A má alimentação está associada a 80% dos casos de cancro colorretal, mas os cientistas têm desconhecido os processos exatos que levam a que a dieta tenha tanta influência no surgimento do cancro.
Num estudo publicado na edição de 6 de julho da ‘Stem Cell Reports’ uma equipa de investigadores da Cleveland Clinic indica ter identificado uma via molecular específica que desempenha um papel fundamental na ligação entre uma dieta rica em gordura e o crescimento tumoral no cólon.
A equipa de investigadores mostrou em modelos pré-clínicos que o crescimento de células estaminais do cancro no cólon foi reforçado por uma dieta rica em gordura, ocidental. As células estaminais do cancro são um subconjunto de células malignas resistentes e agressivas que acredita-se serem parcialmente responsáveis pela disseminação e recorrência do cancro.
Quando os investigadores bloquearam a via de sinalização celular JAK2-STAT3, que é uma via já muito estudada e conhecida por promover o crescimento tumoral, verificaram que diminuiu o aumento de células estaminais causado pela dieta com alto teor de gordura.
O estudo dos investigadores da Cleveland Clinic permitiu mais informações sobre como a via JAK2-STAT3 está ligada ao cancro relacionado com a dieta. Ao apontar com maior exatidão esta ligação e o respetivo mecanismo é aberta uma possibilidade para os investigadores desenvolverem terapêuticas para contrariar os efeitos negativos de uma dieta ocidental que leva ao cancro colorretal.
O cancro colorretal é o terceiro cancro mais comum nos Estados Unidos, com mais de 130 mil casos relatados anualmente, mas também noutros países europeus como em Portugal. A doença surge em resultado de uma combinação de várias causas genéticas, epigenéticas e ambientais, como a dieta.
Matthew Kalady, coautor do estudo, cirurgião colorretal e codiretor do Cleveland Clinic Comprehensive Colorectal Cancer Program, referiu que é conhecida “a influência da dieta sobre o cancro colorretal. No entanto, as novas descobertas são as primeiras a mostrar a conexão entre a ingestão de gordura e o cancro de cólon através de uma via molecular específica”.
Para o investigador, com base no novo conhecimento, podem ser desenvolvidos “novos tratamentos destinados a bloquear a via molecular e reduzir o risco de uma dieta rica em gordura levar ao aparecimento de cancro do colon”.
A equipe de investigadores analisou os dados de sobrevivência livre de cancro colorretal humano no Cancer Genome Atlas e avaliou espécimes primários e metástatos de cancro colorretal através de análise de microarrays. Os investigadores verificaram ainda a ligação entre a dieta com alto teor de gordura e a manutenção de células estaminais em camundongos resistentes à obesidade.
Justin D. Lathia, coautor do estudo e investigador, no Lerner Research Institute, referiu que as atuais descobertas indicam “uma nova maneira de como as células estaminais do cancro são reguladas e fornecem informações sobre como as influências ambientais, como a dieta, podem alterar as populações de células estaminais do cancro em cancros avançados”.