O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) revela que na Cisjordânia quase 2.000 palestinianos foram obrigados a abandonar as suas casas e terrenos à força pelos colonos israelitas desde 2022, em que 43% destas expulsões forçadas pelas armas ocorreram desde 7 de outubro de 2023.
A violência usada pelo colonos
O OCHA relata o caso de famílias palestinianas em que “pouco depois de colonos israelitas armados ameaçarem matá-los se não saíssem, 24 famílias palestinianas, totalizando 141 pessoas, metade das quais crianças, foram deslocadas de Khirbat Zanuta, no sul da Cisjordânia. No dia 28 de outubro de 2023, as famílias desmantelaram cerca de 50 estruturas residenciais e de animais e desocuparam a área com os seus 5.000 animais.”
Têm sido documentados pelo OCHA anteriores ataques de colonos nesta comunidade, mais recentemente em 12, 21 e 26 de outubro de 2023. Cerca de dois terços das famílias que compunham esta comunidade estão agora deslocadas, descreve o Gabinete das Nações Unidas.
“No dia 26 de outubro, os colonos atacaram-nos, destruindo as nossas casas, tanques de água, painéis solares e carros”, disse Abu Khaled, de 43 anos, de Khirbet Zanuta. “Senti a presença da morte de forma tão tangível, como se a visse com os meus próprios olhos. Fiquei dividido entre ficar ou sair do lugar que amo, ao qual pertenço, onde posso morrer. No dia 28 de outubro tomei a decisão mais difícil da minha vida: deixar Zanuta e deixar tudo para trás, como memórias. Fiz isso para proteger meus filhos”, relata o OCHA.
Ora, estas experiências não são exclusivas de Khirbat Zanuta, indica o OCHA. “Em 15 comunidades de pastores em toda a Cisjordânia, pelo menos 98 agregados familiares, compreendendo 828 pessoas, incluindo 313 crianças, foram deslocados devido à violência dos colonos ou ao aumento das restrições de movimento desde 7 de outubro. Esse foi o dia do ataque do Hamas em Israel, onde os palestinianos de Gaza mataram cerca de 1.400 pessoas, ferindo outras e fazendo reféns. Desde então, a violência dos colonos israelitas aumentou significativamente, passando de uma média já elevada de três incidentes por dia até agora em 2023 para uma média atual de sete por dia”.
Desde o dia 7 de outubro o OCHA já registou 171 ataques de colonos contra palestinianos, resultando em vítimas palestinianas, em 26 incidentes, danos em propriedades palestinianas, em 115 incidentes, ou ambos, em 30 incidentes. Nestes números o OCHA não incluiu os casos de assédio, invasão e intimidação quando não resultam em danos ou vítimas, “embora também aumentem a pressão sobre os palestinianos para partirem”.
O OCHA descreve que no dia 9 de outubro, quarenta pessoas foram deslocadas da comunidade pastoril de Al Ganoub. “Colonos israelitas armados invadiram a comunidade, ameaçando os moradores sob a mira de uma arma, dizendo que os matariam se não saíssem dentro de uma hora. Abu Jamal, 75 anos, é um dos deslocados”, que referiu: “Os colonos incendiaram a nossa tenda e roubaram as minhas cabras”. “Eles destruíram tudo o que me mantinha aqui.” O OCHA apurou que outra estrutura residencial também foi incendiada durante o incidente.
Restrições impedem sobrevivência dos palestinianos
“Desde 7 de outubro, as restrições de acesso, normalmente impostas pelas autoridades israelitas, intensificaram-se em toda a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. Estas são particularmente graves em áreas próximas dos colonatos israelitas e na “Zona Seam”, a área palestiniana isolada pela barreira de 712 quilómetros de Israel na Cisjordânia”, descreve o Gabinete das Nações Unidas.
Mas como descreve o OCHA “os colonos também impuseram restrições à circulação, bloqueando as estradas de acesso às comunidades palestinas. Tais medidas limitaram o acesso dos palestinianos a serviços e meios de subsistência essenciais. Em alguns casos, os colonos também danificaram os recursos hídricos de que dependem as comunidades pastoris, privando-as de uma necessidade humana fundamental”.
A violência dos colonos israelitas e as restrições impostas sobre as comunidades pastoris palestinianas, que são muitas vezes altamente dependentes da assistência humanitária, incluindo serviços de saúde e educação, levou a que muita da assistência humanitária tivesse de parar.
Colonos israelitas usam armas de fogo para intimidar os palestinianos
O OCHA relata que “no dia 12 de outubro, oito famílias, incluindo 51 pessoas, foram deslocadas da comunidade pastoril de Shihda WaHamlan, em Nablus, depois de os colonos israelitas as terem ameaçado com armas, dizendo que as matariam e incendiariam as suas tendas durante a noite. Um dos membros da família, Abu Ismail, de 52 anos, afirmou: “Não tive escolha senão deixar tudo para trás para proteger os meus filhos”.”
Dos incidentes que o OCHA vem registando “mais de um em cada três incidentes relacionados com colonos israelitas, desde 7 de outubro, envolveu colonos que usaram armas de fogo para ameaçar os palestinianos, inclusive abrindo fogo. Em quase metade dos casos, as forças israelitas acompanharam ou apoiaram ativamente os agressores. Muitos destes últimos incidentes foram seguidos de confrontos entre as forças israelitas e os palestinianos, onde três palestinianos foram mortos e dezenas ficaram feridos. Oito palestinos foram mortos diretamente pelos colonos israelitas, no final de outubro. Foram causados danos ou destruição a 24 estruturas residenciais, 40 estruturas utilizadas para agricultura, 67 veículos e mais de 400 árvores e plantações”.
O Gabinete das Nações Unidas lembra que “os colonatos são ilegais ao abrigo do direito humanitário internacional e, agravados pela violência dos colonos, têm resultado durante muitos anos no aumento dos riscos e no aumento das necessidades humanitárias entre os palestinianos”.
A deslocação provocada pelos colonos israelitas é anterior a 7 de outubro
Embora nos últimos dias mais intensa, mas a deslocação de palestinianos impulsionada pelos colonos não começou com o condenável ataque mortal do Hamas. O OCHA lembra que “em setembro revelou que 1.105 pessoas de 28 comunidades – cerca de 12% da sua população – foram deslocadas das suas áreas de residência desde 2022, citando a violência dos colonos e a prevenção do acesso a pastagens por parte dos colonos como a principal razão. Quatro comunidades foram completamente deslocadas e permaneceram vazias. Em seis outras comunidades, mais de 50% dos residentes abandonaram o país desde 2022 e em sete comunidades adicionais mais de 25% abandonaram o país.”
Dos dados disponíveis o OCHA refere que “o número total de pessoas deslocadas devido à violência dos colonos desde 2022 atingiu 1.933”, e lembra que no início de outubro, antes da atual escalada, relatou “o deslocamento de treze famílias compreendendo 84 pessoas de Masafer Yatta; estas pessoas citaram o aumento das restrições de movimento impostas pelas forças israelitas como a principal razão para a sua mudança. Além disso, as demolições de casas realizadas pelas autoridades israelitas deslocaram outros 1.032 palestinianos em 2022 e 1.352 palestinianos até agora em 2023”.
Palestinianos sob permanente ameaça pelos colonos
O Gabinete das Nações Unidas revela que “são grandes as preocupações com as famílias que permaneceram e continuam a sofrer ataques dos colonos”, e descreve: “Mohamad Abu Seif (Abu Khalid), 90 anos, vive com a família na comunidade pastoril de Ein Shibli há mais de 40 anos. Embora tenham permanecido, estão expostos a ameaças repetitivas e assédio por parte dos colonos”. “Eles nos impedem de pastorear nossas ovelhas”, refere Abu Khalid citado pelo OCHA.
Abu Khalid e a sua família estão entre os cinco agregados familiares palestinianos, compostos por 33 pessoas, que permanecem nesta comunidade, relata o OCHA, e lembra que “todos eles correm o risco de serem deslocados à medida que as áreas de pastagem diminuem devido às ações dos colonos israelitas. Oito famílias, totalizando 51 pessoas, já abandonaram esta zona desde o dia 7 de outubro. Embora Abu Khalid ainda esteja lá, ele e a sua família não têm garantias de que conseguirão permanecer por muito mais tempo.”