Em duas missões consideradas de alto risco, no meio de hostilidades continuas e de restrições de acesso, a Organização Mundial da Saúde, conduziu a retirada de 32 pacientes críticos do Hospital Nasser, no sul de Gaza, com a operacionalidade da Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS, sigla em inglês) e do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês).
As equipas de missão também conseguiram fornecer alguns, mas limitados, medicamentos essenciais e alimentos aos restantes pacientes e funcionários que permanecem no Hospital, que outra forma ficariam sem qualquer ajuda.
A OMS refere que foram usadas quatro ambulâncias da PRCS para o transporte seguro dos pacientes. Os pacientes foram submetidos a uma avaliação médica e triagem sob a coordenação da diretora do Hospital.
Os pacientes foram transferidos para o Hospital Europeu de Gaza em Khan Younis, o Hospital Al-Aqsa, na área central de Gaza, e os Hospitais de campanha do Corpo Médico Internacional, dos Emirados Árabes Unidos e da Indonésia, em Rafah.
A transferência de pacientes foi solicitada pela equipa do Hospital Nasser depois das instalações terem deixado de funcionar após um ataque militar em 14 de fevereiro, que ocorreu depois de um cerco militar de uma semana.
Os pacientes fracos e frágeis foram transferidos enquanto decorriam conflitos ativos perto do comboio das ambulâncias de ajuda. As condições das estradas dificultaram a rápida circulação das ambulâncias, colocando a saúde dos pacientes em risco ainda maior, descreveu a OMS.
Os pacientes transferidos durante as missões incluíam três que sofriam de paralisia – dois deles com traqueostomia – e vários outros com fixadores externos para lesões ortopédicas graves. Dois dos pacientes paralisados necessitaram de ventilação manual contínua durante toda a viagem, devido à falta de ventiladores portáteis. Um paciente com fratura na coluna vertebral, que anteriormente tinha sido encaminhado pela OMS para o Hospital Nasser, durante uma missão ao Hospital Al-Ahli, no norte de Gaza, teve agora de ser novamente transferido, apesar do seu estado.
O Hospital Nasser não possui eletricidade nem água corrente, e os resíduos médicos e o lixo estão a criar um terreno fértil para doenças. A equipa da OMS disse que a destruição ao redor do hospital era “indescritível”. A área estava cercada por edifícios queimados e destruídos, pesadas camadas de escombros, sem qualquer trecho de estrada intacto.
Estima-se que 130 pacientes doentes e feridos e pelo menos 15 médicos e enfermeiros permaneçam no hospital. Como a UCI já não está a funcionar, a equipa da OMS transferiu o único paciente remanescente na UCI para uma parte diferente do complexo hospitalar, onde outros pacientes estão a receber cuidados básicos.
A OMS indica que teme pela segurança e pelo bem-estar dos pacientes e profissionais de saúde que permanecem no Hospital Nasser e alerta que novas interrupções nos cuidados vitais aos doentes e feridos levará a mais mortes. Estão em curso esforços para facilitar novos encaminhamentos de pacientes no meio das hostilidades em curso.
Antes destas duas missões, a OMS refere que antes não tinha sido autorizada no acesso ao Hospital para avaliação médica, o que causou atrasos no encaminhamento urgente de pacientes, o que levou, alegadamente, a que pelo menos cinco pacientes tenham morrido na Unidade de Cuidados Intensivos antes que qualquer missão ou transferência fosse possível.
Em 17 de fevereiro, uma missão liderada pela UNRWA, que incluía funcionários da OMS, entregou 24.000 litros de combustível e limitado fornecimento de alimentos e água ao hospital, depois de não ter conseguido chegar ao hospital em 16 de fevereiro devido às más condições das estradas, incluindo uma profundo vala lamacenta e intransitável a 50 metros do hospital.
Naquele dia, apesar dos riscos, funcionários da OMS, acompanhados por um engenheiro, conseguiram chegar a pé ao Complexo Médico Nasser. No entanto, só lhes foi permitido examinar o gerador, que tinha deixado de funcionar após ter ficar sem combustível. Durante ambas as missões, funcionários seniores da OMS identificaram-se claramente ao entrar no complexo hospitalar e solicitaram aprovação para avaliar os pacientes e avaliar a funcionalidade do hospital. Esses pedidos foram negados.
À medida que os ataques continuam, qualquer dano adicional ao Complexo Médico Nasser significará ainda mais atrasos no restauro da funcionalidade. O grande armazém médico do hospital, juntamente com os suprimentos fornecidos pela OMS e pelos parceiros, foi incendiado e o armazém para suprimentos médicos de uso diário foi parcialmente danificado. O centro de reconstrução de membros apoiado pela OMS, instalado no hospital, já não está operacional. Para a OMS estes são desenvolvimentos trágicos que limitarão ainda mais o acesso aos cuidados de saúde num contexto em que as necessidades continuam a aumentar.
O desmantelamento e degradação do Complexo Médico Nasser é um duro golpe para o sistema de saúde de Gaza. As instalações no sul já estão a funcionar muito além da capacidade máxima e mal conseguem receber mais pacientes.
A OMS reitera os seus apelos à proteção dos pacientes, dos profissionais de saúde, das infraestruturas de saúde e dos civis. Os hospitais não devem ser militarizados, mal utilizados ou atacados.
A OMS reitera o seu apelo a todas as partes para que respeitem o direito humanitário internacional e os princípios da precaução, distinção e proporcionalidade, e para que garantam o acesso sustentado para que os hospitais possam continuar a prestar cuidados vitais.