A Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, indicou ontem, num Seminário sobre Tecnologias para a Acessibilidade e Inclusão, que decorreu no Auditório do Citeforma, em Lisboa, que “com o atual ritmo da evolução tecnológica” corremos “cada vez mais o risco de ficarmos para trás” e “perder este comboio, significará necessariamente a exclusão.”
Ana Sofia Antunes lembrou que no caso dos deficientes “os programas adaptados devem surgir, cada vez, com mais e mais frequência”, para que possam “acompanhar a rapidíssima e extraordinária evolução que a tecnologia, em geral, está a viver, seja ela ao nível do software ou de diferentes tipos de hardware.”
O desafio do ensino e do acesso às tecnologias
Para a Secretária de Estado colocam-se dois desafios, um deles ao nível do próprio ensino. Para exemplificar referiu: “Tive a sorte de ter acesso e ter, inclusive, quem na altura me prepara-se, me ajuda-se para estar apta” a ser “uma boa utilizadora das tecnologias e da informática. E isso fez toda a diferença na minha vida.”
“O facto de eu poder utilizar, nos dias de hoje, computadores e telemóveis com software, que substituem a simples leitura visual num ecrã, por áudio, fez toda a diferença na minha vida, e isso efetivamente é um desafio que tem de continuar, e temos de garantir que as escolas dão resposta a este desafio”, acrescentou Ana Sofia Antunes.
Mas o desafio “não é apenas naquilo que se refere ao processo tecnológico, puro e duro, mas dos técnicos, que efetivamente acompanham estes alunos (com deficiência) nas escolas, nomeadamente os docentes de educação especial – como foi o meu caso – terem a capacidade de colocar os alunos em interação com estas tecnologias”, da mesma forma “como o Estado deve ter a capacidade de colocar as tecnologias ao dispor destes alunos”, para que as possam usar quando precisam.
O primeiro desafio é garantir “o acesso à informática aos jovens que estão a fazer a sua formação” para “lhes permitir mais autonomia, mais independência e mais sucesso no seu percurso formativo” indicou a Governante.
O desafio da formação em informática e a empregabilidade
Numa segunda vertente, referiu: “O que notamos é que a formação profissional em informática torna-se, cada vez mais, uma área apelativa, dado que é uma área procurada pelos empregadores em geral”. Mas “uma das ideias formada na cabeça dos possíveis empregadores é de que as pessoas com deficiência não dominam as novas tecnologias”, ou seja, “não têm capacidade para dominar as novas tecnologias”, uma ideia “que precisamos de ir contrariando.”
Atualmente a “taxa de desemprego, em termos globais, é de 6,7%,” o que significa “cerca de 300 mil pessoas desempregadas em Portugal”. Mas “o que nós ouvimos frequentemente, em todos os meios de comunicação social, é que é muito difícil arranjar trabalhadores. Não há pessoas para o trabalho”, referiu a Secretária de Estado.
Mas para a Governante o que se verifica é “um desencontro entre aquilo que se procura e aquilo que está disponível”, e acrescentou: “Não sei até que ponto esta mediação está efetivamente a ser bem-feita”, pois, “custa-me ver tanta gente a falar em falta de mão-de-obra quando continuamos a ter nos quadros do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), qualquer coisa como 13 mil pessoas, pelo menos 13 mil, com deficiência que não consegue ter uma oportunidade de trabalho.”
“Esta é uma realidade que de alguma forma vamos tentar contrariar com uma próxima regulamentação das cotas de emprego no setor privado, mas mais do que isto, é preciso efetivamente ver em que áreas estamos a formar esta população com deficiência que busca uma oportunidade, no mercado de trabalho”, esclareceu a Secretária de Estado.
A informática é uma das áreas de formação que deve ser avaliada, e no próximo quadro comunitário deve ser ponderada “a forma como podemos estimular e potenciar o surgimento de mais e melhor formação específica para a população com deficiência, na área da informática”, pois referiu Ana Sofia Antunes, “sendo a realidade do emprego um desafio tão exigente eu prefiro ver os jovens com ou sem deficiência focados a fazer alguma coisa que gostem, do que apenas focados em alguma coisa que lhes dê uma saída, que lhes garanta emprego.”
Por outro lado devemos, concluiu a Secretária de Estado, “apostar naquilo que é conhecimento em novas tecnologias que poderá ser potenciado” e por isso “devemos ter a capacidade de olhar para o tipo de formação que estamos a disponibilizar a estes cidadãos e perceber até que ponto é que ela está ou não atualizada”, pois “nem a todas as pessoas podemos administrar formação mais avançada em determinadas áreas da tecnologia, mas temos certamente populações que gostariam de ter formação a esse nível, e se calhar não a têm disponível.”
Os deficientes, a formação e o emprego
Para Conceição Matos, Diretora do Departamento de Formação Profissional do IEFP, outra das participantes no Seminário, os deficientes têm mais desvantagens em relação ao emprego, têm menos formação e níveis de educação mais baixos. Uma realidade que levou o IEFP a apoiar, em 2017, mais de 27 mil pessoas com alguma deficiência, em ações de formação e ações de reabilitação com vista ao mercado de trabalho.
Para esta dirigente do IEFP é necessário demonstrar que os deficientes têm a mesmas capacidades, e referiu que dados do Eurostat de 2011 apontam que na União Europeia há cerca de 21 milhões de pessoas, em idade produtiva, com dificuldade em executar tarefas básicas. Um número que em Portugal se aproxima de um milhão.
Conceição Matos indicou ainda que, em Portugal, dados do Instituto Nacional de Estatística, de 2011, apontam para que 16,4% do total dos desempregados possuam um tipo de deficiência que lhes condiciona o acesso ao emprego, um número que na União Europeia sobe para 17,4%.