O Festival Internacional Vaudeville Rendez-Vous, promovido pelo Teatro da Didascália, regressa às cidades do Quadrilátero Cultural para mais uma edição – a 10.ª. Como forma de comemorar a efeméride, a iniciativa, que conta com um total de 15 espetáculos, expande-se, pela primeira vez, aos teatros e espaços convencionais, dando continuidade à missão assumida há precisamente 10 anos: eliminar fronteiras e confrontar o público com o desconhecido.
Uma década de apresentações nos espaços mais “inusitados”, de inconformidade com as convenções, de apelo à curiosidade do público e de introdução do circo contemporâneo no léxico cultural de uma audiência mais abrangente.
Ao longo de cinco dias, de 16 a 20 de julho, de programação intensa e fortemente centrada na acrobacia, Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão serão palco de quatro espetáculos em sala e de 25 apresentações no espaço público. Contando com oito estreias nacionais, o Festival destaca ainda sete atividades de mediação, incluindo oficinas e momentos de debate e partilha. O apelo ao diálogo intercultural é um dos pilares da edição deste ano, que conta com a participação de artistas nacionais e internacionais, com origem na Bélgica, Brasil, Chile, Coreia do Sul, Espanha, França, Países Baixos e Suíça.
Em ano de retrospetiva, Bruno Martins, responsável pela programação do Vaudeville Rendez-Vous e diretor artístico do Teatro da Didascália, refere que o Festival “se tem afirmado como uma importante montra do que de melhor se produz a nível nacional e internacional, com uma programação simultaneamente experimental e popular, capaz de desassossegar os públicos”. Com os olhos postos nos próximos 10 anos, o responsável não esquece o papel de todos os que contribuíram para o sucesso do Vaudeville, evocando “as muitas mãos que nos ajudaram a contar até 10 e que agora se erguem para acenar ao futuro”.
O circo também “encaixa” dentro de quatro paredes
Os dias iniciais da edição de 2024 ficam marcados pela “estreia” da iniciativa em espaços convencionais, com apresentações em quatro salas de teatro do Quadrilátero Minhoto. Bruno Martins clarifica esta decisão, expressando o desejo de desmitificar a ideia de que as artes do circo são uma linguagem artística vinculada à rua: “Com o assinalar da décima edição quisemos lançar uma reflexão alargada sobre o muito que ainda há por fazer no desenvolvimento do circo contemporâneo no contexto nacional, nomeadamente na sua representatividade nas grelhas de programação dos teatros por todo o país. O circo não é apenas uma arte de rua, assim como o teatro não é uma linguagem confinada às tábuas do palco; ambos podem acontecer em qualquer lugar, até mesmo num teatro”.
No dia 16 de julho, às 21h30, o Theatro Gil Vicente, em Barcelos, é o espaço que acolhe o arranque do Vaudeville Rendez-Vous com a estreia nacional de “Cá entre nós”, da companhia Doisacordes uma coprodução brasileira, chilena e espanhola. Este dueto poético, que, através de cordas e nós, explora a conexão e a reconexão entre dois indivíduos, foi já reconhecido pela circusnext, contando com o apoio da plataforma e da União Europeia.
No dia 17 de julho, também às 21h30 e em simultâneo, sobem ao palco três produções. O espaço gnration, em Braga, recebe “Masha”, uma abordagem inovadora, também laureada pela circusnext, à utilização do corpo humano enquanto aparelho de circo, apresentada pela primeira vez em Portugal pela dupla espanhola Palimsesta.
Numa edição que convida à reflexão sobre o papel do circo contemporâneo no panorama cultural, o artista francês Edouard Peurichard traz ao Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, “Le Repos du Guerrier” – um olhar intimista e crítico, com um formato documental, sobre o percurso profissional de um artista circense em final de carreira. A fechar a programação em espaços convencionais, a portuguesa Margarida Monteny apresenta-se na Casa das Artes de Famalicão com “BLUE”, um projeto de acrobacias aéreas criado especialmente para o interior.
Produções nacionais e internacionais voltam a invadir o espaço público
Além das apresentações nos teatros municipais, fãs e curiosos das artes circenses poderão continuar a contar com a habitual animação que toma conta das ruas de Barcelos, Braga, Guimarães e Famalicão durante o Vaudeville Rendez-Vous. A estreia nacional de “C’est pas là, c’est pas là”, uma proposta da companhia Galmae – sediada em Marselha e Seul –, é um dos momentos mais aguardados desta edição.
No dia 18 de julho, pelas 22h00, no Largo do Pópulo, em Braga, a audiência será a protagonista da performance do artista sul-coreano Juhyung Lee, que, com recurso a uma corda, promove a interação entre desconhecidos e a busca pelo sentido de comunidade.
O dia 18 de julho fica ainda marcado pelas estreias nacionais de “It happens”, da artista espanhola La Campistany (às19h00, na Praça de Pontevedra, Barcelos); “Ludo & Arsène”, da companhia belga Be Flat (às 19h00, na Alameda D. Maria II, Famalicão); “Idiòfona”, a mais recente criação do artista plástico espanhol Joan Català (às 19h00, no Paço dos Duques de Bragança, Guimarães); e “La Boule”, dos franceses Kim Marro & Liam Lelarge (às 22h00, na Praça de Pedra – Jardim do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães).
O circo contemporâneo nacional também se fará representar ao longo do Festival. A companhia emergente AbsurdA, fundada em Famalicão, em 2021, apresenta “HEQET”, uma criação inspirada nas pragas do Egito, nos dias 18 (às 19h00, na Praça Municipal, em Braga), 19 (às 19h00, no Largo de Donães, em Guimarães) e 20 de julho (às 11h00, no Parque da Juventude, em Famalicão).
O grupo Circo Caótico, presença habitual no Vaudeville Rendez-Vous, desafia a gravidade na Praceta Francisco Sá Carneiro, em Barcelos, e na Praça D. Maria II, em Famalicão (às 22h00 dos dias 18 e 19 de julho, respetivamente), com “Pó de Pedra”. Como resultado do programa de residências artísticas
Ensaios de Circo, da companhia Erva Daninha, a criadora e intérprete Inês Pinho apresenta “Os Gatos Caem Sempre de Cara ou Como Salvar as Abelhas”, nos dias 19 (às 19h00, na Praça Manuel SottoMaior, em Famalicão) e 20 de julho (às 11h00, na Praceta Francisco Sá Carneiro, Barcelos, e às 19h00, no Rossio da Sé, Braga).
Aprender e debater as artes circenses
Como habitualmente, a programação do Vaudeville propõe um conjunto de atividades de mediação, incluindo quatro oficinas acessíveis a todas as pessoas: a oficina de dança “Movimentado”, com André Araújo, a oficina de diábolo “Sòl”, com Dídac Gilabert, a oficina de acrobacia aérea “Voos Rasos”, com Daniel Seabra, e uma oficina de malabarismo, com Ariana Silva. Já Joan Català, artista espanhol que se apresenta na 10.ª edição do Festival com “Idiòfana”, propõe uma masterclass centrada no processo de criação artística e na relação do circo com o espaço público.
A sessão de trabalho, pensada para artistas e outros profissionais da área do circo e das artes de rua, está marcada para o dia 19 de julho, às 15h00, no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga.
No dia 20 de julho, às 15h00, no Café-Concerto da Casa das Artes de Famalicão, com a efeméride do 10.º aniversário do Festival Vaudeville Rendez-Vous em mente, a mesa-redonda “10 anos +” reúne profissionais da cultura que se têm dedicado à criação e programação do circo e artes de rua, convidando à reflexão sobre o que já foi feito e o que ainda está por fazer no âmbito da promoção desta linguagem artística em Portugal.
A participação nas atividades é gratuita, mas está sujeita a inscrição prévia através de formulários próprios. A restante programação do Vaudeville Rendez-Vous também é de acesso gratuito, aplicando-se normas específicas para a reserva de lugar nos espetáculos em espaços interiores. Todas estas informações, bem como os formulários de inscrição nas atividades de mediação, poderão ser encontradas em teatrodadidascalia.com/vaudeville-rendez-vous/.