A Útero A.C. leva ao palco do Teatro-Cine de Torres Vedras no próximo dia 10 de dezembro, pelas 21h30, o espetáculo de dança Fraternidade I e II – Díptico de Miguel Moreira.
Para Miguel Moreira criador do espetáculo “a fraternidade talvez seja o elo mais forte que liga todos os seres humanos numa tentativa de se entenderem e de perceberem a diferença que existe em cada um de nós”.
No entender da diferença levou a focar “a peça no tempo e nos rituais de crescimento que nos fazem afirmar que uma pessoa é jovem ou velha ou que está na meia-idade. Na história de cada um, que é inconfundível mas que ao mesmo tempo se parece com tanta gente que conhecemos. Li um diário de um senhor, que escreveu diariamente desde os 83 anos até aos 92 anos. Todos os dias mapeou o tempo da sua vida. O mais surpreendente é que podemos ver no diário, a cada dia, a hora a que se deitava, a hora a que acordava e a hora a que voltava a adormecer. Há um hiato em que não sabemos o que se passou. O tempo da insónia. Esse tempo é o tempo que, de uma forma metafórica, deveríamos conseguir dançar. Dançar o tempo da insónia.”
Para o festival GUIDANCE, Cláudia Galhós efetuou uma abordagem ao trabalho de Miguel Moreira e ao seu referido espetáculo, indicando: “Há um tumulto permanente em Miguel Moreira. Há algo de excessivo, que se esvai nas palavras que diz, nas ideias que partilha, e nessa busca incessante por um movimento que tem uma raiz interior. Às vezes, o corpo até pode recuar ou reduzir a sua pulsação em cena, contrair a convulsão, mas por dentro será sempre trémulo e inquieto. Miguel fala com o mesmo entusiasmo obsessivo com que se dedica à dança”.
Cláudia Galhós cita frases de Miguel Moreira como: “O trabalho do artista é sobre o que não conhece. Não é sobre ‘gosto’ ou ‘não gosto’, não me interessa isso. O trabalho do artista é sobre conhecer.” E outras como: “Fraternidade II é diferente das outras criações porque venho com a Fraternidade I na cabeça. Quero fazer um díptico como num quadro. Sei que as pessoas vão olhar primeiro para o 1, e já tenho isso dentro de mim.”
Cláudia Galhós acrescenta que “o ponto de partida é o mesmo: um caderno de anotação metódica das horas, que acompanhou a vida de uma pessoa a caminho dos 90 anos. “Um diário muito metódico, que sugeria uma organização mental… no final já só havia números. ‘Deitei-me à meia-noite’, depois há anotações de horas, ‘2h30 da manhã’, ‘3h30’. Tornou-se um registo do passar do tempo, de alguém que vai acordando ao longo da noite, e toma nota das horas em que desperta. Só tem números. Fez-me pensar que a Fraternidade seria a dança desse mundo, em que acordamos e adormecemos e não sabemos bem onde estamos.”
O preço dos bilhetes para se assistir ao espetáculo de dança Fraternidade I e II – Díptico de Miguel Moreira no Teatro-Cine de Torres Vedras é de cinco euros.
Ficha Técnica: Fraternidade I e II
Uma peça de Miguel Moreira
Cocriação e interpretação: Carolina Faria, Cláudia Serpa Soares, Francisco Camacho, Luís Guerra, Maria Fonseca, Miguel Moreira, Romeu Runa, Sara Garcia, Shadowman
Música original ao vivo: Ricardo Toscano
Violoncelista: Nelson Ferreira
Desenho de luz: Rui Monteiro
Vídeo: João Pedro Fonseca
Cenografia e colaboração desenho de luz da segunda parte: Jorge Rosado
Residências e lugares de ensaio: Estúdios Vitor Córdon, Espaço Gaivotas, Latoaria, Teatro Aveirense, Estúdios ACCCA
Apoios: Dgartes / Governo de Portugal / Estúdios Vitor Córdon / Programa casa / Câmara Municipal de Lisboa / Pólo Cultural das Gaivotas
Coprodução: Útero e Centro Cultural Vila Flor / Festival Guidance / Cine Teatro Avenida / Teatro Aveirense