Um detetor de radioatividade desenvolvido na Universidade de Aveiro (UA) mede em tempo real os níveis de radioatividade da água dos rios utilizada pelos sistemas de refrigeração das centrais nucleares. O detetor de trítio acaba de ser instalado para medir a radioatividade da central espanhola de Almaraz, que utiliza a água do Tejo para arrefecimento.
O trítio é um elemento radioativo que na água em elevadas quantidades fará disparar os alarmes. As análises aos níveis de trítio das águas libertadas no arrefecimento dos reatores nucleares eram, até agora, realizadas em laboratório. Estas análises demoram entre 3 a 4 dias entre a recolha das amostras de água, o envio, a análise e a divulgação dos resultados.
Agora, com a elevada sensibilidade conseguida com o detetor da UA os níveis de trítio já podem ser acompanhados em tempo real. E se houver um súbito aumento da radiação na água, com a monitorização em tempo real, o alarme é imediato e as medidas de contenção podem ser rapidamente aplicadas.
O detetor desenvolvido no laboratório do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (I3N) do Departamento de Física da UA, o detetor tem por base o trítio, um material indicador da presença de outras partículas radioativas. Isótopo do hidrogénio, o trítio é produzido na água de arrefecimento dos reatores nucleares quando os neutrões interagem com o núcleo do hidrogénio presente nas moléculas de água, explicou a UA.
Selo de garantia da qualidade da água
“A medição de trítio em tempo real, para além de monitorizar o nível de radioatividade na água que retorna ao rio depois de passar pela central nuclear, pode ser usado como um alerta de eventuais problemas na própria central nuclear”, explicou o investigador Carlos Azevedo que, a par com o investigador João Veloso e coordenador do projeto na UA, foram responsáveis pelo desenvolvimento do detetor.
O projeto TRITIUM foi aprovado e desenvolvido no âmbito do financiamento obtido através do programa Europeu INTERREG-SUDOE onde, para além da UA, participam a Junta de Extremadura (Espanha), as universidades da Extremadura e de Valência (Espanha) e a Universidade de Bordéus (França).
De acordo com a norma europeia 2013/51/EURATOM que determina a concentração máxima de trítio em água para que esta possa ser considerada para consumo humano, “obriga a que sejam feitos outros testes de isótopos na água sempre que o trítio atinge um nível elevado, pois geralmente quando há excesso deste material há também outros radioisótopos”, esclareceu o investigador, citado pela UA.
O detetor de trítio foi já instalado para testes na estação de monitorizarão de Arrocampo, junto à central nuclear de Almaraz, e encontra-se em funcionamento. Mas o futuro do detetor em tempo real de radioatividade pode passar também por outras centrais nucleares já que este novo dispositivo garante a qualidade da água consumida e o respetivo abastecimento às populações nos limites de radioatividade impostos pela norma Europeia da EURATOM.