No Museu da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, Matosinhos, a exposição “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica” mostra parte do acervo reunido ao longo dos anos pelo jornalista, colecionador e divulgador cultural portuense, César Príncipe. Uma a exposição que é visitável até 30 de junho de 2019.
Arte sacra portuguesa e flamenga dos séculos XVI a XVIII, peças decorativas, esculturas, pinturas, artefactos do quotidiano, fotografias, selos, medalhas e moedas, mas também pins, autocolantes, cartazes, gravuras, serigrafias, litografias, caricaturas, folhetos, panfletos e manuscritos que expostos ajudam a contar a história de quatro séculos de Portugal.
A exposição está integrada no programa municipal de comemoração dos 45 anos de “Revolução dos Cravos” de 25 de abril de 1974. Mais do que ícones num determinado tempo, os objetos reunidos por César Príncipe pretendem constituir-se como janelas abertas para um passado, instigando os visitantes a refletir, investigar e a descobrir.
Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, refere no texto do catálogo da exposição que “a ponderação que um dos mais brilhantes intelectuais portuenses nos propõe permite dar continuidade e consistência ao programa museológico de um espaço que, ligado à memória da fidalguia de outrora, cumpre hoje, e de modo exemplar, a tão republicana e libertária tarefa de instruir e ilustrar, renovando e reinterpretando o entendimento possível sobre a arte, o impulso estético, o testemunho da cultura sobre a espuma dos dias que passam”.
A exposição assenta em três núcleos fundamentais: “Praça da Monarchia”; “Praça do Império” e “Praças da República”. No conjunto são passados em revista objetos, documentos e obras de arte que cobrem um período que vai do século XVI ao final do século XX. Dos pesados livros que guardam as linhagens da monarquia e da casa real portuguesa aos autocolantes da campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho.
César Príncipe recolheu e colecionou quase tudo o que encontrou pela frente, incluindo escarradeiras portáteis, caixas de rapé, discos de vinil com discursos do Movimento das Forças Armadas, revistas, edições raras de livros imortais, bolas de futebol, o último manual escolar da monarquia, panfletos da resistência clandestina a Salazar ou cartas a aprazar duelos.
Mas na exposição não faltam também as obras de arte, de uma estatueta equestre de Gustavo Bastos a um dos muitos cavalos que Álvaro Siza Vieira desenhou, sem esquecer a documentação sobre os ofícios mais ou menos tradicionais, iconografia relativa à evolução do papel da mulher na sociedade ou uma sala dedicada à memória local do Porto e de Matosinhos. “O resultado assemelha-se ao cruzamento de um fascinante inventário de bricabraque com a nostalgia minuciosa de um arquivista”.
“Abrir frentes de inovação, memorização e problematização justificará uma existência, mesmo fugaz. As utopias não estão nas agendas. Mas a Casa de Recordações prezaria ser uma Casa de Interpelações”, escreveu César Príncipe no texto de introdução deste delírio colecionista.
Para Fernando Rocha, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, “num momento em que, outra vez, voltam a pairar sobre a Europa os espetros sinistros do pensamento unívoco e do autoritarismo, do isolacionismo e da intolerância, os objetos reunidos por César Príncipe, e a reflexão que através deles nos propõe, afiguram-se como uma forma significativa de assinalar os 45 anos da liberdade conquistada em Abril de 1974”.
O espaço do Museu da Quinta de Santiago foi insuficiente para albergar todo o acervo de reunido por César Príncipe. Muitos objetos ficaram de fora da exposição, que obrigou à abertura ao público de salas que normalmente não são utilizadas para fins expositivos.
Exposição “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica”
Local: Museu da Quinta de Santiago
Morada: Rua de Vila Franca, Leça da Palmeira
Horário: de terça a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h00.