Com as infraestruturas na Faixa de Gaza praticamente todas destruídas e com mais dezenas de milhares de mortos e feridos, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa) descreve que em 15 de janeiro continuaram, sobre o território, intensos bombardeamentos aéreos, terrestres e marítimos israelitas, e operações militares terrestres, incluindo combates com grupos armados palestinianos. O relato indica que também continuaram a ocorrer lançamentos de rockets por grupos armados palestinianos contra Israel.
Entre as tardes de 14 e 15 de Janeiro, o Ministério da Saúde de Gaza, indicou que terão sido mortos mais 132 palestinianos e mais 252 pessoas feridas. Assim, o total de vítimas das hostilidades entre 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 15 de janeiro de 2024, será de pelo menos 24.100 palestinianos foram mortos e de 60.834 palestinianos ficaram feridos. Além disso haverá um número indeterminado de palestinianos desaparecidos e sob os escombros das habitações ainda não resgatados após os bombardeamentos.
Entre 14 e 15 de janeiro, não houve relato de soldados israelitas mortos em Gaza. De acordo com os militares israelitas desde o início da operação terrestre, 186 soldados terão sido mortos e 1.113 soldados terão ficado feridos em Gaza.
A 15 de janeiro, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou: “A longa sombra da fome persegue o povo de Gaza – juntamente com doenças, subnutrição e outras ameaças à saúde. Estou profundamente preocupado com a clara violação do direito humanitário internacional que estamos a testemunhar… Uma operação de ajuda eficaz em Gaza – ou em qualquer outro lugar – requer certos princípios básicos. Requer segurança. Requer um ambiente onde os funcionários possam trabalhar em segurança. Requer a logística necessária e a retomada da atividade comercial.”
Nas primeiras duas semanas de janeiro, apenas 24%, ou seja, 7 das 29 missões planeadas para entregar alimentos, medicamentos, água e outros fornecimentos vitais chegaram com sucesso aos seus destinos a norte do rio Gaza. As missões não autorizadas pelas forças israelitas não permitiram a entrega de combustível e medicamentos a norte do rio Gaza. Assim, cerca de 95%, ou 18 em 19 das missões a envolver a atribuição de combustível e medicamentos a reservatórios de água, poços de água e instalações de saúde no norte do rio Gaza não foram autorizadas pelas autoridades israelitas.
O OCHA lembra que a falta de combustível para água, saneamento e higiene aumenta os riscos de saúde e ambientais, e que a falta de medicamentos debilitou a funcionalidade dos seis hospitais parcialmente funcionais.
Das missões que planeadas não puderam prosseguir, por imposição das forças de Israel, estão: cinco missões planeadas à Farmácia Central, quatro missões planeadas ao Centro de Saúde de Jabalia e oito missões planeadas a quatro reservatórios críticos e bombas de água e resíduos.
Desde a escalada das hostilidades, as missões humanitárias relataram dois casos em que membros do comboio de camiões foram detidos pelas forças israelitas e dois casos de ataques a camiões. Além disso, a relutância das autoridades israelitas em abrir as principais rotas de abastecimento e facilitar a passagem atempada através do posto de controlo controlado pelos militares israelitas expôs os intervenientes humanitários a riscos de segurança. Além disso, a capacidade das agências humanitárias para operarem de forma segura e eficaz continua fortemente comprometida pelas restrições aplicadas pelas autoridades israelitas à importação de equipamento humanitário crítico.
Em 15 de janeiro, apenas uma das três condutas de água de Israel estava em funcionamento. A conduta de água da Zona Média, com capacidade de produção próxima de 17 mil metros cúbicos de água por dia, necessita urgentemente de reparações. Os serviços públicos de água, higiene e saneamento estimaram que as reparações poderão levar até quatro semanas se houver acesso seguro e os meios necessários.
Desde 15 de janeiro, os serviços de telecomunicações em Gaza continuaram inoperativos pelo terceiro dia consecutivo, desde 12 de janeiro. Esta é a sétima vez que as comunicações param de funcionar desde 7 de outubro. O OCHA lembra que a ausência de telecomunicações priva as pessoas do acesso a informações que salvam vidas, ao mesmo tempo que é prejudicial para o funcionamento dos socorristas e de outros intervenientes humanitários.
Em 13 de Janeiro, um veículo de uma empresa de telecomunicações terá sido atingido no centro de Khan Younis, quando a tripulação estava numa missão de reparação e que tinha sido coordenada a sua segurança com antecedência com as forças israelitas. No ataque dois funcionários das reparações terão sido mortos.
No dia 15 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o Complexo Médico Nasser atendeu 700 pacientes, o dobro da sua capacidade normal, mas com os pacientes a receberem tratamento no chão. O hospital continua a receber um grande volume de casos de traumas e queimaduras, e com a Unidade de Cuidados Intensivos e a unidade de queimados lutam com falta de pessoal, que atrasa o tratamento que poderia salva vidas. Estima-se que cerca de 7.000 pessoas estão abrigadas nas dependências do hospital. Entretanto a intensificação das hostilidades nas proximidades do hospital está a obstruir o acesso dos pacientes e dos profissionais de saúde, e assim, a colocar em perigo as suas vidas e a prejudicar ainda mais a funcionalidade do hospital.
Em 15 de janeiro, os dirigentes do Programa Alimentar Mundial (PAM), da UNICEF e da OMS divulgaram uma declaração conjunta apelando à abertura de novas rotas de entrada, permitindo mais controlos diários nas fronteiras de mercadorias, aliviando as restrições à circulação de trabalhadores humanitários e garantindo a segurança das pessoas que acedem e distribuição de ajuda. A assistência humanitária em Gaza é limitada pelo encerramento de todas as passagens fronteiriças, exceto duas, no sul (Rafah e Kerem Shalom) e pelo processo de verificação multifacetado dos produtos transportados para Gaza.
A 15 de janeiro, o Diretor Executivo do PAM afirmou que “as pessoas em Gaza correm o risco de morrer de fome a poucos quilómetros de camiões cheios de alimentos. Cada hora perdida coloca inúmeras vidas em risco. Podemos manter a fome sob controlo, mas apenas se pudermos fornecer suprimentos suficientes e ter acesso seguro a todos os necessitados, onde quer que estejam”. O último relatório de Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar e Nutricional confirma que toda a população de Gaza, 2,2 milhões de pessoas, está em crise ou nos piores níveis de insegurança alimentar aguda.
No dia 15 de janeiro, o Diretor Executivo da UNICEF afirmou: “As crianças com elevado risco de morrer de subnutrição e doenças necessitam desesperadamente de tratamento médico, água potável e serviços de saneamento, mas as condições no terreno não nos permitem chegar com segurança às crianças e famílias. Alguns dos materiais de que necessitamos desesperadamente para reparar e aumentar o abastecimento de água continuam impedidos de entrar em Gaza. A vida das crianças e das suas famílias está em jogo. Cada minuto conta.”
A UNICEF prevê que a desnutrição infantil, a forma de subnutrição com maior risco de vida, poderá afetar 10.000 crianças nas próximas semanas. Além disso, a UNICEF alertou que as crianças no sul de Gaza têm acesso a apenas 1,5 a 2 litros de água por dia, muito abaixo dos requisitos recomendados para a sobrevivência. De acordo com os padrões humanitários, a quantidade mínima de água necessária numa emergência é de 15 litros, o que inclui água para beber, lavar e cozinhar. Apenas para sobrevivência, o mínimo estimado é de 3 litros por dia.
Em 15 de janeiro de 2024, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sigla inglesa) anunciou que, em 12 de janeiro, o número total de funcionários da UNRWA mortos desde o início das hostilidades aumentou de quatro, para 150. Além disso, foram relatados 232 incidentes que afetaram as instalações da UNRWA e as pessoas dentro delas.
Desde 7 de outubro (alguns com múltiplos incidentes que afetaram o mesmo local), incluindo pelo menos 23 incidentes de utilização militar de instalações da UNRWA. Um total de 66 instalações da UNRWA foram atingidas diretamente e 69 instalações diferentes sofreram danos causados por impactos em objetos adjacentes.
No dia 13 de janeiro, 108 camiões com alimentos, medicamentos e outros fornecimentos entraram na Faixa de Gaza através da passagem de Rafah. Desde a abertura da passagem de Kerem Shalom, quase 20% dos camiões de ajuda passaram por esse ponto de entrada.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
■ Devido ao corte de comunicações, as informações sobre ataques fatais são limitadas e não é possível compilar atualmente uma lista dos incidentes mais mortíferos ocorridos em 14 e 15 de janeiro de 2024.
■ Durante o período em análise, as forças israelitas teriam realizado sucessivos ataques aéreos numa praça com dez edifícios residenciais, no sudeste de Khan Younis. As vítimas ainda não foram confirmadas.
■ No dia 14 de janeiro, por volta das 15h00, um palestiniano teria sido morto e outros ficaram feridos, quando um veículo foi atingido na entrada da Escola Khaled Bin Walid, em An Nuseirat, Deir al Balah.
■ No dia 14 de janeiro, por volta do meio-dia, dois palestinos teriam sido mortos quando o grupo de pessoas do qual faziam parte foi atingido enquanto tentavam manter a funcionar a linha de esgoto da escola Al Khansaa em Abasan, a leste de Khan Yunis.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
Em 12 de Janeiro, a UNRWA informou que o número médio de pessoas deslocadas internamente nos abrigos da UNRWA a sul do rio Gaza era superior a 12.000 por abrigo. Isto é mais de quatro vezes a sua capacidade.
Em 11 de janeiro, segundo a UNRWA, foi estimado que 1,9 milhões de pessoas, ou quase 85% da população de Gaza, estavam deslocadas internamente, incluindo muitas que foram deslocadas múltiplas vezes, uma vez que as famílias são forçadas a deslocar-se repetidamente em busca de segurança. Quase 1,4 milhões de deslocados internos estão abrigados em 154 instalações da UNRWA em todas as cinco províncias, incluindo 160 mil no norte e na cidade de Gaza; as instalações excedem em muito a capacidade pretendida.
Um total de 1,78 milhões de deslocados internos estão a receber assistência da UNRWA. A província de Rafah é o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas.