Partituras, programas de concertos, cartazes, cadernos de notas e documentos relativos à organização de concertos na cidade do Porto constituem um vasto e variado acervo documental musical, datado dos séculos XIX e XX. Este acervo está, atualmente, num processo de inventariação, catalogação e digitalização.
O processo de inventariação, iniciado em fevereiro de 2017, está praticamente concluído, tendo sido registados cerca de 800 documentos, seguindo-se agora o processo de catalogação e digitalização.
O acervo documental musical está sob tutela da Direção Regional de Cultura do Norte, que estabeleceu uma parceria com o Pólo do Instituto Politécnico do Porto do Centro de Estudos em Sociologia e Estética da Música (CESEM-P.PORTO), para o tratamento deste arquivo musical.
Entre os 800 documentos, encontram-se algumas raridades de extrema importância para o registo histórico da dinâmica musical do Porto nos séculos XIX e XX. Por exemplo, o Concerto para violino e orquestra do violinista e compositor Augusto Marques Pinto, que é o único concerto para violino do período romântico português; toda a produção musical do pianista Hernâni Torres, constituída por manuscritos autógrafos todos inéditos e documentos inéditos relativos à fundação de uma orquestra de câmara no Porto, na década de 1930.
Exposição na Casa Allen
Para permitir a divulgação do valioso espólio, é inaugurada na Casa Allen, no Porto, e acessível a partir de 1 de junho, a Exposição “O Porto – Fragmentos da Vida Musical”, num dia em que intervêm alunos da ESMAE – P.PORTO e do Conservatório de Música do Porto, protagonizando um momento musical.
A exposição “O Porto – Fragmentos da Vida Musical” tem a sua génese nas décadas 40 e 50 do séc. XX, na iniciativa de Bertino Daciano. É suportada pelo acervo documental musical tendo sido complementada com documentação pessoal do compositor Lucien Lambert, pertencente à Coleção Vitorino Ribeiro, cedida pela Câmara Municipal do Porto, e com iconografia que o Conservatório de Música do Porto também disponibilizou para o efeito.
“Percorrer a exposição é reviver o Porto musical dos primeiros 50 anos do séc. XX e conhecer mais um pedaço da história da música do Porto”.
Como se chegou ao valioso acervo
Entre 1946 e 1954, Bertino Daciano, professor, historiador e musicógrafo, procedeu a um trabalho “notável de recolha de um conjunto significativo de acervos documentais pertencentes a algumas das figuras mais relevantes da música do Porto dos sécs. XIX e XX.”
Bertino Daciano escreveu, em 1947, que o seu propósito era levar a cabo “uma campanha de reabilitação artística (…) de interesse nacional”, que consistia em “reunir todas as obras, manuscritas ou suas cópias, de compositores nacionais ou que entre nós têm vivido” para evitar que “de futuro, sofram injusto desvio”.
O musicógrafo reuniu, assim, “os espólios dos pianistas e compositores Lucien Lambert, Hernâni Torres e José Cassagne, do violinista e compositor Augusto Marques Pinto, do cantor e compositor Gustavo Romanoff Salvini, da cantora e professora Alexandrina Castagnoli de Brito e do médico e musicógrafo Alberto Brochado”. Um acervo que se encontra atualmente sob tutela da Direção Regional da Cultura do Norte.