No dia 26 de janeiro continuaram os intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos sobre a maior parte da Faixa de Gaza, que provocaram mais vítimas civis, deslocação da população e destruição. Foram relatados lançamentos de rockets a partir de Gaza para o sul de Israel. Também continuaram as operações terrestres israelitas com combates com grupos armados palestinianos, por todo o território. Todas as atividades militares foram particularmente intensas em Khan Younis, onde se verificaram intensos combates. Destes e de outros eventos deu-nos conta o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Entre as tardes de 25 e 26 de janeiro, dados do Ministério da Saúde de Gaza indicam que terão sido mortos 183 palestinianos e que 377 palestinianos ficaram feridos. No total, de 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 26 de janeiro de 2024, pelo menos 26.083 palestinianos foram mortos em Gaza e 64.487 ficaram feridos.
Entre as tardes de 25 e 26 de Janeiro, de acordo com os militares israelitas, um soldado israelita terá sido morto em Gaza. Assim, e de acordo com a mesma fonte, até 26 de janeiro, 218 soldados terão sido mortos e 1.269 soldados terão ficada feridos em Gaza.
Nos dias 25 e 26 de janeiro, manifestantes israelitas bloquearam o acesso de camiões de ajuda a Gaza através da passagem de Kerem Shalom. Esses caminhões continham farinha, alimentos, itens de higiene, tendas e outros produtos não alimentares. Os camiões não conseguiram chegar a Gaza. Com este impedimento, a agência das Nações Unidas indica que a incapacidade de fornecer alimentos, água e ajuda médica irá agravar a já terrível situação humanitária dos que necessitam de assistência.
Na segunda quinzena de janeiro, as entidades humanitárias que atuam no terreno continuam a observar cada vez maior impossibilidade de aceder às zonas norte e centro da Faixa de Gaza. Das razões fazem parte atrasos excessivos nos comboios de camiões de ajuda humanitária, sobretudo nos postos de controlo, e o aumento da atividade militar na zona central da Faixa de Gaza. As muitas ameaças à segurança do pessoal e aos locais humanitários, não só dificultam a prestação de ajuda urgente e que salva vidas, mas também colocam sérios riscos para as vidas das pessoas envolvidas nos esforços humanitários.
Em 25 de janeiro, segundo a Organização Mundial da saúde (OMS), 14 dos 36 hospitais em Gaza estavam apenas parcialmente funcionais; sete no norte e sete no sul. A “Funcionalidade parcial” indica que um hospital é acessível apenas a pessoas que necessitam de cuidados de saúde; pode admitir alguns novos pacientes e realizar algum nível de cirurgia.
O Hospital Nasser em Khan Younis está em “funcionamento mínimo”. Está cercado pelos militares israelenses e enfrenta intensos combates, pelo que já não consegue receber pacientes ou suprimentos. Em 24 de janeiro, o Ministério da Saúde de Gaza informou que o Hospital Nasser estava sitiado e que ninguém conseguia entrar ou sair das instalações devido aos bombardeamentos contínuos nas proximidades. As autoridades israelitas refutam esta afirmação, alegando que estão a facilitar o acesso.
Como tem vindo a ser relatado o pessoal de saúde tem cavado sepulturas nas instalações do hospital devido ao grande número de mortes previstas das hostilidades e à necessidade de gerir os enterros.
O Hospital Al Kheir em Khan Younis, que foi anteriormente designado como “minimamente funcional”, e um dos três únicos na Faixa de Gaza que presta serviços de maternidade, já não está operacional, com relatos de pacientes, que acabaram de ser submetidos a operações críticas, a abandonar à pressa as instalações.
Em 26 de janeiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS, na signa inglesa) informou que as forças israelitas continuam a sitiar a sua sede de ambulâncias e o Hospital Al Amal, nas proximidades, em Khan Younis, restringindo todos os movimentos na área. As autoridades israelitas refutam esta afirmação, alegando que estão a facilitar o acesso.
No mesmo dia 26 de janeiro, a PRCS relatou que o edifício do hospital sofreu danos e que fragmentos de bombardeios de artilharia se encontram espalhados no interior devido a um ataque relatado nas proximidades do hospital.
Em 24 de janeiro, a entrada da sede do PRCS foi atingida, tendo morto pelo menos três palestinianos: em 23 de Janeiro, outro palestiniano terá sido morto à entrada do hospital devido a bombardeamentos no meio de intensos combates em torno do hospital. Tem sido relatado que o PRCS foi forçado a pedir aos deslocados internos que se abrigavam no complexo para doarem sangue, uma vez que o pessoal não tem acesso aos bancos de sangue para tratar os feridos.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) informou que entre 3 e 24 de janeiro, mais de 13.700 crianças foram vacinadas contra doenças como o sarampo, a papeira e a rubéola, entre outras, tendo as vacinas sido fornecidas pela UNICEF. No entanto, apenas 4 dos 22 centros de saúde da UNRWA ainda estão a funcionar. Os bombardeamentos contínuos e as restrições de acesso impedem a prestação de serviços de saúde.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Entre os incidentes mortais relatados, em 25 e 26 de janeiro, estão os seguintes:
■ No dia 25 de janeiro, à tarde, 11 cadáveres de deslocados palestinos, que se pensava terem sido deslocados de Jabalya, tinham sido, alegadamente, recuperados debaixo dos escombros, em Al Maghazi, Deir al Balah. Outros 26 deslocados internos ainda permanecem sob os escombros.
■ No dia 25 de janeiro, por volta das 20h00, três palestinianos, incluindo uma criança, terão sido mortos e vários outros ficaram feridos, depois de um edifício residencial em Deir al Balah ter sido atingido.
■ No dia 25 de janeiro, por volta das 20h00, 11 palestinianos, entre eles um jornalista e crianças terão sido mortos, depois de um edifício residencial em Deir al Balah ter sido atingido.
■ No dia 25 de janeiro, por volta das 12h00, dois palestinianos teriam sido mortos e vários outros feridos, num ataque em Al Bureij, Deir al Balah.
■ No dia 25 de Janeiro, por volta das 15h00, três palestinianos terão sido mortos e vários outros feridos num ataque em Al-Dahra, Khan Younis.
■ Em 25 de janeiro, dois irmãos palestinianos, um dos quais era uma criança, foram baleados e mortos com munições reais quanto saíam da sua casa no bairro de Al Amal, na parte ocidental de Khan Younis, na sequência da ordem de evacuação emitida pelos militares israelitas. A criança teria sido baleada três vezes enquanto carregava uma bandeira branca, e o seu irmão foi baleado quanto tentava resgatá-lo.
■ Em 25 de janeiro, por volta das 16h25, as forças israelenses teriam detonado um bairro residencial inteiro na área de Al-Nimsawi, em Khan Younis. Nenhuma vítima foi relatada.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
A 26 de janeiro, Ajith Sunghay, Chefe do Gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas ( ACNUDH ) para o Território Palestiniano Ocupado, disse que as pessoas deslocadas que chegaram a Rafah estão a sobreviver nas ruas, por onde correm os esgotos, onde as “condições de desespero são propícias para uma quebra completa da ordem”. O aumento excessivo da violência em Rafah poderá ter implicações graves para mais de 1,3 milhões de pessoas, que aí se encontram amontoadas.
Em 26 de Janeiro, a UNRWA indicou que havia cerca de 1,7 milhões de deslocados internos em Gaza. Muitos deles foram deslocados diversas vezes, pois as famílias foram forçadas a mudar-se repetidamente na procura de segurança. Devido aos contínuos combates e às ordens de evacuação, algumas famílias afastaram-se dos abrigos onde foram inicialmente registadas. A província de Rafah é onde mais de um milhão de pessoas estão comprimidas num espaço extremamente sobrelotado. Após os intensos bombardeamentos e combates israelitas em Khan Younis e na área central da Faixa de Gaza nos últimos dias, bem como as novas ordens de evacuação militar israelita, um número significativo de pessoas deslocadas deslocou-se para sul.