À medida que o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia entra no terceiro ano, o comércio internacional vem sentindo os efeitos, com as sanções às exportações russas a expandiram-se. Entretanto, investigadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, EUA, descobriram que a invasão russa em território da Ucrânia pode não só ter impactos significativos de curto prazo, nos mercados globais, mas deixar efeitos duradouros na economia global e no meio ambiente.
As conclusões do estudo são retiradas do impacto das sanções à Rússia e pela interrupção da Ucrânia nos mercados globais de produtos de madeira. Os investigadores compararam a projeção de dois cenários com base no modelo do Mercado Global de Produtos Florestais: um simulando um cenário sem invasão e outro projetando os efeitos das sanções atuais sobre produtos de madeira e interrupção do comércio na Ucrânia até 2025.
A comparação do resultado dos dois cenários permitiu aos investigadores formar o um modelo que prevê mudanças nos mercados globais de produtos de madeira no futuro próximo e a longo prazo.
Rajan Parajuli, professor associado de economia e política florestal na Universidade Estadual da Carolina do Norte e autor correspondente do artigo “ Projected Effects of the Russian Invasion of Ukraine on Global Forest Products Markets” sobre o estudo, publicado no Forest Policy and Economics, disse que os impactos imediatos da invasão podem ser severos.
“No curto prazo, que definimos como dentro de dez anos do fim da invasão, o nosso modelo prevê um aumento de preço de até 3% para produtos, como madeira em tora industrial e produtos de madeira acabados”, disse Rajan Parajuli.
O investigador acrescentou: “A Rússia é um grande produtor de produtos florestais e fornece para o mundo todo, então as sanções à Rússia são muito impactantes. Mas também se deve levar em consideração as interrupções na Ucrânia, onde as operações militares tornarão os trabalhos como a extração de madeira muito difíceis.”
Apesar disso, a Rússia pode recuperar uma boa parte de sua participação geral no mercado de madeira no longo prazo. Olhando para 2050, o modelo prevê um nível geral menor de interrupção à medida que os mercados russos de madeira industrial recuperarem. Os investigadores estabeleceram uma suposição básica de que a invasão terminará em 2025, e o modelo prevê que os mercados globais começarão a voltar aos níveis pré-invasão dentro de 10 a 30 anos.
Apesar do menor nível geral de interrupção previsto no longo prazo, os investigadores não esperam que alguns mercados de produtos regressem aos seus estados de pré-invasão, podendo alguns efeitos durar para além do fim do conflito.
“Descobrimos que produtos como painéis à base de madeira, papel e papelão não recuperarão na Rússia ou Ucrânia. Esses não são grandes mercados, e nosso modelo prevê que se esses países não puderem produzir esses produtos durante alguns anos, outros países entrarão nesse espaço”, referiu o investigador. “As sanções levarão a preços mais altos, o que prevemos que levará países ricos em recursos como Estados Unidos e Canadá, China e alguns outros países asiáticos a aumentar a produção. Pois vão querer vender enquanto o preço estiver alto.”
A mudança na produção e no comércio pode ter sérias implicações em todo o mundo, tanto económica como ambiental. Embora o aumento da produção em outros países possa ser um impulsionador económico significativo, os investigadores também alertam que isso pode levar ao afrouxamento das regulamentações ambientais e ao aumento do desmatamento causado por uma alta na extração de madeira. Especificamente, os países em desenvolvimento que já sofrem com altos níveis de extração ilegal de madeira podem arcar com o peso do aumento do desmatamento e dos danos ambientais.