Existe uma ligação entre os organismos microscópicos no trato digestivo, conhecidos coletivamente como microbioma intestinal, e a Esclerose Múltipla (EM). A ligação foi estabelecida por investigadores da Rutgers University-New Brunswick, EUA.
O estudo, já publicado na Frontiers in Immunology, feito em pessoas e em ratos geneticamente modificados, veio apoiar a crença de que ajustes dietéticos, como aumento de fibras, podem retardar a progressão da EM.
“Hábitos alimentares pouco saudáveis, como baixo consumo de fibras e alto consumo de gordura, podem ter contribuído para o aumento acentuado da esclerose múltipla nos EUA”, referiu Kouichi Ito, autor sénior do estudo. O investigador esclareceu: “Em países onde as pessoas ainda comem quantidade de fibras, a esclerose múltipla é muito menos comum.”
A EM é uma condição degenerativa na qual o sistema imunológico do corpo ataca a cobertura protetora dos nervos no cérebro, medula espinhal e olhos. De acordo com a National Multiple Sclerosis Society, afeta quase 1 milhão de adultos nos Estados Unidos, e em Portugal o número estimado pela Direção-Geral da Saúde é de mais de 8 mil.
Vários estudos anteriores diferenciaram os microbiomas de pacientes com esclerose múltipla e indivíduos saudáveis, mas, como referiu Kouichi Ito, todos observaram diferentes anormalidades, por isso era impossível dizer qual a alteração, que a haver, estava a impulsionar a progressão da doença.
O estudo da Rutgers University-New Brunswick, liderado pelo investigador Sudhir Kumar Yadav, usou ratos geneticamente modificados com genes associados à esclerose múltipla para rastrear a ligação entre alterações nas bactérias intestinais e uma condição semelhante à esclerose múltipla chamada encefalomielite autoimune experimental (EAE).
À medida que os ratos envelheciam, e simultaneamente desenvolviam EAE e uma condição inflamatória intestinal chamada colite, os pesquisadores observaram aumento do recrutamento de células inflamatórias (neutrófilos) para o cólon e produção de uma proteína antimicrobiana chamada lipocalina 2 (Lcn-2).
A equipa de investigadores procurou evidências de que o mesmo processo ocorre em pessoas com EM, e encontrou níveis significativamente elevados de Lcn-2 nas fezes dos pacientes. Este marcador foi correlacionado com a redução da diversidade bacteriana e aumento dos níveis de outros marcadores de inflamação intestinal. Além disso, as bactérias que parecem aliviar a doença inflamatória intestinal foram reduzidas em pacientes com esclerose múltipla, com níveis mais altos de Lcn-2 fecal.
O estudo sugere que os níveis fecais de Lcn-2 podem ser um marcador sensível para detetar alterações não saudáveis no microbioma intestinal de pacientes com esclerose múltipla. Também fornece mais evidências de que dietas ricas em fibras, que reduzem a inflamação intestinal, podem ajudar a combater a esclerose múltipla.
Os investigadores da Rutgers University-New Brunswick passaram à fase seguinte do estudo através da incorporação de pacientes com EM na investigação para determinar como os microbiomas e os sistemas imunológicos dos pacientes são afetados por um suplemento rico em fibras desenvolvido pela Rutgers Microbiologist Liping Zhao.