O pescador de Vila Real de Santo António, José Estica, capturou no estuário do rio Guadiana uma corvinata real. Em face do peixe não ser originário da região o pescador questionou-se sobre a presença da espécie no Guadiana.
Os investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) também se mostraram perplexos, pela presença da espécie no Guadiana, refere o Centro em comunicado. Curiosamente, indica o CCMAR, outros exemplares da mesma espécie já tinham sido capturados em novembro de 2015, no Golfo de Cádiz e, recentemente na Galiza.
De acordo com os investigadores do CCMAR “os poucos registos da presença da espécie na Península Ibérica sugerem que a espécie poderá ter sido introduzida a apenas há um ou dois anos, apesar de já se encontrar em locais tão afastados”.
Uma equipa de investigadores do CCMAR identificou a nova espécie invasora no estuário do rio Guadiana, como sendo “a corvinata real (Cynoscion regalis) que é nativa da costa leste da América do Norte. O facto surpreendeu quer a comunidade científica, quer os pescadores locais, que se mostraram intrigados com a descoberta de uma espécie originária de um local tão distante”.
Como chegou a corvinata real ao Guadiana? Investigadores estudam pistas.
“A introdução de espécies não-nativas é bastante comum, inclusivamente no estuário do rio Guadiana. Porém, neste caso em concreto, os investigadores estão ainda a estudar a forma de introdução, uma vez que não há registo de exploração de corvinata real em viveiros de aquacultura europeus, e daí não ser possível a fuga de alguns indivíduos para rios e para o oceano”, esclarece o CCMAR.
Os investigadores consideram “a hipótese da espécie ter sido introduzida apenas num único local, através do seu transporte nas águas de lastro de navios, mas parece ser pouco plausível pois já há o registo da captura de corvinata real na Galiza. Ainda assim, a introdução por águas de lastro, em múltiplos locais, é sem dúvida uma hipótese a explorar”.
No rio Guadiana habita uma espécie de corvina, ou seja, a corvina legítima (Argyrosomus regius), pelo que para Pedro Morais, investigador do CCMAR, coloca-se a possibilidade da corvina ‘nativa’ não conseguir coexistir com a espécie não-nativa da corvinata real (Cynoscion regalis), “uma vez que ambas usam os estuários como locais de maternidade e alimentação”.
Ambas as corvinas pertencem à mesma família, mas têm características muito diferentes. “A corvina legítima pode atingir até dois metros de comprimento e quase cem quilos de peso, ao passo que a corvinata real não atinge, em idade adulta, mais de um metro de comprimento, e nove quilos de peso”, indicou Pedro Morais, citado em comunicado do CCMAR.
O trabalho de identificação da espécie foi possível devido à colaboração entre pescadores e o CCMAR, pelo que Alexandra Teodósio, investigadora do CCMAR, citada em comunicado, considera de grande importância a ligação entre investigadores e pescadores e a sociedade em geral na deteção de espécies aquáticas não-nativas e na identificação de outros problemas ecológicos, para que a investigação possa responder aos problemas das comunidades locais.