Um estudo publicado, hoje, na revista Science Translational Medicine, investigadores do Albert Einstein College of Medicine referem que um medicamento experimental de peptídeo mostra-se promissor no combate à leucemia mieloide aguda (LMA), frequentemente letal. Na publicação os investigadores descrevem como funciona o medicamento.
Os resultados da investigação levaram já a um ensaio clínico de Fase I e II em pacientes com LMA avançada e síndrome mielodisplásica (SMD) avançada, que se encontra a decorrer no Montefiore Health System.
Nos estudos pré-clínicos, o medicamento experimental, designado por ALRN-6924, triplicou a taxa média de sobrevivência em modelo animal de LMA humana, ou seja em ratos transplantados com células humanas de leucemia, passando de 50 a 150 dias.
“É uma resposta muito surpreendente”, referiu Ulrich Steidl, investigador que lidera o estudo, e acrescentou: “A maioria dos fármacos experimentais para a leucemia alcançou um aumento na sobrevivência de apenas alguns dias nestes modelos pré-clínicos”, mas para o cientista o mais importante foi que “o ALRN-6924 curou efetivamente cerca de 40% dos ratos tratados”, ou seja, os ratos “estavam livres de doença mais de um ano após o tratamento”, o que para “um rato é uma vida inteira”.
A leucemia mieloide aguda é causada por dano ao ADN das células estaminais que formam na medula óssea as células sanguíneas, resultando em glóbulos brancos, vermelhos ou plaquetas anormais. Cerca de 21 mil pessoas nos EUA foram diagnosticadas com LMA em 2017. Apenas 27% das pessoas diagnosticadas com LMA sobrevivem mais cinco ou mais anos, um resultado que não melhorou significativamente nos últimos cinquenta anos.
O ALRN-6924 foi desenvolvido pela Aileron Therapeutics Inc. para atingir o p53, uma proteína que suprime tumores, mas é inativada em muitas formas de cancro, incluindo na LMA. O medicamento foi projetado para inibir duas proteínas que ocorrem naturalmente, a MDMX e a MDM2, cuja superexpressão inativa p53, permitindo que as células cancerígenas se multipliquem sem controlo.
Ulrich Steidl especialista em LMA deu início ao teste de eficácia do medicamento, a pedido da Aileron Therapeutics, em modelos pré-clínicos de LMA e para investigar mais sobre o mecanismo de ação do fármaco.
A equipa de Ulrich Steidl confirmou que o ALRN-6924 tem como alvo tanto o MDMX como o MDM2, bloqueando sua interação com o p53 nas células LMA. Esse efeito foi observado tanto nas células LMA mais maduras como nas células estaminais imaturas que as produzem. “Isso é importante”, referiu o investigador, “porque a LMA é impulsionada pelas células estaminais e se não forem alvo as células estaminais, a doença rapidamente regressa.”
Os investigadores observaram as mesmas alterações moleculares nas células do sangue de um paciente com LMA que recebeu o medicamento numa base de uso compassivo. “Este teste não foi projetado para avaliar a eficácia do medicamento em seres humanos – isso tem que ser feito num ensaio clínico adequado”, referiu Ulrich Steidl.
“O nosso objetivo foi determinar se medicamento pode atingir o alvo desejado em células humanas num ambiente clínico, e foi o que aconteceu neste paciente”, explicou o líder do estudo.
O ALRN-6924 é um peptídeo alfa-helicoidal “grampeado”, uma nova classe de fármacos promissores cuja estrutura helicoidal é estabilizada usando “grampos” de hidrocarbonetos. O “grampeamento” evita que os peptídeos sejam degradados por enzimas antes de atingirem o alvo pretendido, um destino que frequentemente ocorre com as drogas convencionais de peptídeos. O ALRN-6924 é o primeiro tratamento terapêutico com peptídeo “grampeado” a ser testado em pacientes.