A capacidade das bactérias se tornarem resistentes a antibióticos, em especial aos antibióticos da família das penicilinas, tem constituído um dos maiores problemas para a comunidade médica e científica e que esta vem enfrentado nos últimos anos.
Os cientistas sabem que o mecanismo epidemiologicamente mais importante de resistência a antibióticos em ‘Staphylococcus aureus’ está associado com o gene mecA, ou seja, a resistência acontece pela aquisição do mecA, que quando está presente permite às bactérias continuarem a multiplicar-se mesmo na presença de antibiótico.
Os cientistas indicam que a introdução do mecA no cromossoma do ‘Staphylococcus aureus’ levou ao surgimento de uma pandemia de ‘Staphylococcus aureus’ resistente à meticilina, responsável por altas taxas de mortalidade em todo o mundo.
Também já era conhecido que o gene mecA evoluiu de um gene inofensivo, mas o que até agora não se sabia era a origem e de que forma esta evolução se processa.
Uma equipa de investigadores, liderada por Hermínia de Lencastre e Maria Miragaia, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA), demonstraram, agora, como é que o gene evoluiu, quais os mecanismos envolvidos e o número de vezes que a resistência emergiu de forma independente.
No estudo os investigadores procederam à sequenciação de genomas de 106 estirpes de S. sciuri, S. vitulinus e S. fleurettii e foram determinados perfis de suscetibilidade à oxacilina, um antibiótico pertencente ao grupo das penicilinas.
Os resultados da investigação que já se encontram publicados na revista científica ‘PLOS Genetics’ demonstram que o uso de antibióticos no tratamento de infeções e como aditivos na alimentação de animais de produção para consumo humano, foram os factores que mais contribuiram para a evolução do gene inofensivo para a versão que permite resistir aos antibióticos.
O trabalho de investigação resulta de uma colaboração internacional entre cientistas do ITQB NOVA, em Portugal, e cientistas suíços, dinamarqueses, ingleses e norte-americanos.
“O objectivo deste estudo foi o de identificar os passos do processo de evolução que permitiram que um gene inofensivo em bactérias as tornasse resistentes aos antibióticos da família das penicilinas”, referiu Maria Miragaia, a investigadora responsável pelo projeto, citada em comunicado do ITQB NOVA, e acrescentou: “Os nossos resultados subinham a importância de se controlar o uso de antibióticos nos hospitais e na indústria pecuária, como forma de limitar e prevenir o aparecimento de novos genes de resistência”.