Estudo pioneiro realizado por cientistas nas Universidades de Oxford e de Birmingham, e publicado na revista científica “Nature”, a 29 de maio, pode levar ao desenvolvimento de terapias direcionadas em doenças inflamatórias.
A equipa de investigação mostrou, pela primeira vez, que diferentes tipos de fibroblastos, ou seja, as células mais comuns do tecido conjuntivo, são organizados em diferentes camadas na articulação, e são responsáveis por duas formas muito diferentes de artrite: a osteoartrite e a artrite reumatoide.
Para os investigadores as terapias direcionadas podem alterar o comportamento dos fibroblastos para reduzir a inflamação e a destruição tecidual nas duas doenças, sem a necessidade de imunossupressão a longo prazo ou de substituições articulares.
Chris Buckley, investigador principal, Instituto de Inflamação e Envelhecimento, da Universidade de Birmingham e Diretor de investigação Clínica do Instituto Kennedy da Universidade de Oxford, referiu: “Se compararmos os fibroblastos ao solo, esta investigação mostrou, pela primeira vez, que solo não é todo o mesmo”.
“Assim como existem diferentes camadas de solo nos nossos jardins – solo superior e subsolo – existem diferentes tipos de fibroblastos nas articulações – e cada camada parece estar associada a um tipo diferente de artrite” indicou o investigador.
Se do ponto de vista da investigação a descoberta é relevante, “as implicações clínicas também são muito importantes”. Pela primeira vez foram identificamos “dois tipos diferentes de fibroblastos na articulação, que, assim como os diferentes tipos de solo, levam a diferentes tipos de artrite.
A camada superior de células é causadora da osteoartrite, enquanto na artrite reumatoide advém da camada de células inferior. Agora “descobrimos uma nova maneira de classificar e tratar a artrite com base nas células que a provocam, em vez de partir apenas das características clínicas e dos genes envolvidos”, referiu o investigador.
O investigador explicou: “As terapias atuais funcionam como um herbicida – elas matam as ervas daninhas, mas as ervas daninhas regressam se não continuar aplicar o herbicida. Esta pesquisa vai facilitar e permite que mudar o solo superior com o subsolo para tratar a artrite”.
“Saber que estamos a chegar perto de oferecer aos pacientes novas soluções é muito estimulante e estamos fazer isto porque estamos finalmente analisar doenças usando uma abordagem baseada em células orientada a processos através do projeto A-TAP”, indicou Chris Buckley.
Dois avanços técnicos e clínicos recentes ajudaram na descoberta dos investigadores: biópsias minimamente invasivas e sequenciamento unicelular. Estes dois desenvolvimentos permitiram que a equipa de investigação estuda-se as células fibroblásticas e sua localização na articulação e, identifica-se e descreve-se a biologia de subconjuntos distintos de fibroblastos responsáveis por mediar tanto a inflamação como os danos na cartilagem ou osso na artrite.
Adam Croft, primeiro autor do estudo, Professor Académico Clínico da NIHR em Reumatologia da Universidade de Birmingham, que foi anteriormente financiado com uma bolsa Wellcome Trust Clinical Career Development, acrescentou: “A artrite reumatoide é um desafio para tratar. Causa inflamação crónica nas articulações, levando a dor, inchaço e, ao longo do tempo, danos à articulação. E isto deve-se ao fato do próprio sistema imunológico do corpo atacar as articulações, o que leva a um influxo de células imunes ao revestimento da articulação.
Os tratamentos atuais visam estas células imunológicas diretamente ou tentam interromper os sinais que atraem as células para a articulação, mas nenhum tratamento atinge diretamente os fibroblastos, que são as células chave na patologia, esclareceu o investigador.
Agora “graças aos avanços da tecnologia”, foi possível, “pela primeira vez, identificar quais fibroblastos que são patogénicos na artrite e como eles contribuem para a doença”.
Desta forma é importante descobrir como tratar estes fibroblastos da articulação, e reduzir o influxo de células imunes para a articulação, levando a menos inflamação e destruição.
As novas “descobertas significam que agora temos uma justificação clara para o desenvolvimento de medicamentos direcionados para os fibroblastos das articulações e fornecer um tratamento mais eficaz para esta doença persistente”, concluiu o investigador.