As tecnologias de informação em Saúde (TIS) têm variadas aplicações desde os registos eletrónicos do doente, à prescrição e transmissão de prescrições por via eletrónica, sistemas de apoio à decisão clínica, gestão de doentes crónicos, gestão de serviços de saúde e da continuidade de cuidados, entre outras, proporcionando um melhor controlo dos custos e maior qualidade na prestação de cuidados de saúde.
Contudo, com a proliferação de diversos softwares utilizados pelos múltiplos prestadores de cuidados de saúde, existe uma elevada quantidade de informação importante para a gestão dos cuidados de saúde que está dispersa e fragmentada. Para ultrapassar este desafio, há necessidade de as novas TIS terem parâmetros de Interoperabilidade, isto é, que no desenho dos sistemas esteja prevista a necessidade de integração da informação das TIS de diferentes prestadores ou níveis de cuidados. A par desta interoperabilidade técnica deverá ainda ser assegurada a interoperabilidade semântica envolvendo os profissionais de saúde na adoção de sistemas de codificação clínicos comuns e claros e que possam facilmente ajudar, não só estes profissionais, mas também os cidadãos a entender quais os dados de saúde recolhidos.
Para um profissional de saúde com atividade clínica, a Interoperabilidade das TIS tem o potencial de promover uma maior segurança e integração dos vários níveis de cuidados, redução de erros, melhores decisões clinicas e maior eficiência no trabalho diário dos consultórios e enfermarias. Além disso, a Interoperabilidade das TIS, na perspetiva de grandes organizações ou mesmo do Ministério da Saúde, tem o potencial de melhorar o desenho de Políticas de saúde mais adequadas, integrar informação útil para estudos científicos multi-institucionais, melhorar a implementação de medidas de saúde preventivas e de trazer o doente e os seus cuidadores informais para o centro da decisão clínica.
Da nossa pesquisa de trabalho podemos já identificar que a Interoperabilidade dos vários sistemas e dispositivos disponíveis, para trocar e interpretar dados de forma partilhada, poderá ser a solução para uma maior eficiência dos recursos no SNS. Para além dos benefícios em termos de processos, a promoção de TIS mais interoperáveis tem o potencial de gerar ganhos de eficiência. Só nos EUA esse valor é estimado em 77,8 mil milhões de dólares nos primeiros 10 anos. Por outro lado, a não integração das TIS, além do impacto a nível da eficiência da prestação de cuidados, acarreta maior carga de trabalho e consequente burnout dos profissionais de saúde, desumanização dos cuidados, e gestão mais difícil dos doentes e dos serviços de saúde.
Por conseguinte, asseguramos, enquanto deputados do Health Parliament, que não será necessário criar mais dados, mais sistemas de informação, mas sim operacionalizar a agregação da informação já existente e definir modelos de normas técnicas de Interoperabilidade nos domínios técnicos, semânticos, de segurança, éticos e legais, aos quais os sistemas de informação devem obedecer.
O Aparecimento da Plataforma de Dados em Saúde e o esforço de uniformização de alguns softwares específicos (como o da prescrição de medicamentos) gerou benefícios concretos e constitui-se como exemplo do caminho a seguir. A existência de uma entidade reguladora responsável por normalizar e certificar que as TIS cumprem critérios de Interoperabilidade, sem os quais não poderão ser utilizadas no sistema de saúde português, vislumbra-se como umas das primeiras propostas desta comissão.
Autores: André Peralta Santos, Andreia Garcia, Elisabete Durão, Guida Jesus, João Gregório, João Moreira Pinto, Lourenço Oliveira, Mário Amorim Lopes, Nelson Pinho, Rita Veloso, Sofia Couto Rocha