Apesar do crescente discurso social e político a favor da transição energética e da ecologização da indústria, as grandes empresas petrolíferas continuam a depender quase exclusivamente dos combustíveis fósseis para perpetuar a sua função de obtenção e concentração de energia, indica estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autónoma de Barcelona (ICTA-UAB).
O estudo realizado pelo ICTA-UAB mostra que as empresas petrolíferas continuam “incansáveis” fazendo esforços para expandir as suas operações extrativas, e não escolhem novas fontes de energia alternativas e sustentáveis, mas implantam novas tecnologias e procuram no mundo locais politicamente favoráveis para perpetuar a extração de petróleo e de gás.
Os resultados do estudo encontram-se publicados na revista científica “Energy Research & Social Science”. Os investigadores basearam-se na análise de cinquenta conflitos socioambientais causados pela indústria extrativa em todo o mundo, documentados no Atlas Global de Justiça Ambiental (EJAtlas) do ICTA-UAB.
O relatório do estudo revela os significativos custos sociais e ambientais desta atividade industrial, e como afirma Marcel Llavero-Pasquina, investigador do ICTA-UAB e primeiro autor do estudo, “o crescimento implacável da economia global e a inexorável dissipação de energia levam as empresas de petróleo e gás a expandir constantemente as suas operações nas periferias do mundo para satisfazer a procura das economias industriais”.
O investigador observa ainda que estas empresas continuam a depender do petróleo e do gás devido à sua elevada densidade energética e à facilidade de transporte e armazenamento.
A necessidade crescente de extração de recursos fósseis exige a expansão constante das fronteiras de extração e a exploração do ambiente e das comunidades locais e indígenas em áreas não industrializadas. Isto dá origem a numerosos conflitos onde as organizações locais lutam pela preservação das suas vidas, meios de subsistência e cultura, enquanto as empresas defendem os seus lucros, descreve comunicado ICTA-UAB.
“Isso fica evidente, por exemplo, nos casos de conflitos gerados pela empresa francesa TotalEnergies pela extração de combustíveis fósseis no Sul Global, onde os povos indígenas lutam contra essas atividades que são tão prejudiciais ao seu meio ambiente e modo de vida”, explica Llavero-Pasquina, e destaca que as empresas petrolíferas tornam-se assim vetores de uma opressão que liga as sociedades que desfrutam dos benefícios da energia pródiga com aquelas que sofrem os impactos da extração.
A investigação que envolveu a colaboração de investigadores do ICTA-UAB, Joan Martinez-Alier, Roberto Cantoni e Grettel Navas, indica que a análise destes conflitos socioambientais revela como os Estados ocidentais e os gigantes privados do petróleo e do gás beneficiam-se mutuamente. “No caso da TotalEnergies, vemos como as relações diplomáticas e militares francesas abrem o caminho para a extração de petróleo nas ex-colónias francesas. Provavelmente, através da diplomacia petrolífera, a empresa estende a influência pós-colonial francesa por todo o continente africano e além“.
As conclusões do estudo deixam claro que “a regulamentação ambiental governamental por si só não forçará as empresas de combustíveis fósseis a mudar o seu modelo de negócio, pelo que é necessária uma mudança política mais profunda que desafie a natureza pós-colonial e extrativa dos estados ocidentais modernos para significar o fim da era dos combustíveis fósseis“, conclui o investigador.