Estudo preliminar que envolveu pacientes de COVID-19 com doença leve a moderada que estavam a recuperar em casa, mostrou que o tratamento com o medicamento fluvoxamina pode prevenir algumas das complicações mais sérias da doença que levam à hospitalização e à necessidade de oxigénio suplementar.
O estudo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, EUA, envolveu 152 pacientes infetados com SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19. Os investigadores compararam os resultados dos pacientes tratados com fluvoxamina com os pacientes que receberam um placebo inativo. Após 15 dias, nenhum dos 80 pacientes que receberam o medicamento apresentou deterioração clínica grave. Enquanto isso, seis dos 72 pacientes que receberam placebo, ou seja, 8,3%, ficaram gravemente doentes, tendo quatro necessitado de hospitalização.
O estudo publicado hoje, 12 de novembro, no Journal of the American Medical Association, mostra que “os pacientes que tomaram fluvoxamina não desenvolveram dificuldades respiratórias graves ou nem necessitaram de hospitalização por problemas com a função pulmonar”, referiu o primeiro autor do artigo, Eric J. Lenze.
“A maioria dos tratamentos experimentais para a COVID-19 tem como alvo os pacientes em estado mais grave, mas também é importante encontrar terapias que evitem que os pacientes fiquem ainda mais doentes que necessitem de oxigénio suplementar ou de ir ao hospital. O nosso estudo sugere que a fluvoxamina pode ajudar a preencher esse nicho”.
A fluvoxamina é vulgarmente usada para tratar o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade social e depressão. Um fármaco que está numa classe de medicamentos conhecidos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs), mas ao contrário de outros SSRIs, a fluvoxamina interage fortemente com uma proteína chamada recetor sigma-1. Esse recetor também ajuda a regular a resposta inflamatória do corpo.
“Existem vários processos de funcionamento do medicamento que podem ajudar os pacientes de COVID-19, mas achamos que provavelmente pode interagir com o recetor sigma-1 para reduzir a produção de moléculas inflamatórias”, referiu a autora sénior do estudo Angela M Reiersen. “Investigações anteriores demonstraram que a fluvoxamina pode reduzir a inflamação de septicemia em modelos animais e pode estar a fazer algo semelhante nos nossos pacientes”.
Angela M Reiersen disse que os efeitos da fluvoxamina sobre a inflamação podem impedir o sistema imunológico de desenvolver uma resposta avassaladora, que se acredita ocorrer em alguns pacientes com COVID-19. Os doentes parecem melhorar mas após alguns dias de doença pioraram, e muitos desses pacientes acabam hospitalizados e alguns morrem.
“O nosso objetivo é ajudar os pacientes que estão inicialmente bem para que permaneçam em casa e evitem ficarem mais doentes que necessitem de serem hospitalizados”, disse Caline Mattar, médica, professora assistente de medicina na Divisão de Doenças Infeciosas. “O que vimos até agora sugere que a fluvoxamina pode ser uma ferramenta importante para atingir esse objetivo.”
Durante duas semanas, os participantes tomaram o antidepressivo ou o placebo enquanto mantinham interações diárias com membros da equipa de investigação – por telefone ou por computador. Isso permitiu que os pacientes relatassem os seus sintomas, níveis de oxigénio e outros sinais vitais. Se os pacientes tivessem falta de ar ou fossem hospitalizados por pneumonia, ou seus níveis de saturação de oxigénio caíssem abaixo de 92%, as suas condições eram consideradas deterioradas.
“A boa notícia é que nem uma única pessoa que tomou o medicamento ativo sofreu deterioração”, referiu Angela M Reiersen. “Acreditamos que o medicamento pode ser o motivo, mas precisamos de estudar mais pacientes para ter certeza.”
Os investigadores vão começar um estudo de maior dimensão nas próximas semanas. Eric J. Lenze, diretor do Healthy Mind Lab da School of Medicine, vai conduzir os testes clínicos. O investigador referiu que embora este estudo inicial envolva pacientes da região de St. Louis, a próxima fase da pesquisa envolverá pacientes de todo o país.