Nova tecnologia em desenvolvimento por uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra permite libertação prolongada e controlada de fármacos e outras moléculas com atividade terapêutica nas mais diversas patologias oculares.
Depois da investigação de base e já na fase de “negócio”, o projeto “inEye” arrancou em 2017 com a angariação de cerca de 100 mil euros em dinheiro e serviços atribuídos no âmbito de várias iniciativas, nomeadamente, o concurso Arrisca C e mais recentemente o projeto Inov C 2020 atribuiu-lhe uma Bolsa de Prova de Conceito.
A tecnologia consiste num dispositivo que promete substituir a aplicação diária de gotas para olhos, por exemplo, em doentes com glaucoma ou em recuperação de cirurgias às cataratas. O dispositivo é colocado junto ao olho, na pálpebra inferior, para dosear o medicamento de forma controlada e por um longo período de tempo e assim facilitar a adesão à terapêutica, pois deixa de ser necessário diariamente e de forma manual proceder à colocação de gotas no interior dos olhos.
Para Marcos Mariz, um dos responsáveis do projeto, as vantagens são inúmeras e não se esgotam na possibilidade de substituir a aplicação diária nos olhos, pois o dispositivo “inEye” pode operar “até dois ou três fármacos diferentes em simultâneo”. O especialista acrescentou: “Em situações de pós-operatório, em que é complicado aos doentes seguir a terapêutica com gotas de vários medicamentos em simultâneo, ou em casos como os de glaucoma, que afetam pessoas de idade que revelam ter dificuldade em colocar as gotas ou em lembrar-se se já as colocaram. Nestes casos esta é uma solução que garante um tratamento contínuo, uma vez que é suficientemente flexível para ter libertações de fármacos ao longo de sete a 300 dias”.
Os investigadores acreditam que a nova solução pode resolver um dos problemas que enfrente muitas vezes a indústria farmacêutica nos países com dificuldades em armazenamento deste tipo de medicamentos, com acontece em vários países em África.
“Muitas gotas exigem refrigeração e só têm validade de um mês depois de abertas”, neste caso com o novo dispositivo “o doente tem garantida a estabilidade do produto, fica com o tratamento garantido por vários meses e não precisa de frigorífico”, explicou o especialista.
A equipa do projeto indicou que nos próximos meses vai decorrer o primeiro ensaio in vivo da tecnologia para avaliar a segurança e tolerabilidade do dispositivo. Assim, o “inEye” placebo (sem fármaco) vai ser aplicado em animais de companhia, e o passo seguinte é ensaio em voluntários saudáveis, num estudo que vai envolver várias unidades hospitalares do país.