Uma equipa internacional de investigadores, liderada pela Universidade McMaster, no Canadá, descobriu que, embora mais altas temperaturas e humidade possam retardar a propagação da COVID-19, maior número de horas de Sol estão associadas a uma maior incidência da doença, o que indica que dias de Sol podem atrair mais pessoas mesmo que isso signifique um maior risco de infeção.
As descobertas, publicadas na revista Geographic Analysis, permitem uma contribuição para o amplo debate científico sobre como as mudanças de estação do ano, especificamente o clima mais quente, podem moldar a disseminação da COVID-19.
É conhecido que patógenos como influenza e SARS prosperam em temperaturas e humidade mais baixas, pouco se sabe sobre o SARS-CoV-2 que provoca a COVID-19.
“Há muita pressão para reabrir a economia, e muitas pessoas querem saber se será mais seguro nos meses de verão”, referiu Antonio Páez, professor e investigador da Escola de Geografia e Ciências da Terra na Universidade McMaster, e principal autor do estudo.
Antonio Páez e outros investigadores da Universidade Politécnica de Cartegena, Espanha, e da Universidade Federal de Pernambuco, no Brasil, investigaram fatores climáticos na disseminação da COVID-19 em várias províncias da Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia.
Os investigadores combinaram e analisaram dados sobre casos relatados da doença e informações meteorológicas durante um período de 30 dias, iniciado imediatamente antes da declaração do estado de emergência.
Nos níveis mais altos de calor e humidade, os investigadores descobriram que, para cada aumento percentual, havia um declínio de 3% na incidência de COVID-19, possivelmente porque as temperaturas mais altas restringem a viabilidade do vírus.
Os investigadores verificaram que quantas mais horas de sol no dia maior era propagação, pelo que consideram que o aumento da propagação da COVID-19 pode estar relacionada ao comportamento humano, uma vez que as pessoas tendem a manter-se mais isoladas nos dias sem sol.
Outros dados observados foi de que as taxas de transmissão caíram entre populações mais idosas, o que pode sugerir que essas populações consideram-se em maior risco e, portanto, têm maior probabilidade de se manter mais confinadas.
Enquanto os adultos mais velhos são mais vulneráveis à doença, os investigadores acreditam que, em geral, é menos provável que contribuam para a disseminação da doença, porque eles são mais propensos a ficarem isolados dos outros devido a problemas de saúde ou mobilidade.
Antonio Páez enfatiza que modelos como o que ele ajudou a desenvolver mostram que o contágio da COVID-19 diminui à medida que o confinamento progride, possivelmente até o ponto de fuga – um argumento para manter a disciplina, apesar da aproximação de um clima agradável.
“Provavelmente veremos uma diminuição na incidência do COVID-19 à medida que o clima esquentar, o que é um argumento para relaxar o distanciamento social e aproveitar a menor incidência associada a temperaturas mais altas”, referiu Antonio Páez. “Mas uma abordagem mais conservadora seria usar os meses de verão para continuar a seguir ordens estritas para permanecer no lugar e esmagar essa pandemia”.