Nos dias 27 e 28 de janeiro, não pararam os intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos por toda a Faixa de Gaza, tendo resultado em mais mortes e feridos de palestinianos civis, deslocação da população e destruição de todos os tipos de infraestruturas.
As atividades militares foram particularmente intensas em Khan Younis, com relatos de combates intensos nas proximidades dos hospitais Nasser e Al Amal, de palestinianos a fugir para a cidade de Rafah, no sul, que já está superlotada, mesmo sem qualquer passagem livre de risco de morte.
Como relatado pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, continuaram a verificar-se os lançamentos de rockets para o sul de Israel, a partir de Gaza, ao mesmo tempo continuaram-se a verificar as operações terrestres e combates entre forças israelitas e grupos armados palestinianos ligados ao Hamas, com maior intensidade em Khan Younis.
Entre as tardes de 26 e 28 de janeiro, terão sido mortos pelo menos 339 palestinianos e 600 palestinianos terão ficado feridos, como indicado pelo Ministério da Saúde de Gaza. Destes 174 palestinianos terão sido mortos em 27 de janeiro e 165 palestinianos terão sido mortos em 28 de janeiro. Dos 600 palestinianos feridos, 310 foram em 27 de janeiro e 290 em 28 de janeiro.
Entre 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 28 de janeiro de 2024, os dados disponíveis indicam que pelo menos 26.422 palestinianos foram mortos em Gaza e 65.087 palestinianos ficaram feridos.
Entre as tardes de 26 e 28 de janeiro, não terá havido qualquer vítima entre os soldados israelitas em Gaza. No entanto, de acordo com os militares israelitas terão sido mortos em Gaza, até 26 de janeiro, 218 soldados.
Em 27 de janeiro, o Comissário-Geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) alertou para a decisão de vários países doadores poderem suspender o financiamento, devido a um alegado envolvimento, indicado pelas autoridades israelitas, de alguns trabalhadores da UNRWA nos ataques no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, poderá ter consequências graves num apoio já difícil à população palestiniana civil.
Em 28 de janeiro, o Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Humanitários e Coordenador de Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, declarou: “O povo de Gaza tem suportado horrores e privações impensáveis durante meses. As suas necessidades nunca foram tão grandes – e a nossa capacidade humanitária para os ajudar nunca esteve tão ameaçada. Precisamos estar ao máximo para dar ao povo de Gaza um momento de esperança.”
Na segunda quinzena de janeiro, as diversas entidades humanitárias a atuar na Faixa de Gaza continuam a observar uma tendência nas dificuldades nas tentativas de acesso às zonas norte e centro de Gaza. Entre os fatores condicionantes estão os atrasos excessivos na chagada dos camiões de ajuda humanitária a chegar ou nos tempos gastos nos postos de controlo israelitas e o aumento da atividade militar no centro de Gaza. Como tem vindo a ser relatado as ameaças à segurança do pessoal e aos locais humanitários também são frequentes, impedindo não só a prestação de ajuda urgente, mas também colocam sérios riscos aos que estão envolvidos nos esforços humanitários.
Em 25 de janeiro, e como indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas 14 dos 36 hospitais em Gaza estavam parcialmente funcionais; sete no norte e sete no sul, em que apenas podem receber alguns novos pacientes que necessitam de cuidados de saúde e para pequenas cirurgias.
O Hospital Nasser em Khan Younis já não recebe novos pacientes e está cercado pelos militares israelitas. O Hospital Al Kheir em Khan Younis, que era um dos três únicos hospitais na Faixa de Gaza que prestava serviços de maternidade, já não está operacional. Relatos descrevem que pacientes, acabados de serem submetidos cirurgias críticas, tiveram de ser levados em fuga do hospital.
Em 26 de janeiro, Médicos Sem Fronteiras relataram que o hospital Nasser já não conseguia prestar serviços médicos vitais, deixando muitos pacientes feridos sem qualquer tratamento no meio de intensos combates e bombardeamentos a provocar muitas vítimas.
A capacidade cirúrgica do hospital Nasser é praticamente inexistente e o pequeno número de pessoal médico que permanece no hospital está a tentar gerir a situação com muitos poucos recursos, e completamente insuficientes para lidar com o grande afluxo de feridos. Entre 300 e 350 pacientes com ferimentos relacionados com a guerra permanecem no hospital, impossibilitados de evacuar devido ao perigo e à falta de ambulâncias. No dia 24 de janeiro, pelo menos um paciente morreu no hospital porque não havia ortopedista disponível.
Em 27 de janeiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS, sigla em inglês) informou que as forças israelenses continuavam a bombardear as proximidades do Hospital Al Amal e da sede da filial da PRCS em Khan Younis, colocando em risco a segurança do pessoal médico, dos feridos, dos pacientes e da população, onde se encontram aproximadamente 7.000 pessoas deslocadas internamente que ali procuraram refúgio.
A PRCS afirmou que dezenas de pessoas foram mortas e feridas no interior e nas proximidades das duas instalações, no meio de combates contínuos nas quatro semanas anteriores. O contínuo cerco às instalações está a dificultar a circulação de ambulâncias e equipas médicas de emergência na cidade e a impedir que as equipas médicas cheguem aos feridos e os transportem para o hospital para os cuidados médicos necessários.
O PRCS refutou por completo as alegações das forças israelitas sobre a presença de indivíduos armados no interior do edifício do hospital e apelou à comunidade internacional e aos parceiros do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para intervirem para proteger o hospital, as equipas médicas, os feridos, os pacientes, e os deslocados internos. Na manhã de 28 de janeiro, terão sido disparados projéteis contra as imediações do Hospital Europeu em Khan Younis, tendo-se registado vítimas.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Entre alguns dos incidentes mortais relatados em 27 e 28 de janeiro, encontram-se os seguintes:
■ No dia 28 de janeiro, por volta das 09h00, oito palestinianos terão sido mortos na cidade de Gaza depois de um edifício residencial ter sido atingido.
■ Em 26 de janeiro, pelo menos 10 palestinianos terão sido mortos e vários outros feridos, depois de um edifício residencial em Deir al Balah ter sido atingido.
■ No dia 26 de janeiro, por volta das 13h00, pelo menos seis palestinianos terão sido mortos e vários outros feridos, depois de um edifício residencial no Campo de Refugiados de An Nuseirat ter sido atingido.
■ No dia 26 de janeiro, por volta das 14h00, pelo menos três palestinianos teriam sido mortos e vários outros feridos, num ataque no leste de Rafah.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
Em 26 de janeiro, o chefe do Gabinete dos Direitos Humanos da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados disse que as pessoas deslocadas que chegaram a Rafah sobrevivem nas ruas por onde correm os esgotos em “condições de desespero que conduzem a uma completa quebra em ordem”.
Para este responsável da ONU “um aumento excessivo da violência em Rafah teria graves implicações para os mais de 1,3 milhões de palestinianos que se aglomeram na cidade. Também as fortes chuvas agravaram a situação humanitária nos acampamentos de tendas onde os palestinianos deslocados procuraram abrigo.
A UNRWA relatou que um número desconhecido de tendas de palestinianos deslocados em Rafah foram inundadas e que “milhares de famílias que dormem no chão estão agora em estado grave e incapazes de se manterem secas”.
Em 26 de janeiro, a estimativa da UNRWA apontava para que na província de Rafah mais de um milhão de pessoas estão comprimidas num espaço extremamente sobrelotado. Entretanto, intensos bombardeamentos e combates israelitas em Khan Younis e na área central da Faixa de Gaza nos últimos dias, bem como as novas ordens de evacuação dadas pelos militares israelitas, estão a aumentar os deslocadas mais para sul.