No Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) os avanços no diagnóstico e tratamento que têm vindo a contribuir significativamente para a sobrevivência e prognóstico favorável dos doentes, mas, “de acordo com a evidência científica disponível, 1 em cada 5 doentes que sobrevivem ao internamento hospitalar apresenta um novo evento: morte cardiovascular; EAM ou acidente vascular cerebral, durante o primeiro ano após um EAM”, referiu Sílvia Monteiro, Cardiologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e coordenadora da área dos Cuidados Intensivos Cardíacos da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
A cardiologista acrescentou que “20% dos doentes sem evidência de complicações cardiovasculares no primeiro ano sofrem um novo evento nos três anos seguintes.”
Doenças como diabetes, doença renal crónica, doença arterial periférica ou doença aterosclerótica em múltiplos territórios vasculares, associada ao mau controlo dos fatores de risco cardiovasculares e a uma terapêutica desadequada ou em casos do abandono precoce da medicação prescrita, potenciam um segundo evento cardíaco.
Como forma de assinalar o Dia Nacional do Doente Coronário, Sílvia Monteiro vem alertar para a importância “de uma abordagem estruturada e integrada de prevenção secundária, com uma colaboração estreita entre a Cardiologia e a Medicina Geral e Familiar no acompanhamento do doente pós-EAM”, que são determinantes para a melhoria do prognóstico dos doentes e para evitar um novo EAM.
A prevenção para que um evento cardiovascular não se repita está ainda dependente de uma terapêutica adequada, que, indicou a cardiologista, deverá passar pela utilização de antiagregantes plaquetares que assumem “um papel fundamental no tratamento de fase aguda do enfarte e na prevenção da recorrência de eventos a longo prazo, pelo que é recomendada a manutenção de dupla antiagregação plaquetar durante pelo menos 12 meses após EAM, exceto quando o risco hemorrágico é proibitivo”
Sílvia Monteiro acrescentou ainda que “a descontinuação ou suspensão prematura desta terapêutica constitui um fator de risco importante na recorrência de EAM” e lembrou que “têm sido investigados novos alvos terapêuticos e novas estratégias de prevenção, incluindo o prolongamento desta terapêutica para além dos 12 meses habitualmente recomendados em doentes de alto risco isquémico”, e por isso é fundamental “a seleção criteriosa e individualizada da terapêutica antiagregante plaquetar e da sua duração, de acordo com o risco isquémico e hemorrágico do doente”.
O sucesso de qualquer terapêutica está também muito dependente do doente pois tem de assumir o seu papel no tratamento pós enfarte e na prevenção de um segundo evento cardíaco, que envolve:
■ respeitar a medicação prescrita;
■ adotar um estilo de vida saudável;
■ cumprir cessação tabágica;
■ adotar uma dieta equilibrada;
■ praticar atividade física;
■ controlo de fatores de risco, como a diabetes, pressão arterial e níveis de colesterol.
Sílvia Monteiro lembrou também que é importante ainda gerir a ansiedade do doente face à probabilidade de um novo evento cardíaco. Para isso, “a informação e educação do doente coronário e das respetivas famílias são essenciais para a compreensão do evento agudo e para a gestão das expetativas de vida a longo-prazo”.
“A comunicação clara dos objetivos terapêuticos, o envolvimento do doente no plano terapêutico e a tomada de consciência de que o futuro depende essencialmente das escolhas feitas pelo próprio doente são fatores decisivos para gerir o medo da recorrência de eventos cardiovasculares e morte após EAM” são também importantes lembrou a cardiologista.