Os pés passam cerca de 2/3 da nossa vida fechados, razão pela qual lhes damos pouca importância. Durante a estação do verão, devido a uma maior exposição, a preocupação com os pés é maior, porém a falta de cuidados especiais aumenta o número de patologias.
O aumento da temperatura, o excesso de transpiração, o calçado aberto ou a sua ausência nas praias e zonas de banho são motivo para o aparecimento de algumas patologias dos pés mais típicas de verão.
A xerose cutânea, conhecida por pele seca, é uma das principais complicações de verão devido à exposição dos pés ao ar, ao calor, às areias, ao excesso de transpiração e à permanência excessiva dentro de água, nas praias ou piscinas. Esta patologia provoca pele seca, por vezes áspera e com fissuras nas zonas da planta dos pés e nos calcanhares, que podem representar riscos elevados para a pele e para o organismo. As fissuras ou gretas são a porta de entrada para os microrganismos responsáveis por algumas infeções da pele e tecidos como as celulites ou outras com elevado risco para o doente.
As infeções da pele dos pés são também muito frequentes, pela vulnerabilidade da pele seca e fissurada e pelo contacto com zonas contaminadas, como sejam as de acessos às piscinas, bares de praia e casas de banho ou chuveiros.
As infeções podem ser provocadas por diversos micro-organismos, como bactérias, fungos e vírus. O aparecimento de dermatomicoses, panarícios, verrugas plantares, entre outras são frequentes nesta época do ano. O cuidado preventivo é fundamental, assim como o diagnóstico precoce e o tratamento especializado pelo podologista são determinantes para o sucesso da recuperação.
As queimaduras solares nos pés são muito frequentes, devido à negligência e à indiferença das pessoas por esta zona do seu corpo. A colocação de protetor solar no dorso dos pés e nos dedos é um gesto simples e recomendável, que evita queimaduras e pode também prevenir o cancro da pele.
Os cuidados diários com os pés são fundamentais para permitir um melhor estado geral de saúde da pessoa, funcionalidade e estabilidade do pé e da marcha. A “boa” saúde dos pés garante uma melhor qualidade de vida, melhor produtividade laboral e performance desportiva.
Lavar os pés diariamente com um sabão de pH neutro, promover uma secagem eficaz sem fricção e aplicar um creme hidratante são ações fundamentais para manter uma boa integridade da pele. No caso de existir hiperidrose, excesso de transpiração, deve ser usado um antitranspirante de forma controlar a perda de água e xerodermia.
Não andar descalço em locais públicos, usar chinelos em instalações como piscinas, balneários e saunas é fundamental para prevenir e evitar o contacto com bactérias e fungos. Este gesto evita, quase na totalidade, a contaminação por microrganismos responsáveis por algumas infeções, assim como os traumatismos do pé e da pele.
As unhas têm como função proporcionar o efeito de alavanca durante o caminhar e de proteção da zona distal dos dedos. São suscetíveis a microtraumatismos provocados pelo calçado apertado e vulneráveis a infeções fúngicas e a processos de onicocriptoses (unhas encravadas).
O cuidado com as unhas é igualmente importante, começando com um corte ungueal de forma correta. Perante lesões dermatológicas, o autotratamento está contraindicado já que o uso de material não adequado e, na maioria dos casos não esterilizado, associado às limitações individuais, origina um risco elevado de erro. Atendendo às características das unhas e à sua composição, é igualmente recomendável a hidratação e a preservação da sua morfologia. Não devem ser retiradas as “cutículas”, porque estas significam uma proteção e barreira para as infeções. O corte das unhas deve ser feito com alicate individual e de forma reta.
Desde que as unhas estejam em condições de saúde normal, sem qualquer alteração, podem ser pintadas durante períodos de tempo curto. Não se deve manter as unhas impermeabilizadas e sem luz mais que 7 dias, correndo o risco de ocultar alguma alteração na fase inicial. Sempre que existem alterações da unha esta não deve ser pintada, mas sim tratada.
O uso de peúgas é importante para um melhor controlo da humidade nos pés e para evitar as forças de atrito e fricção entre a pele e o calçado, como bolhas, queimaduras ou feridas. O calçado, para além de ser estável e protetor, deve ser de material natural com caraterísticas de respirabilidade e sem compromissos de traumatismo. Deve ter-se atenção ao calçado tipo sandália com tiras, que podem provocar compromissos de circulação e risco vascular, se forem demasiado apertadas.
Consulte um podologistas sempre que exista qualquer sinal ou sintoma de patologia nos pés, ou no caso de não existir qualquer alteração nos pés deverá realizar uma consulta de podologia 1 vez por ano como medida preventiva.
Autor: Manuel Portela, podologista e presidente da Associação Portuguesa de Podologia
A Associação Portuguesa de Podologia (APP) tem como principal objetivo a promoção da Podologia em Portugal. A Podologia é a ciência da área da saúde que estuda, previne, diagnostica e trata as alterações dos pés e as suas repercussões no corpo humano.