Daniel Fernandes, do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Departamento de Antropologia Evolutiva da Universidade de Viena, na Áustria, fez parte de uma equipa de cientistas que descobriu três esqueletos que datam do período das migrações bárbaras, também conhecido como o período das grandes migrações, que ocorreram no século V d.C.
Comunicado da Universidade de Coimbra indicou que “as ossadas, que foram descobertas numa vala em Osijek, cidade do leste da Croácia, correspondem a três adolescentes do sexo masculino com idades compreendidas entre os 12 e 16 anos”, e que “estarão associados à presença de vários povos nómadas, como os hunos e / ou tribos germânicas, designadamente gépidas e ostrogodos, nesta zona da Europa”.
Os resultados do estudo dos restos dos esqueletos que foram descobertos foram publicados, hoje, 21 de agosto, na revista científica PLOS One, com o título “Cranial deformation and genetic diversity in three adolescent male individuals from the Great Migration Period from Osijek, eastern Croatia”.
O estudo permitiu identificar “diferentes tipos de deformações cranianas artificiais em dois indivíduos e diferentes afinidades genómicas, apesar das semelhanças na idade à morte, sexo, saúde e dieta dos três adolescentes”, referiu Daniel Fernandes, primeiro autor do artigo.
A deformação craniana artificial é um ato intencional realizado em crianças com o objetivo de obter uma forma de crânio desejada. O comunicado da Universidade de Coimbra indicou “que há registos da prática deste fenómeno em várias culturas antigas em todo o mundo para demonstrar identidade de grupo e / ou individual, por exemplo, evidenciar o estatuto, nobreza ou afiliação de uma determinada classe ou grupo”.
Os cientistas verificaram através dos ossos, que os adolescentes apresentavam desnutrição severa e patologias o que sugerem que tiveram uma experiência prolongada e grave de stress,descreve no comunicado a Universidade de Coimbra. Uma observação “surpreendente foi que eles tinham grandes diferenças na sua ancestralidade genética. Os resultados das análises genéticas com base em dados nucleares de DNA indicam que um dos indivíduos com deformação craniana artificial apresenta maioritariamente ancestralidade do leste asiático, e é, até onde sabemos, o primeiro indivíduo do período das migrações bárbaras geneticamente asiático a ser encontrado na Europa”, afirmou Ron Pinhasi, da Universidade de Viena, Áustria, e Mario Novak, do Instituto de Investigação Antropológica de Zagreb, Croácia, citados no comunicado.
Para Daniel Fernandes os resultados deste estudo sugerem “a possibilidade de que diferentes grupos interagiam em proximidade uns com os outros nesta região durante o período das grandes migrações, mas também levanta algumas questões que só futuros estudos com muitas mais amostras nos ajudarão a compreender, como, por exemplo, perceber se é possível associar um tipo de deformação a um grupo específico”.
Os cientistas combinaram métodos bioarqueológicos, isotópicos e DNA para análise dos padrões alimentares, sexo e afinidades genéticas dos três indivíduos descobertos durante as escavações realizadas em 2013.