Cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, em colaboração com microbiologistas na Ucrânia investigaram a resistência bacteriana em pacientes feridos na guerra e tratados em hospitais. As descobertas, publicadas no The Lancet Infectious Diseases, indicam que um número significativo de pacientes sofria de bactérias que apresentam um nível “alarmante” alto de resistência a antibióticos.
Kristian Riesbeck, especialista em Bacteriologia Clínica da Universidade de Lund, expressou espanto com a natureza resistente das bactérias encontradas, apesar da extensa experiência com pacientes e infeções bacterianas. O especialista admitiu que até à data nunca tinha encontrado bactérias tão resistentes.
De acordo com Kristian Riesbeck, não houve hesitação em estender a assistência quando Oleksandr Nazarchuk, um microbiologista de uma universidade em Vinnytsia, na Ucrânia, pediu ajuda. A urgência na Ucrânia exigia uma avaliação da extensão da resistência a antibióticos entre pacientes gravemente feridos que se encontravam hospitalizados.
Além do sofrimento humano infligido pela guerra na Ucrânia, uma batalha invisível contra bactérias resistentes está a ser travada. Essa realidade veio à superfície quando Kristian Riesbeck e a sua equipa examinaram amostras de pacientes gravemente feridos, muitos deles a sofrer de queimaduras. Esses pacientes contraíram infeções durante a hospitalização, principalmente devido a enfermarias sobrecarregadas e uma infraestrutura devastada.
O estudo envolveu um total de 141 indivíduos afetados pela guerra, incluindo 133 adultos com ferimentos relacionados à guerra e oito bebés diagnosticados com pneumonia. Os pacientes foram internados em três hospitais na Ucrânia, onde foram submetidos a cirurgias de emergência e receberam cuidados intensivos para controlar as condições de saúde.
Os resultados da investigação revelaram uma tendência preocupante entre as amostras recolhidas. Numerosas bactérias Gram-negativas demonstraram resistência a agentes antimicrobianos de amplo espectro, incluindo antibióticos inibidores de enzimas recentemente desenvolvidos que ainda não foram lançados no mercado.
De forma alarmante, quase dez por cento das amostras continham bactérias que exibiam resistência, até mesmo à colistina, que é considerada um antibiótico de “último recurso”. Este nível de resistência nunca tinha sido testemunhado, até à data, em tal escala, embora casos semelhantes tenham sido observados na Índia e na China. Surpreendente, seis por cento de todas as amostras continham bactérias resistentes a todos os antibióticos testados.
Para Kristian Riesbeck há desafios críticos colocados pelas bactérias resistentes durante os tempos de guerra, e considera ser preocupante a resistência observada na bactéria Klebsiella pneumoniae, pois pode causar doenças graves mesmo em indivíduos com um sistema imunológico saudável e totalmente funcional.
Para o especialista os níveis inesperadamente altos de resistência em Klebsiella pneumoniae são motivo de grande preocupação. Embora casos isolados com resistência semelhante tenham sido relatados na China, a magnitude da situação na Ucrânia supera qualquer caso observado antes.
Kristian Riesbeck observou que enquanto muitos países estão a fornecer ajuda militar e recursos para a Ucrânia, é igualmente crucial ajudar a enfrentar esta crise em curso. O risco de propagação de bactérias resistentes é evidente, representando uma ameaça significativa para toda a região europeia.