A presbiopia, que a partir dos 40 anos começa a afetar muitos portugueses, bem como outras doenças causadas pelo envelhecimento do sistema visual, estão em debate no 61º Congresso Português de Oftalmologia, que decorre de 5 a 8 de dezembro, em Vilamoura.
Isabel Almasqué, oftalmologista, membro da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e presidente honorária do encontro, explicou que a presbiopia resulta de “uma evolução fisiológica do nosso sistema visual”, e é caracterizada por “uma perda progressiva e fisiológica da capacidade de ver ao perto a partir da quarta década de vida”.
A presbiopia não é considerada uma doença, no entanto, “obriga habitualmente ao uso de uma correção ótica para ver ao perto”, mas “a maior parte das pessoas não gosta de usar óculos”. Nos últimos tempos têm vindo a surgir “várias alternativas cirúrgicas inovadoras, que permitem resolver esta situação sem recorrer ao uso de óculos”, e estas alternativas têm “atraído a atenção do público em geral e concentrado o interesse de muitos oftalmologistas que se dedicam a esta área.”
Verifica-se haver um cada vez maior tempo de vida e isso tem consequências pois “o nosso sistema visual tem exatamente a mesma idade de cada um de nós”, o que significa que o envelhecimento da população corresponde a um “aumento do número das doenças oculares mais frequentes em idades avançadas, nomeadamente a Degenerescência Macular relacionada com a Idade (DMI), a retinopatia diabética, as cataratas ou o glaucoma”.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), indicam que “a DMI constitui a principal causa de cegueira nos países industrializados. Se extrapolarmos para Portugal a prevalência de DMI nestes países, teremos um total de cerca de 85.000 casos, estimando-se que, anualmente, surjam cerca de 3.000 novos casos de DMI exsudativa no nosso país”, referiu a especialista.
No caso do glaucoma, “é considerado a segunda maior causa de cegueira a nível mundial (a seguir às cataratas) e a primeira causa de cegueira irreversível. Embora os dados atuais não sejam rigorosos, devido ao grande número de casos por diagnosticar, (cerca de 50% ), estima-se que cerca de 3% da população mundial com mais de 40 anos tenha glaucoma e que existam atualmente cerca de 7 milhões de cegos bilaterais por glaucoma”.
As doenças progressivas são cada vez uma maior preocupação, pois “quanto mais tarde são diagnosticadas, mais interferem de maneira negativa na vida pessoal e social dos doentes e mais recursos económicos exigem para o seu tratamento. Por isso, nunca é demais insistir na importância da vigilância regular pelo oftalmologista”.
Para os oftalmologistas é fundamental poderem diagnosticar as doenças da visão “o mais precocemente possível, de modo a poderem tratar as que são tratáveis e a retardar a evolução daquelas que ainda são consideradas incuráveis”.
A especialista lembrou que “há muitas patologias oculares cuja evolução, lenta e silenciosa, só afeta a visão tardiamente, como é o caso do glaucoma ou de algumas doenças degenerativas da retina. Por isso, é necessário que as pessoas consultem regularmente o seu oftalmologista, mesmo quando aparentemente não têm dificuldades visuais, ou quando pensam que uma simples mudança de lentes pode eventualmente resolver o problema”.
O congresso da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia vai ainda debater outros temas, ao mesmo tempo que se realiza a reunião do BIOPSY 2018.
O BIOPSY é “uma sociedade científica de grande prestígio, ligada à Universidade de McGill, em Montreal”, criada em 2008 e que se “dedica à investigação anatomo-clínica na área da oftalmologia e promove reuniões de dois em dois anos em vários países”.
Esta reunião do BIOPSY 2018 em simultâneo com o congresso da SPO demonstra “o reconhecimento do nível da oftalmologia portuguesa” já atingiu, lembrou a oftalmologista Isabel Almasqué.