Lourenço Bandeira, doutorado em ciências da terra, tem à sua frente dois modelos de drones (um quadricoptero e um exacoptero). Estes drones são instrumentos importantes para a investigação que está a fazer na Antártida, nomeadamente na Ilhas do Rei Jorge. Munidos de câmeras fotográficas permitem fotografar uma zona e fazer o seu mapeamento ao longo do tempo. Esse mapeamento permite medir as alterações da vegetação e assim estudar o impacto das alterações climáticas.
Estamos no espaço exterior do Pavilhão do Conhecimento – Ciencia Viva, em Lisboa, na noite europeia dos investigadores. Lourenço Bandeira é investigador do Propolar, o programa polar português que apoia a realização de missões científicas portuguesas na Antártida e no Ártico.
Logo ao lado de Lourenço Bandeira está Maria Teresa Novo. Na bancada tem um microscópico, placas de petri e um cubo em rede fina. Esta investigadora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical está a falar de mosquitos, dos Aedes Aegypti, os que tanto nos preocupam, dado que são os vetores de vírus, como o Zika.
Maria Teresa Novo explica que os Aedes Aegypti já povoaram Lisboa, em 1940, mas foram erradicados do país devido aos inseticidas. A investigadora lembra que podem voltar a qualquer momento, dado que as condições climáticas podem vir a ser favoráveis para o seu regresso. Mas o mosquito por si não é um problema, mas sim quando surge alguém infetado, tornando o mosquito portador, infectando outras pessoas.
A curiosidade de quem a escuta manifesta-se e a investigadora esclarece que o mosquito não vive nos rios nem em grandes lagos mas sim em pequenos depósitos, como sejam as bases do vasos das plantas de decoração ou outros pequenos depósitos que encontramos em qualquer lugar.
Sobre a transmissão do vírus, refere que o momento mais propício é no início dos sintomas de uma pessoa infectada. Nesse momento o vírus está na fase periférica, isto é, está a circular no sangue. Mas a investigadora lembra que o número de pessoas infectadas é superior ao número de pessoas com sintomas.
Para Miguel Inácio, do Instituto Dom Luís, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o estudo é outro. Tubos de areia e a indicação do duelo entre o mar e a terra. O jovem investigador explica: “Temos aqui amostras de areia de uma grande variedade de praias, como seja, do Lombo Gordo de São Miguel, nos Açores, uma areia verde devido conter olivinas, da Praia Grande, em Sintra, que contém muita magnitite, mas também temos de praias da Florida dos EUA, da Tunísia, do Havai, de Cabo Verde e de muitos outros países”.
O tipo de areia, se é fina ou grossa, e a composição, pode indicar-nos muita coisa, dá-nos o conhecimento para compreender a evolução da erosão da costa, a subida das águas, o comportamento da foz dos rios e as estratégias de engenharia a aplicar. Miguel Inácio explica que um rio e o mar estão sempre num jogo que se pode traduzir no duelo mar–terra.
A percorrer as várias bancadas dos investigadores, e ao que nos pareceu com a mesma curiosidade que todos nós, encontramos Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, acompanhado por Rosalia Vargas, Presidente da Agência Ciência Viva e Diretora do Pavilhão do Conhecimento.
Na parede exterior do Pavilhão foram projetadas imagens que davam conta de muitos marcos históricos da evolução científica, bem como os novos avanços na ciência e na tecnologia.
No átrio do pavilhão do conhecimento, Ana Rita Oliveira, bolseira de investigação da FCT no ITQB, convida-nos para vermos ao microscópio uma cultura mista numa placa de petri. Explica que um dos objetivos da investigação é identificar as bactérias que degradam antibióticos, para que a possamos utilizar em unidades do tipo ETAR.
Curiosamente, a bolseira de investigação refere que no seu caso está interessada em fazer o seu doutoramento com um projeto para explorar proteínas que possam produzir um composto para armazenar hidrogénio.
No lado oposto da bancada de Ana Rita Oliveira estão investigadores do Centro de Neurociências de Coimbra, com o desafio: dê ao coração células estaminais que criem cardiomiócitos, isto é a fibra muscular cardíaca.
Da Escola Superior de Biotecnologia, da Universidade Católica do Porto, Joana Odila mostra-nos com estão a tornar os alimentos mais funcionais. A partir do sangue de bovino, e por um processo de hidrólise, descoloração, filtragem e liofilização obtém-se um péptido bioativo que é incorporado em mortadela ou em patê. Este péptido vai tornar estes produtos mais funcionais, isto é, por exemplo, anti-hipertensivos ou antiulcerativos.
A noite já se estendia no tempo mas investigadores e curiosos, de todas as idades, continuavam em diálogo. No meio do átrio os robôs davam o ar da sua graça, movendo-se de um lado para o outro, acendendo e apagando luzes. Um bailado de inteligência artificial e um jogo de sensores humanizavam as brincadeiras com os mais novos.
Esta foi a noite dos investigadores a divulgar a ciência que faz despertar nos mais jovens uma possível vocação para alguns dos domínios das ciências e das tecnologias.
A Noite Europeia dos Investigadores é uma iniciativa da Comissão Europeia que a patrocina e na qual colaboram centros de investigação, laboratórios, museus, escolas, empresas, investigadores e muitas outras entidades. Em Lisboa, a Noite Europeia dos Investigadores teve atividades no Pavilhão do Conhecimento e no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa, mas também houve atividades no Porto e em Braga.