O Ministério da Cultura (MC) lembra Gabriela Cerqueira, prestando-lhe homenagem pelo modo como se dedicou à causa pública e à cultura portuguesa, através de um percurso que conciliou diferentes disciplinas, como as de direção de produção cultural em entidades como o Teatro Camões.
Gabriela Cerqueira, em 1979, ocupou o cargo de adjunta no gabinete do Secretário de Estado da Cultura, Helder Macedo, integrando o V Governo Provisório, liderado por Maria de Lurdes Pintassilgo, em que era Ministro da Coordenação Cultural e da Cultura e Ciência, Adérito Seda Nunes.
No terreno, junto das equipas artísticas do cinema, das artes performativas ou das artes visuais, Gabriela Cerqueira desenhou um percurso sempre ligado à produção, programação e gestão cultural desde o período pós-revolucionário até aos grandes eventos que marcaram a história cultural do país.
De espírito vivo, sagaz e muito pragmático, Gabriela Cerqueira soube sempre reunir à sua volta as pessoas e as condições que melhor pudessem responder aos desafios que realizadores lhe solicitavam, descreve nota do MC. Do seu percurso ficam filmes assinados por Fernando Lopes, Joaquim Leitão, José Álvaro de Morais, José Fonseca e Costa, José Nascimento, Maria de Medeiros ou Teresa Villaverde, com quem fundou a produtora Mutantes, que fazem a história do cinema português como ‘O fio do Horizonte’, ‘O Bobo’ (Leão de Ouro, Festival de Locarno, 1997), ‘Os Mutantes’, ‘Três Irmãos’ (Melhor atriz, Maria de Medeiros, Festival de Veneza, 1993), ‘Sem Sombra de Pecado’, ou ainda assinados por Raul Ruiz (Les trois couronnes du matelot, Prémio Perspetives du Cinema, Festival de Cannes, 1983) e ‘Samuel Fuller’ (Rua sem regresso, 1989).
O MC indica que percurso de Gabriela Cerqueira no cinema “cruzou-se com diferentes gerações e, ocupando várias funções na área da produção, incutia nas equipas um espírito de comunidade que lhe foi sempre reconhecido. Esse percurso cruzou-se ainda com a história do país, através dos filmes que ajudou a concretizar através da cooperativa Cinequipa, entre eles Pela Razão Que Têm (1976), de José Nascimento sobre a reforma agrária e O Meu Nome É… (1978), de Fernando Matos Silva, sobre o processo de combate ao fascismo. Já antes, entre 1974 e 1976, a direção de produção do programa O Meu Nome é Mulher, das jornalistas Maria Antónia Palla, Maria Antónia Fiadeiro e Teresa de Sousa, transmitido na RTP, havia marcado um país que se via a si mesmo nas suas contradições e na sua resiliência.”
Gabriela Cerqueira foi agraciada com a comenda da Ordem de Mérito pelo Presidente Jorge Sampaio em 1998, lembrou o MC, uma mulher de cultura que “pertencia, como muitos, ao vastíssimo grupo de profissionais que, na sombra, permitem que possamos ter como referência filmes, projetos e espetáculos.”
“A estreia na encenação do pintor João Vieira (Traições, de Harold Pinter, 1984), o processo que levou a que a companhia de Pina Bausch pudesse dedicar a Lisboa um dos seus mais solares espetáculos, Masurca Fogo, ou a única estreia portuguesa de um espetáculo de Robert Wilson, O Corvo Branco (a partir de libreto de Luisa Costa Gomes e composição de Philip Glass), ambos em 1998, quando dirigiu o Teatro Camões como diretora de produção, são exemplos maiores de um percurso que ajudou a formar espectadores e profissionais da cultura”, lembrou o MC.
Um percurso cheio da atividades e de vivências que levou Gabriela Cerqueira dirigir o “Festival dos 100 dias (1996-1998), catalisador de uma programação-modelo na cidade de Lisboa, ou suas passagens pelo Instituto das Artes (2004-2006), onde dirigiu o departamento de apoio à criação e difusão do organismo que surgiu da fusão do Instituto Português das Artes e do Espetáculo e do Instituto de Arte Contemporânea, ou pelo Centro Cultural de Belém, primeiro como adjunta da direção (2006-2012) e depois como consultora para a programação (2012-2013), onde fundamentou a presença portuguesa na Rede Próspero, permitiriam imprimir um dinamismo no apoio a uma geração de artistas, muitos deles emergentes nas áreas do teatro, da dança e da música.”
“Nos bastidores de um setor que viu evoluir, Gabriela Cerqueira tornou-se uma figura presente e testemunha de uma história que ajudou a mudar”, referiu o MC.
No momento da morte de Gabriela Cerqueira, aos 75 anos, “o Ministro e o Secretário de Estado da Cultura juntam-se, pessoal e institucionalmente, ao luto dos muitos amigos e profissionais da cultura” que colaboraram com a mulher de cultura, “enviando à família as mais sentidas condolências.”