Os doentes de enfarte agudo do miocárdio podem, depois de alta hospitalar, ter o processo de reabilitação cardíaca, incluindo a componente de exercício físico, em casa, e com excelentes resultados, esta é a conclusão de um estudo onde participou a Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA).
O estudo de investigação, que corrobora os resultados de vários outros estudos internacionais, permitiu avaliar a resposta domiciliária à maioria dos doentes que depois da alta se afastam dos programas de reabilitação dos centros hospitalares.
A Sociedade Europeia de Cardiologia, a American Heart Association e o American College of Cardiology, classificam a reabilitação cardíaca (RC) como uma intervenção terapêutica com indicação de classe I (mandatória), fundamentada nos níveis de evidência científica mais elevados.
Situação em Portugal
Em Portugal, a percentagem de doentes que participaram nos últimos anos em programas de reabilitação cardíaca de fase III é de apenas 4%. Esta baixa participação é que de acordo com o estudo apontada pelos doentes como devida, entre outras, à “distância entre a residência e os centros hospitalares e a falta de horários e de transportes.
A falta de resposta adequada do Sistema Nacional de Saúde na reabilitação cardíaca, a falta de investimento em recursos humanos e materiais e a escassez de centros e a sua localização concentrada nas grandes cidades contribuem decisivamente para a baixa referenciação e adesão aos programas de reabilitação cardíaca, indica o estudo.
Reabilitação supervisionada a distância
Mesquita Bastos, professor na ESSUA e cardiologista no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro, indicou: “Contrariamente ao conceito generalizado de que a reabilitação cardíaca tem de ser feita sob vigilância direta há, nos casos de baixo risco cardiovascular, a possibilidade de efetuar reabilitação supervisionada a distância”.
A reabilitação cardíaca com acompanhamento a distância “é uma área de forte interesse na ESSUA, na qual temos vários projetos financiados e colaborações a decorrer com elevado impacto social,” referiu Fernando Ribeiro, professor na ESSUA e investigador no Instituto de Biomedicina (iBiMED) da UA.
O estudo agora divulgado envolveu a ESSUA, no âmbito do Doutoramento em Ciências e Tecnologia da Saúde de Andreia Noites, e no qual participou o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e a Escola Superior de Saúde do Porto.
Metodologia usada no estudo
No estudo participaram doentes em recuperação de enfarte do miocárdio. Os pacientes realizaram, em casa, um programa de exercícios, três vezes por semana, durante oito semanas. Os investigadores forneceram aos pacientes informações e aconselhamentos para a atividade física e procederam a monitorização a distância, com recurso a dispositivos eletrónico, dos sinais vitais dos doentes.
Os investigadores concluíram que mesmo sem os entraves dos quilómetros até aos hospitais centrais ou centros clínicos e a restrição dos horários das sessões, os doentes não só aderiram ao programa de exercício físico e educação para hábitos de vida saudáveis proposto como obtiveram excelentes resultados na melhoria da saúde cardiovascular.
Conclusões do estudo
“O estudo permitiu demonstrar que na fase IV de reabilitação cardíaca, o exercício no domicílio melhora a capacidade cardiorrespiratória, a frequência cardíaca no pico de esforço e a de recuperação num grupo de doentes que já tinha parado a fase III de reabilitação cardíaca há 9 meses atrás”, referiu Mesquita Bastos.
O cardiologista acrescentou: “O estudo demonstrou que um programa de exercício efetuado em casa e supervisionado a distância foi capaz de aumentar a tolerância ao exercício ao fim de apenas 8 semanas”. Um ganho que está, naturalmente, associado a um menor risco de mortalidade e a um melhor prognóstico.
Com as fases III / IV da reabilitação cardíaca a serem realizadas nos domicílios dos doentes, Mesquita Bastos considera que, “é possível abranger uma maior população, incluindo a que se encontra impedida de o fazer pela distância até aos locais dos programas (hospitais, clinicas) e, desta forma, criar uma rede de reabilitação com todo o suporte tecnológico que hoje existe”.
A recuperação em casa dos pacientes leva a custos para o Sistema Nacional de Saúde proporcionalmente menores, mas o cardiologista lembrou que este tipo de reabilitação “não substitui a reabilitação feita no internamento [fase I] nem na maioria dos doentes a feita logo após a alta [fase II]”.