As células comunicam entre si através de vários e diferentes mecanismos. Alguns desses mecanismos são bem conhecidos: em animais, por exemplo, ameaças podem impulsionar a libertação de norepinefrina, um hormónio que viaja através da corrente sanguínea e desencadeia células cardíacas e musculares para iniciar uma resposta de ‘luta ou fuga’.
Um modo muito menos familiar de transporte celular é a vesícula extracelular (VE). Os VEs podem ser pensados como pequenas “peças” de uma célula capazes de circular por todo o corpo para entregar uma carga de mensagens a outras células. Estes mensageiros tornaram-se cada vez mais reconhecidos como mediadores cruciais da comunicação célula-célula.
Num novo estudo, já publicado na revista ‘Science Advances’, investigadores da Universidade de Nagoya, Japão, desenvolveram um dispositivo médico que pode capturar eficientemente os VEs e usá-los para detetar o cancro.
Takao Yasui, autor principal do estudo, referiu que os “VEs são potencialmente úteis como marcadores clínicos. A composição das moléculas contidas num VE pode fornecer uma assinatura de diagnóstico para certas doenças”.
“O desafio contínuo para os médicos, em qualquer campo, é encontrar uma ferramenta de diagnóstico não-invasiva que lhes permita monitorar os pacientes regularmente, através, por exemplo, de um simples exame de urina”.
Entre muitas moléculas, verificou-se que os VEs são microRNAs, ou seja, pequenos fragmentos de ácido ribonucleico que desempenham vários papéis na biologia celular normal. Criticamente, a presença de certos microRNAs na urina pode servir como indicador vermelho para condições graves, como cancro da bexiga e da próstata.
Embora esta carga importante possa, teoricamente, ajudar os médicos em diagnósticos de cancro, ainda existem muitos obstáculos tecnológicos que precisam ser superados. Um desses obstáculos é encontrar um método viável para capturar VEs em quantidades suficientes para os analisar numa configuração clínica de rotina.
“O conteúdo de VE na urina é extremamente baixo, menos de 0,01% do volume total de fluidos. Esta é uma grande barreira para ser usado num diagnóstico”, explicou Takao Yasui, pelo que, acrescentou: “A nossa solução foi incorporar nanofios de óxido de zinco num polímero especializado para criar um material que, acreditávamos, ser altamente eficiente na captura dessas vesículas. As nossas descobertas sugerem que o dispositivo é bastante eficiente. Obtivemos uma taxa de captura de mais de 99%, superando a ultracentrifugação, bem como outros métodos que estão atualmente a ser usados”.
Para testar o dispositivo na prática diária, a equipa de investigadores comparou os microRNAs de VEs de pacientes saudáveis com os de pacientes com diagnóstico já confirmado de cancro da bexiga, da próstata e de outros cancros. Notavelmente, a técnica exigia apenas 1 mililitro de urina – muito mais do que o típico ‘depósito’ fornecido durante um exame de rotina – e encontrou um número substancialmente maior e diferentes tipos de microRNAs, em comparação com a abordagem padrão de ultracentrifugação.
“Encontrar um marcador específico, reprodutível para ajudar a confirmar um diagnóstico de cancro é difícil. Isto é especialmente verdadeiro para microRNAs, que são uma classe relativamente nova de marcadores”, explicou Yoshinobu Baba, investigador e coautor do estudo.
“Às vezes, encontrar apenas um microRNA confiável é considerado um sucesso”, mas Yoshinobu Baba acrescentou: “Usando esta abordagem, ficamos surpreendidos ao descobrir que não apenas uma, mas combinações inteiras de microRNAs podem estar associadas a diferentes tipos de cancro. As conclusões são preliminares, é claro, mas esperamos que o nosso dispositivo possa ajudar a estabelecer as bases para formas mais fáceis de diagnosticar, o mais cedo possível, doenças que ameaçam a vida”.