Na inauguração da exposição das obras de Amadeo de Souza-Cardoso no Museu Soares dos Reis, no Porto, para além de Luís Filipe de Castro Mendes, Ministro da Cultura, foram muitas as personalidades que marcaram presença, como Rui Moreira, Presidente da Câmara do Porto, Artur Santos Silva, Presidente de Fundação Calouste Gulbenkian, o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo e o arquiteto Siza Vieira.
“É uma exposição muito especial porque recria a exposição que Amadeo de Souza-Cardoso fez no Porto há 100 anos no Jardim Passos Manuel”, referiu Castro Mendes, Ministro da Cultura, no final da inauguração, em declarações aos jornalistas.
A exposição é comemorativa e uma homenagem ao pintor, e reúne 81 obras das 114 obras que Amadeo expôs no Porto na sua primeira exposição em Portugal, e que ele próprio comissariou. Por isso “é uma exposição extremamente interessante porque nos situa exatamente no ponto em que Amadeo de Souza-Cardoso está em 1916, e é a exposição que ele oferece à cidade do Porto”, referiu o Ministro da Cultura.
Marta Soares, uma das comissárias da exposição, lembra que Amadeo, antes de expor em Portugal, “expôs em França, na Alemanha, nos Estados Unidos e em Inglaterra”, mas ao contrário da exposição que fez no Jardim do Salão Passos Manuel, no Porto, e a seguir em Lisboa, na Liga Naval Portuguesa, “essas exposições eram coletivas” e por isso “mais homogéneas” em que “não teve um grande destaque”.
No entanto, “em Londres, Amadeo teve uma crítica muito positiva” em comparação com o que viria a acontecer a seguir em Portugal. A exposição em Portugal, em 1916, é uma “exposição individual que, para além das reações violentas que têm sido muito divulgadas, como a agressão física e até a hipótese de terem cuspido nos quadros, houve uma reação muito díspar e muito estimulante”, esclarece Marta Soares.
A exposição no Porto conseguiu a “proeza” de ter 30 mil visitantes em 12 dias e “muitas apreciações em jornais, algumas negativas, por não compreenderem as linguagens novas e a estética vanguardista, mas também alguns artigos de admiração e apreciações interessantes, como as de Alfredo Pimenta, um homem de extrema-direita. Um homem culto que fez uma apreciação interessante das obras expostas”, referiu o Ministro da Cultura.
O Ministro lembrou ainda que a exposição, em 1916, “foi considerada por muita imprensa e opinião pública uma arte de loucos, uma arte de manicómio. Isto mesmo diz o ‘Primeiro de Janeiro’, mas curiosamente já o ‘Jornal de Notícias’ diz que é uma proposta de arte extremamente interessante, e portanto, houve aqui uma dualidade”.
As diversas apreciações mostravam, referiu Castro Mendes, “que as obras agitavam os espíritos e não apenas suscitavam rejeição mas criavam também simpatia”. Marta Soares, lembrou também que “a pintura de vanguarda desencadeava polémica globalmente, não era um episódio específico do Porto ou de Lisboa”.
Marta Soares referiu que espera que “toda a investigação, que foi feita, ajude a perceber como se desencadeou o debate sobre a pintura de vanguarda, como Amadeo foi comissário de si próprio, como organizou a exposição e de que forma os espaços – Jardim Passos Manuel e a Liga Naval Portuguesa – contribuíram para a nossa leitura da receção da exposição”.
A exposição no Museu Soares dos Reis tenta evocar o espaço do Jardim Passos Manuel que em 1916 era “dos mais populares na época, onde havia um cinematografo, e até se dizia que ir ao Porto e não ir ao Passos Manuel era como ir a Paris e não ir à Torre Eiffel”, e por isso, Amadeo ao escolher esse espaço sujeita-se a uma enorme visibilidade”, pelo contrário em Lisboa, “expõe num espaço elitista, mais isolado, com uma carga politica muito específica ligada à reação monárquica à primeira República”.
Na atual exposição houve a preocupação de recriar a exposição de 1916 tanto quanto foi possível, dado que, como referiu Marta Soares, “o catálogo original que Amadeo nos deixou tem apenas títulos pelo que houve a necessidade de fazer corresponder as imagens aos títulos”. Na correspondência as comissárias da exposição conseguiram identificar 90 obras, e destas expõem 81.
Em termos de montagem a sequência é uma tentativa de aproximação dado que há imagens do Jardim Passos Manuel, mas não há fotografias da exposição montada no espaço, pelo que a decisão foi a aproximação ao catálogo e às práticas de montagem que aproximavam as obras.
A comissária indicou que “foram preservados alguns núcleos que o próprio Amadeo juntou e que esses núcleos podem trazer novas pistas sobre a leitura das obras e sobre como o próprio relacionava essas obras”.
A exposição de 1916 permitiu ao artista interagir com a imprensa dando-lhe a oportunidade “de falar sobre o seu trabalho e de divulgar a pintura de vanguarda, mas preservando sempre a autonomia artística”. Amadeo assumiu que “não seguia uma escola ou um movimento específico, como o futurismo”.
O Museu Soares dos Reis, no Porto, acolhe a exposição das obras de Amadeo de Souza-Cardoso entre 1 de novembro e 31 de dezembro de 2016. Em Janeiro de 2017 será Lisboa a poder visitar as obras no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.