O Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nomeia família de Henrietta Lacks como Embaixadora da Boa Vontade da OMS para a Eliminação do Cancro do colo do útero (ou cancro cervical). A nomeação reconhece os esforços para defender a prevenção do cancro do colo do útero e preservar a memória de Henrietta Lacks, que morreu de cancro do colo do útero em 1951.
A história de Henrietta Lacks é de injustiça com uma vasta contribuição para a ciência, mas que foi escondida do mundo durante muitos anos. Enquanto Henrietta Lacks procurava tratamento para o cancro, os investigadores fizeram biópsias do seu corpo sem o seu conhecimento ou consentimento. As células que recolheram, conhecidas como células HeLa, vieram a tornar-se a primeira linhagem de células “imortais” – o que significa que são as únicas células que continuaram a viver fora do corpo humano e a replicar-se.
Desde que o procedimento foi realizado, as células HeLa têm contribuído para inúmeros avanços médicos, incluindo o desenvolvimento da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), bem como a pesquisa em COVID-19.
“Assim como a injustiça da história de Henrietta Lacks, mulheres de todo o mundo de grupos raciais e étnicos minoritários enfrentam riscos desproporcionalmente maiores de cancro do colo do útero”, referiu o Diretor-geral da OMS.
“O objetivo da OMS é eliminar o cancro do colo do útero, o que significa que as inovações criadas com as células de Henrietta Lacks devem ser disponibilizadas de forma equitativa para todas as mulheres e meninas. Estamos ansiosos em trabalhar com a família Lacks para aumentar a conscientização sobre o cancro do colo do útero e promover a equidade racial na saúde e na ciência”, acrescentou Tedros Ghebreyesus.
A família, representada pelo filho de Henrietta Lacks, Lawrence Lacks, e suas netas, Victoria Baptiste e Veronica Robinson; e Alfred Lacks Carter Jr., neto de Henrietta Lacks, aceitaram a nomeação na Cimeira Mundial da Saúde, em Berlim, durante uma reunião intitulada “A Next Era for Women’s Cancer Control”.
Alfred Lacks Carter Jr. referiu: “Hoje, aceito humildemente esta honra de servir como Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação do Cancro Cervical no espírito de minha mãe – Deborah Lacks, que perdeu sua mãe, Henrietta, devido ao Cancro Cervical, e trabalhou para garantir que o mundo reconheça seu impacto. O legado de Henrietta Lacks vive em nós, e continuaremos solidários com a OMS, pacientes, sobreviventes e famílias em todo o mundo para garantir que nenhuma outra esposa, mãe ou irmã morra desnecessariamente de cancro do colo do útero.”
Com a nomeação da família Lacks como Embaixadores da Boa Vontade a OMS pretende dar um impulso à estratégia global para eliminar o cancro cervical. Trata-se pela primeira vez de um esforço global dado que os Estados Membros da OMS comprometeram-se coletivamente a eliminar um cancro.
A estratégia lista três metas que os países devem atingir até o ano de 2030: Primeiro, 90% das meninas elegíveis devem ser totalmente vacinadas com a vacina contra o Vírus do Papiloma Humano (VPH). Em segundo lugar, 70% das mulheres devem ser rastreadas usando um teste de alto desempenho. E em terceiro lugar, 90% das mulheres com lesões precursoras devem ter acesso ao tratamento e 90% das mulheres com cancro invasivo devem ser tratadas adequadamente, incluindo acesso a cuidados paliativos.
A OMS indica que, atualmente, uma mulher morre de cancro do colo do útero a cada dois minutos. Quase 90% dessas mortes ocorrem em países de baixo rendimento devido ao acesso inadequado à prevenção, diagnóstico e tratamento do cancro. Em todas as geografias, as mulheres em comunidades marginalizadas são afetadas de forma desproporcional.
Sobre Henrietta Lacks
A jovem mãe, Henrietta Lacks e seu marido estavam a criar cinco filhos perto de Baltimore quando adoeceu. A paciente foi para o Hospital Johns Hopkins depois de ter sofrido um sangramento vaginal extenso e foi diagnosticada com cancro cervical. Apesar do tratamento, o cancro interrompeu a vida de Henrietta em 4 de outubro de 1951, quando tinha apenas 31 anos.
Durante o tratamento, os investigadores recolheram amostras do tumor. Essa linhagem de células “HeLa” tornou-se um avanço científico: a primeira linhagem imortal de células humanas a dividir-se indefinidamente em laboratório. As células foram produzidas em massa, com fins lucrativos, sem o reconhecimento da família de Henrietta. Mais de 50 milhões de toneladas métricas de células HeLa foram distribuídas em todo o mundo.
Além da vacina contra o VPH, as células HeLa permitiram o desenvolvimento da vacina contra a poliomielite; drogas para VIH, hemofilia, leucemia e doença de Parkinson; avanços na saúde reprodutiva, incluindo fertilização in vitro; pesquisa sobre condições cromossômicas, câncer, mapeamento genético e medicina de precisão; e são usados em estudos que respondem à pandemia de COVID-19.