Dois produtos químicos amplamente usados para dar sabor aos cigarros eletrónicos podem estar a prejudicar a função dos cílios na via aérea humana, concluiu um novo estudo conduzido pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard.
Os cílios são protuberâncias parecidas com antenas que estão presentes em 50 a 75% das células que revestem as vias aéreas humanas. Estas protuberâncias desempenham um papel fundamental na manutenção das vias aéreas humanas para as manter livres de muco e poeira e assim permitem que as pessoas respirem com facilidade e sem irritação. A função ciliar deficiente tem vindo a ser associada a doenças pulmonares, como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e a asma.
“Embora sejam frequentemente usados para dar sabor aos cigarros eletrónicos, pouco se sabe sobre os mecanismos envolvidos que levam os produtos químicos a afetam a saúde. Este novo estudo sugere que os produtos químicos podem estar a prejudicar os cílios – a primeira linha de defesa nos pulmões – alterando a expressão génica relacionada à produção e função dos cílios “, referiu Quan Lu, investigador em genética ambiental e fisiopatologia, e coautor do estudo.
O estudo publicado no dia 1 de fevereiro de 2019 na Scientific Reports possui ainda como coautor, Joseph Allen, investigador em ciência de avaliação de exposição. Este é o primeiro estudo sobre o impacto de produtos químicos aromatizantes em células epiteliais humanas, que são do tipo das que revestem os pulmões.
Atualmente milhões de pessoas usam cigarros eletrónicos, e um aumento crescente de uso entre crianças, em idade escolar, alarmou os especialistas em saúde pública, que rotulam como uma epidemia.
Num estudo anterior, Joseph Allen e outros investigadores da Universidade de Harvard descobriram nos produtos químicos aromatizantes – principalmente o diacetil e 2,3-pentanodiona – em mais de 90% dos cigarros eletrónicos testados.
O diacetil, para além de ser usado nos cigarros eletrónicos, é usado como agente aromatizante em alimentos como pipocas com sabor de manteiga, assados e doces. O diacetil é considerado um ingrediente seguro em alimentos, mas as evidências sugerem que pode ser perigoso quando inalado.
O produto químico diacetil foi já ligado à bronquiolite obliterante, uma doença pulmonar debilitante que foi apelidada de “pulmão de pipoca” porque apareceu pela primeira vez em trabalhadores que inalavam o sabor artificial de manteiga em instalações de processamento de pipoca. Após a ligação entre diacetil e “pulmão de pipoca” foi relatado que 2,3-pentanodiona foi também utilizado como um substituto.
Neste novo estudo, os investigadores usaram novas técnicas de laboratório que lhes permitiram examinar o impacto do diacetil e 2,3-pentanodiona nas células epiteliais num sistema que imitava o epitélio da via aérea humana in vivo.
Os investigadores expuseram células epiteliais brônquicas humanas normais às substâncias químicas durante 24 horas. Eles descobriram que tanto o diacetil como a 2,3-pentanodiona estavam ligados a mudanças na expressão génica que poderiam prejudicar tanto a produção quanto a função dos cílios.
Os investigadores descobriram, ainda, que mesmo os baixos níveis de ambos os produtos químicos afetaram a expressão génica, sugerindo que os atuais padrões para limites seguros de exposição a esses produtos químicos para os trabalhadores podem não ser suficientes. Não existem padrões para os utilizadores de cigarros eletrónicos.
“Os utilizadores de cigarros eletrónicos aquecem e inalando produtos químicos aromatizantes que nunca foram testados para a segurança da inalação”, Joseph Allen. “Embora alguns fabricantes de cigarros eletrónicos tenham afirmado que não usam diacetil ou 2,3-pentandione, então levanta-se uma questão importante – que produtos químicos estão a usar para dar sabor?”