O glaucoma é a primeira causa de cegueira não reversível em todo o mundo, estimando-se em 80 milhões o número de pessoas com a doença. Em Portugal o número é estimado em cerca de 200 mil que sofrem com glaucoma, uma doença que leva à perda progressiva e irreversível da visão.
O número de doentes tende a crescer explicou António Rodrigues Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), que referiu: “Sendo uma doença cuja ocorrência aumenta com a idade e atendendo ao aumento da esperança de vida, estes números tendem a crescer significativamente”. Um alerta por ocasião da Semana Mundial do Glaucoma, que se assinala de 11 a 17 de março.
“O glaucoma é uma doença bastante assintomática nas fases iniciais”, referiu o especialista, e acrescentou: “A perceção inicial da doença é ainda mais difícil devido à nossa própria adaptação cerebral, que vai tentando substituir as imagens em falta por ‘cópias’ das imagens próximas – como num roubo valioso, em que as peças roubadas são substituídas por cópias idênticas. Por isso chamamos ao glaucoma ‘o ladrão silencioso da visão’”. Um fenómeno que “provoca uma perceção deformada e incompleta da realidade, tornando-se bastante grave por exemplo na marcha, causando quedas, que é uma queixa frequente, ou na condução automóvel”.
A principal causa e fator de risco da doença de glaucoma é a hipertensão ocular, que em Portugal estima-se que esteja apenas diagnosticada em 50% dos doentes. “Uma tensão ocular elevada, não detetada e não controlada, vai conduzir ao aparecimento da doença” referiu o especialista. Mas há outros fatores de risco, como a idade e a existência de familiares diretos com glaucoma.
O glaucoma é uma doença progressiva, isto é, “tem uma natural tendência para agravamento” e também “irreversível, ou seja, as perdas que causa não são recuperáveis”, por isso é fundamental a deteção precoce. “A oftalmologia possui métodos clínicos e exames complementares sofisticados que permitem que seja detetada muito antes de dar sintomas, prevenindo, graças aos tratamentos adequados, a sua progressão. E tudo deve começar pela medição da tensão ocular” referiu António Rodrigues Figueiredo, dado que é o principal fator de risco do glaucoma “e simultaneamente o único que podemos tratar e que conduz ao controlo da doença – há inúmeros estudos e evidência que o comprovam”.
O especialista explicou que “existem, para os próximos anos, perspetivas de inovação no tratamento com medicamentos. No entanto, atualmente é nas técnicas cirúrgicas que se tem verificado maior progresso”. Mas devido tratarem-se de técnicas invasivas e mais agressivas, dificulta a aceitação pelo doente de forma atempada, “o que por vezes se revela fatal em termos evolutivos da doença. Mas as modernas técnicas microcirúrgicas, com recurso a microimplantes, são muito mais seguras e certamente o seu uso tenderá a aumentar”.
Apesar de existir tratamento para o Glaucoma, não há cura, pelo que António Rodrigues Figueiredo defende a importância de esclarecer os doentes e de combater esta ideia errada.
Alerta para a doença do glaucoma
Para assinalar a Semana Mundial do Glaucoma, de 11 e 17 de março, o especialista deixa o alerta: “Atenção ao ladrão silencioso da visão: se tem mais de 45 anos e nem sabe a sua tensão ocular, se tem familiares com glaucoma, proteja a sua visão”. Aos doentes com glaucoma, recorda que qualquer portador de uma doença crónica “tem que aprender a conviver com esse facto, já que uma doença progressiva e irreversível exige coragem, perseverança e sobretudo apoio para a luta que o seu controlo representa”.