O 5.º Congresso Eucarístico Nacional (CEN) que decorreu em Braga de 31 de maio a 2 de junho de 2024. Sob o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança”, contou com a participação do cardeal José Tolentino de Mendonça.
O congresso onde estiveram representadas todas as dioceses portuguesas reuniu cerca de 1400 participantes, 4 cardeais e 30 bispos, que ao longo de três dias, participaram em conferências, painéis com testemunhos e workshops.
Os participantes também tiveram momentos celebrativos e culturais, como: eucaristia, adoração, laudes, vésperas, oração do terço, cantata eucarística, exposição e uma peregrinação a pé ao Santuário do Sameiro onde a Eucaristia de encerramento foi presidida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, delegado do Papa Francisco ao 5.º CEN.
Na homilia José Tolentino de Mendonça abordou as atuais situações de conflito referindo que “a disputa pelo pão pode torná-lo um referente anti-eucarístico”, e acrescentou: “Instrumentalizado pelo egoísmo, o pão torna-se não o símbolo do amor mas do egoísmo; não o que funda a prática da fraternidade, mas o signo da desigualdade social, da inquietante ideologia da exclusão e do descarte. O pão pode ter o perfume da paz ou estar na origem dos inúteis conflitos tóxicos e das devastadoras guerras. O pão pode ser aquilo que une ou a ferida que violentamente separa”.
O cardeal prossegiu interrogando: “A pergunta é se haverá solução? Se este drama se pode alguma vez resolver? Ou se estamos condenados a que o pão nos torne inimigos em vez de irmãos e iguais? A pergunta para nós cristãos é esta: qual é o papel da eucaristia na gestação de comunidades de esperança e na edificação de um mundo melhor?” e recordando a leitura do Livro do Deuteronómio, referiu: “o horizonte da nossa humanidade não se esgota na pura materialidade. O humano em nós não se realiza na obstinada e exclusiva procura do ter, mas é convocado a mais: é convocado a escutar a universal vocação divina que o atravessa. Sem o reconhecimento dessa vocação divina, o homem não chega a humanizar-se. Fica aquém do seu destino e não compreende, de modo cabal, a dignidade do seu Ser.”
Para a Igreja em Portugal foram dias festivos em que foi possível refletir e rezar a centralidade da Eucaristia na vida dos crentes e a missão confiada a cada um que comunga o Corpo de Jesus, de ser esperança no mundo e para o mundo, numa época desafiante e de vertiginosas transformações.
Num ano de oração convocado pelo Papa e em pleno processo sinodal, depois da JMJ Lisboa 2023 e antes do Jubileu de 2025 – “Peregrinos da Esperança” – o congresso levou a algumas linhas orientadoras para a Igreja em Portugal:
■ Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo. A Eucaristia deve ser preparada e celebrada como verdadeiro encontro com Cristo Ressuscitado, evitando que seja apenas o cumprimento de um preceito. Para uma presença alegre, consciente, ativa e frutuosa da celebração urge uma mais cuidada formação litúrgica.
■ Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística. Os horários de abertura das igrejas devem ser adequados ao ritmo do mundo de hoje, procurando estimular os momentos de oração pessoal e envolver os leigos, confrarias do Santíssimo Sacramento, catequistas e demais agentes pastorais na dinamização dos momentos de adoração eucarística comunitária.
■ Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia, integrando os jovens nesse processo de renovação e adequando a espiritualidade cristã aos ambientes digitais e ao mundo secularizado.
■ Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade. O encontro comunitário na celebração do Domingo ultrapassa todas as fronteiras. Ao partilhar o pão, na mesa do altar, tornamo-nos companheiros de caminho e somos chamados a criar comunhão. A Eucaristia convoca todos, está aberta a todos e não afasta ninguém.
■ Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia. Quem participa, celebra e comunga tem de se sentir comprometido e impelido à missão. A Eucaristia celebrada na igreja tem de ser expressa para além das suas portas, através das respostas reais às necessidades concretas das pessoas, estendendo o seu abraço a todos, especialmente aos mais pobres, indefesos e os que estão afastados.
■ Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia como lugar onde a Igreja se renova na comunhão, na participação e na missão.
■ Ser sinal de Esperança. O amor dos crentes à Eucaristia acreditada, celebrada, adorada e vivida consolida a fraternidade, promove o perdão e a paz, tornando-se fonte inesgotável de esperança para o mundo.
A igreja portuguesa considera que com a realização do 5.º Congresso Eucarístico Nacional fica também patente o desejo de uma periodicidade mais regular na sua realização, esperando que seja um contributo para a construção da paz, da esperança e um veemente apelo à promoção de uma ecologia integral.
Os participantes concluíram: “Confiamos a Maria, Mãe da Esperança, os bons frutos deste Congresso para que a Igreja em Portugal seja cada vez mais eucarística, samaritana e mariana.”