Uma equipa internacional de médicos e investigadores descreveu pela primeira vez a patologia do novo coronavírus ou COVID-19. Um trabalho que já foi publicado na revista científica Thoracic Oncology, da Associação Internacional para a Estudo do Cancro do Pulmão.
O estudo é o resultado de uma parceria entre o autor sénior do estudo, Shu-Yuan Xiao, da University of Chicago Medicine, em Chicago, com um grupo de médicos do Hospital Zhongnan da Universidade de Wuhan, na China.
“Este é o primeiro estudo a descrever a patologia da doença causada pela pneumonia COVID-19 ou SARS-CoV-2, dado que nenhuma autópsia ou biópsia foi realizada até o momento”, referiu Shu-Yuan Xiao, e acrescentou: “As autópsias vão mostrar apenas alterações mais tardias ou finais da doença”.
O estudo descreve dois pacientes que foram submetidos recentemente a lobectomias pulmonares por adenocarcinoma e, retrospetivamente foi descoberto que tinham COVID-19 no momento da cirurgia. Os exames patológicos revelaram que, além dos tumores, os pulmões de ambos os pacientes exibiam edema, exsudato proteico, hiperplasia reativa focal de pneumócitos com infiltração celular inflamatória irregular e células gigantes multinucleadas. Nos espaços aéreos foram observadas células fibroblásticas.
“Como os dois pacientes não apresentaram sintomas de pneumonia no momento da cirurgia, essas alterações provavelmente representam uma fase inicial da patologia pulmonar da pneumonia por COVID-19”, referiu Shu-Yuan Xiao.
■ No caso da paciente do sexo feminino, de 84 anos, admitida para avaliação do tratamento de um tumor que media 1,5 centímetros no lobo médio direito do pulmão. O tumor foi descoberto na tomografia computadorizada ao tórax num hospital externo. A paciente tinha um histórico médico de hipertensão de 30 anos, além de diabetes do tipo 2. Apesar do tratamento abrangente, oxigenação assistida e outros cuidados de suporte, a saúde da paciente deteriorou-se e morreu. Informações clínicas subsequentes confirmaram que ela foi exposta a outro paciente, no mesmo quarto, que posteriormente se verificou estar infetado com o novo coronavírus de 2019.
■ No caso do paciente do sexo masculino, com 73 anos de idade, que se apresentou para uma cirurgia ao cancro de pulmão, com um pequeno tumor no lobo inferior direito do pulmão. Ele tinha um historial médico de hipertensão de 20 anos, que tinha sido adequadamente acompanhado. Nove dias após a cirurgia pulmonar, o paciente desenvolveu febre com tosse seca, aperto no peito e dor muscular. Um teste de ácido nucleico para SARS-CoV-2 deu positivo. O paciente recuperou gradualmente e recebeu alta após vinte dias de tratamento na unidade de doenças infeciosas.
De acordo com o estudo, estas duas incidências também tipificam um cenário comum durante a fase anterior do surto do COVID-19, durante o qual um número significativo de profissionais de saúde foi infetado nos hospitais de Wuhan e os pacientes no mesmo quarto foram infetados, pois foram expostos a fontes infeciosas desconhecidas. A presença de lesões pulmonares precoces dias antes dos pacientes desenvolverem sintomas, corresponde ao longo período de incubação (geralmente de 3 a 14 dias) do COVID-19, torna difícil impedir a transmissão durante os primeiros dias do surto, como foi o caso de muitos profissionais de saúde em Wuhan serem infetados, quando estavam a atender os pacientes sem proteção suficiente, indicou Shu-Yuan Xiao. Dados indicam que, em Wuhan, morreram mais de 15 médicos por COVID-19, devido a infeções adquiridas enquanto cuidavam de pacientes.
“Acreditamos que é imperativo relatar as descobertas da histopatologia de rotina para melhor compreensão do mecanismo pelo qual o SARS-CoV-2 causa lesão pulmonar nas dezenas e milhares de pacientes em Wuhan e no mundo”, referiu Shu-Yuan Xiao. Estudos adicionais realizados pela equipa do especialista e dos colaboradores sobre a patologia do COVID-19 por meio de biópsias post-mortem estão a decorrer, os quais devem fornecer dados sobre as alterações tardias desta doença.