato, uma vez por dia, desde o início do terceiro trimestre de gravidez e até 2 meses após o parto. Com a nova estratégia os investigadores têm dois objetivos: limitar o máximo possível o número de crianças infetadas no nascimento e verificar a boa tolerância das mulheres ao tratamento.
O estudo envolveu 331 mulheres, divididas aleatoriamente em dois grupos: um grupo recebeu o novo tratamento e o outro grupo um placebo de aparência idêntica. Os resultados do estudo mostram que nenhuma criança nascida no grupo de mulheres que receberam o novo tratamento foi infetada com o vírus. Além disso, o tratamento foi muito bem tolerado pelas mães. No grupo que recebeu o placebo, apenas 2% das crianças foram infetadas, enquanto estudos anteriores, principalmente na China, relataram mais transmissões.
Objetivo eliminar a transmissão perinatal na Tailândia
Para Gonzague Jourdain, epidemiologista do IRD, que coordenou o estudo, os resultados “trazem a esperança de poder-se implementar uma estratégia simples e barata, permitindo que as mães, que estão infetadas com o vírus da hepatite B e com alta carga viral, possam limitar o risco de transmitir o vírus aos filhos, na Ásia, em geral no mundo.”