Continuam a ser registados intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos em grande parte da Faixa de Gaza, que vêm resultando em mais vítimas civis, deslocação da população e destruição de infraestruturas civis. Também continuam a ser relatadas operações terrestres generalizadas e combates intensos entre as forças israelitas e grupos armados palestinianos do Hamas, especialmente na cidade de Gaza, Khan Younis e Deir al Balah, como vem sendo relatado pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Entre as tardes de 19 e 20 de fevereiro, dados do Ministério da Saúde de Gaza, apontam para que terão sido mortos mais 103 palestinianos e que mais 142 terão sido feridos. Assim, e de acordo com a mesma fonte, entre 7 de outubro de 2023 e o meio-dia de 20 de fevereiro de 2024, pelo menos 29.195 palestinianos terão sido mortos em Gaza e 69.170 palestinianos terão ficado feridos. Números que poderão aumentar quando houver acesso às várias áreas que têm estado sob ataques, pois há relatos de corpos não recuperados abandonados nas estradas e sob escombros dos edifícios destruídos.
Entre as tardes de 19 e 20 de fevereiro, um soldado israelita terá morrido devido aos ferimentos sofridos nos combates em Gaza, referiram os militares israelitas. Até 20 de fevereiro, 234 soldados terão sido mortos e 1.396 soldados terão ficado feridos em Gaza desde o início da operação terrestre, de acordo com o relatado pelos militares israelitas. Além disso, mais de 1.200 israelitas e cidadãos estrangeiros terão sido mortos em Israel, por palestinianos do Hamas, segundo as autoridades israelitas, a grande maioria em 7 de outubro. Em 20 de fevereiro, as autoridades israelitas estimavam que cerca de 134 israelitas e cidadãos estrangeiros continuavam reféns em Gaza, incluíam vítimas mortais em que os corpos se encontram retidos pelo Hamas.
O Grupo Global de Nutrição relata um aumento acentuado da desnutrição entre crianças e mulheres grávidas e lactantes na Faixa de Gaza, à medida que os alimentos e a água potável se tornam cada vez mais escassos e as doenças proliferam. A situação é especialmente grave no norte de Gaza, onde se descobriu que 1 em cada 6 crianças com menos de 2 anos (15,6 por cento) que foram examinadas em abrigos e centros de saúde em janeiro estava gravemente desnutrida.
Das crianças desnutridas, quase 3 por cento sofriam de emaciação grave, a forma de desnutrição com maior risco de vida. Esta taxa de 15,6 por cento de desnutrição aguda entre crianças com menos de dois anos indica um declínio no estado nutricional de uma população sem precedentes a nível mundial em três meses, de acordo com o relatório.
Antes de 7 de outubro, apenas 0,8 por cento das crianças com menos de 5 anos em Gaza sofriam de subnutrição aguda. Em Rafah, no sul de Gaza, onde a ajuda tem sido mais disponível do que no norte, 5 por cento das crianças com menos de dois anos sofrem de subnutrição grave, o que mostra que o acesso à ajuda humanitária pode ajudar a prevenir os piores resultados.
Assim, a UNICEF, o PMA e a OMS apelam a um acesso seguro, desimpedido e sustentado para prestar urgentemente assistência humanitária multissetorial em toda a Faixa de Gaza.
De acordo o que é referido pela UNICEF, “a Faixa de Gaza está prestes a testemunhar uma explosão de mortes infantis evitáveis, o que agravaria o já insuportável nível de mortes infantis em Gaza. Há semanas que alertamos que a Faixa de Gaza está à beira de uma crise nutricional. Se o conflito não terminar agora, a nutrição das crianças continuará a cair, levando a mortes evitáveis ou a problemas de saúde que afetarão as crianças de Gaza para o resto das suas vidas e terão potenciais consequências intergeracionais.”
O Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU anunciou que está a suspender as entregas de ajuda alimentar ao norte de Gaza. Uma situação que se deve aos incidentes ocorridos em 18 e 19 de fevereiro, quando os camiões do PAM não conseguiram entregar a ajuda conforme planeado, em grande parte devido a uma rutura na ordem civil, que levou ao saque de camiões e ao espancamento de um motorista em 19 de fevereiro.
A entrega de alimentos tinha sido retomada em 18 de fevereiro, após uma suspensão de três semanas na sequência de um ataque a um camião da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) e devido à ausência de um sistema de notificação humanitária funcional. O PAM tomou com relutância a decisão de suspender as operações, reconhecendo que a situação no norte de Gaza se irá deteriorar ainda mais e que mais pessoas correm o risco de morrer de fome. O PAM afirmou que procurará retomar as entregas o mais rapidamente possível e reiterou que está empenhado em “chegar urgentemente às pessoas desesperadas em Gaza, mas a segurança para entregar ajuda alimentar crítica – e para as pessoas que a recebem – deve ser garantida.”
Entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro, os parceiros humanitários planearam 77 missões para entregar ajuda e realizar avaliações em áreas a norte de Wadi Gaza. Destes, 12 foram facilitados pelas autoridades israelitas, três foram parcialmente facilitados, 14 foram impedidas, 39 tiveram o acesso negado e nove foram adiados. As missões facilitadas envolveram principalmente a distribuição de alimentos, enquanto o acesso das missões para apoiar hospitais e instalações que prestam serviços de água, higiene e saneamento estão entre as que foram negadas.
A situação no Hospital Al Amal em Khan Younis continua crítica, após um cerco de 29 dias pelos militares israelitas. Em 19 de fevereiro, a PRCS informou que a estação de dessalinização de água na instalação já não funcionava depois de ter sido atingida pelas forças israelitas e que a água potável disponível só é suficiente para três dias. A instalação já enfrenta uma falta de reservas de combustível para gerar eletricidade para pacientes de alto risco e uma quase exaustão dos fornecimentos de alimentos e terá sofrido danos devido aos recentes bombardeamentos de artilharia.
Até 17 de fevereiro, cerca de 1,7 milhões de pessoas foram deslocadas na Faixa de Gaza, por diversas vezes, segundo a UNRWA. Após os intensos bombardeamentos e combates israelitas em Khan Younis e Deir al Balah, um número significativo de palestinianos deslocou-se para Rafah, onde o afluxo de pessoas deslocadas internamente sobrecarregou a capacidade dos serviços de saúde e de água, higiene e saneamento, para dar resposta às necessidades da população.
Uma avaliação recente dos dados de satélite realizada pela UNOSAT estima-se que mais de um milhão de deslocados internos residam atualmente em abrigos improvisados, a maioria em Rafah.
Em 20 de fevereiro, os militares israelitas emitiram uma ordem para os palestinianos em duas áreas específicas da cidade de Gaza se deslocarem para a área de Al Mawasi em Khan Younis. Desde 7 de outubro de 2023, cerca de 67 por cento da Faixa de Gaza foi colocada sob ordens de evacuação.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Continuam a ser relatados incidentes de ataques a pessoas enquanto esperam por comboios de ajuda humanitária na cidade de Gaza. No dia 19 de fevereiro, por volta das 14h00, cinco palestinianos foram alegadamente mortos e vários outros feridos, quando pessoas que se tinham reunido para uma possível entrega de ajuda humanitária na rotunda Al Kuwaiti foram alegadamente baleadas por quadricópteros das Forças de Defesa Israelitas.
No dia 18 de fevereiro, por volta das 16h00, pelo menos um palestiniano foi alegadamente morto e outros feridos, quando um grupo que aguardava ajuda humanitária na rotunda de Al Nabulsi foi atacado.
Entre os incidentes mortais relatados em 18 de fevereiro, estão os seguintes:
■ No dia 18 de fevereiro, sete palestinianos teriam sido mortos e outros feridos, quando um edifício residencial em Deir al Balah, no centro de Gaza, foi atingido.
■ No dia 18 de fevereiro, por volta das 13h00, cinco palestinianos terão sido mortos e outros ficaram feridos, quando um edifício residencial no bairro de Ash Shuja’iyeh, cidade oriental de Gaza, foi atingido.
■ No dia 18 de fevereiro, por volta das 15h30, pelo menos cinco palestinianos, incluindo três mulheres e duas raparigas, terão sido mortos e outros feridos, quando um edifício residencial em Beit Lahiya, no norte de Gaza, foi atingido.