O relato diário do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa) descreve que no dia 9 de janeiro os intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos continuaram em grande parte da Faixa de Gaza, particularmente nas províncias de Deir al Balah e Khan Younis. Uma ofensiva que continua a resultar na morte e em ferimentos em muitas pessoas e com consequências devastadoras para dezenas de milhares de civis, muitos dos quais já tinham fugido em busca de segurança da cidade de Gaza e do norte para o centro e sul de Gaza.
Também no dia 9 de janeiro continuou o lançamento de rockets por grupos armados palestinianos contra Israel, e foram relatadas operações terrestres e combates entre as forças israelitas e grupos armados palestinianos em grande parte da Faixa em Gaza, particularmente nas províncias de Deir al Balah e Khan Younis, tendo resultado em mais vítimas.
Entre as tardes de 8 e 9 de Janeiro, o Ministério da Saúde de Gaza, indicou que 126 palestinianos terão sido mortos e outras 241 pessoas terão ficado feridas. No total, entre 7 de outubro e as 12h00 de 9 de janeiro, pelo menos 23.210 palestinianos foram mortos em Gaza e 59.167 palestinianos ficaram feridos.
Desde 8 de janeiro e até 9 de janeiro, nove soldados israelitas foram mortos em Gaza, segundo as autoridades israelitas, e desde o início da operação terrestre, 183 soldados foram mortos e 1.065 soldados ficaram feridos em Gaza.
As agências humanitárias relatam que as recusas de pedidos de movimentos coordenados estão a inibir criticamente uma resposta urgente. Em 8 de janeiro, uma missão planeada pelo OCHA e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para entregar material médico urgente à Farmácia Central na cidade de Gaza e ao Hospital Al Awda em Jabalya, bem como missões planeadas para fornecer combustível vital às instalações de água e saneamento na cidade de Gaza e no norte, foram negados pelas autoridades israelitas.
Verificou-se a quinta recusa de uma missão ao Hospital Al Awda em Jabalya e à Farmácia Central na cidade de Gaza desde 26 de dezembro, deixando cinco hospitais no norte de Gaza sem acesso a material e equipamento médico vital. Ao mesmo tempo, a recusa contínua do fornecimento de combustível às instalações de água e saneamento está a deixar dezenas de milhares de pessoas sem acesso a água potável e a aumentar o risco de transbordamentos de esgotos, aumentando significativamente o risco de propagação de doenças transmissíveis.
No dia 9 de Janeiro, 131 camiões com abastecimentos entraram na Faixa de Gaza através das passagens de Rafah e Kerem Shalom.
Na manhã de 8 de janeiro, uma bomba penetrou na parede de um abrigo em Khan Younis que abrigava mais de 100 funcionários de Médicos Sem Fronteiras (MSF) e suas famílias. Quatro pessoas ficaram feridas, incluindo um filho de cinco anos de um dos funcionários, que posteriormente morreu devido aos ferimentos. De acordo com MSF, o projétil não detonou com o impacto, caso contrário, provavelmente teriam ocorrido mais mortes. Quatro funcionários de MSF foram mortos desde 7 de outubro em Gaza, além de vários familiares. Expressando a sua indignação pela morte, MSF afirmou “que não importa onde esteja em Gaza, nenhum lugar é seguro” e reiterou um apelo a um cessar-fogo imediato e sustentado.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Alguns dos incidentes mais mortais relatados entre 8 e 9 de janeiro:
■ Em 8 de janeiro, por volta das 15h30, quatro pessoas teriam morrido e dezenas ficaram feridas quando foi atingida uma casa a noroeste de Deir Al Balah.
■ No dia 8 de janeiro, durante a noite, oito pessoas teriam sido baleadas e mortas no campo An Nuseirat, Deir al Balah.
■ No dia 8 de janeiro, por volta das 18h30, 12 pessoas teriam sido mortas e 40 feridas, quando foi atingida uma casa a oeste do campo An Nuseirat.
■ No dia 9 de janeiro, por volta das 10h15, 10 pessoas teriam morrido quando foi atingido um carro no acampamento An Nuseirat.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
No final de 2023, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sigla inglesa), estimava-se que 1,9 milhões de pessoas, ou quase 85% da população total de Gaza, estavam deslocadas internamente, incluindo muitas que foram deslocadas várias vezes, uma vez que as famílias são forçadas a mudar-se repetidamente em busca de segurança.
Quase 1,4 milhões de pessoas deslocadas internamente estão abrigadas em 155 instalações da UNRWA em todas as cinco províncias; as instalações excedem em muito a capacidade pretendida. A província de Rafah tem sido durante algum tempo o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas.
Desde 7 de outubro, foram comunicados cerca de 220 incidentes que afetaram as instalações da UNRWA e as pessoas no seu interior (alguns com múltiplos incidentes que afetaram o mesmo local), incluindo pelo menos 23 incidentes de utilização militar e/ou interferência nas instalações da UNRWA. Isto inclui 63 ataques diretos a instalações da UNRWA e 69 instalações diferentes da UNRWA que sofreram danos quando um objeto próximo foi atingido. No total, pelo menos 319 deslocados internos que estavam em abrigos da UNRWA foram mortos e pelo menos outros 1.135 ficaram feridos desde 7 de outubro.