A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) vem mais uma vez alertar que a retinopatia diabética é uma das mais frequentes consequências da Diabetes. De acordo com o Observatório Nacional da Diabetes, existem cerca 1 milhão de diabéticos em Portugal, com idades entre os 20 e os 79 anos, destes 44% não estão ainda diagnosticados, pelo que os doentes não sabem que sofrem da doença.
Dados que a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia pretende que sejam permanentemente lembrados, e em especial, que sirvam de maior consciencialização da doença no Dia Mundial da Diabetes, que se celebra a 14 de novembro.
Os doentes da diabetes vivem diariamente com a preocupação e temor de virem a sofrer também de retinopatia diabética, dado que esta pode levar à perda da visão. De facto, a nível ocular é a complicação mais frequente da diabetes.
A retinopatia diabética continua a ser a principal causa de cegueira na população ativa no mundo ocidental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é responsável por 5% das causas de cegueira no planeta, pelo que é fundamental o seu conhecimento e prevenção.
A SPO lembra que a diabetes é considerada “a primeira pandemia do século XXI e um dos mais sérios problemas de saúde pública dos tempos modernos”. A Federação Internacional de Diabetes estimava que em 2013 existissem 382 milhões de diabéticos, o correspondente a cerca de 8.3% da população mundial.
Portugal tem uma taxa de diabéticos de 13%, uma das taxas mais elevadas de prevalência da diabetes na Europa.
As previsões atuais indicam para um rápido crescimento de diabéticos nos próximos anos pelo que, se não forem tomadas medidas que contrariem esta tendência de crescimento, dentro de 25 anos o número de diabéticos no mundo rondará os 600 milhões, cerca de 10% da população mundial.
João Figueira, Coordenador do Grupo Português de Retina e Vítreo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, lembra, citado pela SPO, que “para evitar o aparecimento, bem como a progressão da retinopatia diabética, é fundamental promover hábitos de vida saudável, exercício físico regular, abolição de hábitos tabágicos, sendo fundamental um bom controlo da diabetes, da tensão arterial e da ficha lipídica”.
“A doença é muitas vezes assintomática, pelo que o doente não se apercebe da gravidade das suas lesões oculares”, sendo aconselhável, indica João Figueira, “uma consulta regular com o oftalmologista, que deve ser feita, pelo menos uma vez por ano”.
Os rastreios oftalmológicos são uma metodologia “perfeitamente validada” para o controlo da retinopatia diabética. No entanto, a SPO chama a atenção para não serem confundidos os ‘rastreios oculares’ organizados pelo sistema nacional de saúde, com outros ‘rastreios visuais’ organizados, quase todos, com fins comerciais.
Os rastreios do sistema nacional de saúde destinam-se ao diagnóstico da maioria das patologias oculares, como seja a retinopatia diabética. Os rastreios por outras entidades “servem normalmente para o diagnóstico de erros refrativos e prescrição de óculos”.
A retinopatia diabética é uma doença que evolui sem que a maioria dos doentes se aperceba, e quando é diagnosticada poderá já estar num estado avançado em que já não é possível recuperar a visão perdida. Quando os sintomas já são percebidos, estes podem incluir, visão turva, perda de visão periférica, sensação de pressão nos olhos, pontos negros flutuantes (as persistentes moscas ou teias de aranha), flashes de luzes e perda súbita de visão.
A retinopatia diabética não tem cura, a prevenção e o diagnóstico precoce podem retardar a doença.
A SPO salienta que o “controlo regular dos olhos dos diabéticos é crucial para um diagnóstico precoce das alterações oculares associadas à diabetes, o que permite um encaminhamento atempado dos doentes que necessitam de tratamentos diferenciados e se traduz em melhores resultados visuais para o diabético”.
Numa consulta de oftalmologista, o médico recorre normalmente a alguns exames que lhe permite fazer um diagnóstico sobre a retinopatia diabética. São exemplos de exames, o de ‘fundo do olho’ ou de ‘olho dilatado’, em que há o recurso a gotas no olho para abertura das pupilas, e assim permitir ver o interior do olho, e o exame por ‘fotografia da retina’, que consiste numa foto ao interior do olho com uma câmara especial.
Numa situação de diagnóstico de retinopatia diabética numa fase inicial, o tratamento poderá passar por manter os níveis de açúcar no sangue e as tensões arteriais controladas, para que a doença não evolua para uma situação mais grave. Pelo contrário, quando o diagnóstico já se verifica numa fase mais avançada, a avaliação do oftalmologista poderá considerar tratamentos como a fotocoagulação que, com recurso a laser, vai impedir o aparecimento ou regredir os vasos anormais que se formam na retina, a injeção intravítrea em que compostos vão impedir o desenvolvimento de vasos anormais na retina, e a vitrectomia, ou seja, uma intervenção cirúrgica para remover o sangue que pode sair dos vasos da retina para a parte central do olho. No entanto, o doente deve ter sempre presente que os tratamentos não permitem curar a doença mas apenas tentar retardar a sua evolução.