O Projeto de Intervenção Precoce do Cancro Oral (PIPCO) já abrangeu perto de 8 mil doentes e realizou 3806 biópsias, permitindo detetar 440 lesões malignas ou pré-malignas. Os dados foram revelados por Filipe Freitas, membro do Grupo de Acompanhamento do PIPCO e da Mesa da Assembleia Geral da Ordem dos Médicos Dentistas, em Évora, durante os “Encontros da Primavera de Oncologia”.
A Ordem dos Médicos Dentistas indicou que “de acordo com os últimos registos oncológicos nacionais, anualmente surgem cerca de 1600 novos casos de cancro da cavidade oral e faringe. O cancro oral é mais frequente nos homens acima dos 45 anos e o tabaco e consumo em excesso de álcool são os principais fatores de risco. A infeção pelo vírus do papiloma humano constitui também um importante fator de risco, sobretudo para os tumores da orofaringe.”
Quando o cancro oral é detetado precocemente então a possibilidade de tratamento é grande e por isso é objetivo do PIPCO rastrear doentes de risco e identificar lesões numa fase inicial.
Quando um médico de família deteta lesões suspeitas num doente emite um “cheque diagnóstico” e o doente é referenciado para um médico dentista aderente ao PIPCO. Caso se confirme a necessidade de esclarecer a natureza da lesão, o médico dentista emite um “cheque biópsia”, realiza o procedimento cirúrgico e envia para análise para determinar o diagnóstico.
Filipe Freitas referiu que “o número de doentes abrangidos tem crescido todos os anos. Uma das grandes virtudes deste projeto é a utilização de uma forma eficiente de toda a capacidade instalada em termos de recursos públicos e privados, no sentido de permitir o diagnóstico precoce de lesões malignas, garantindo depois uma rápida resposta por parte dos serviços de saúde para o tratamento atempado da doença”.
O carcinoma espinocelular é o tipo de cancro mais frequentemente detetado, e a leucoplasia é a lesão com potencial de malignização mais importante. Os doentes devem ter particular atenção nos seguintes casos:
■ Uma lesão branca ou vermelha da mucosa oral sem razão aparente;
■ Uma ferida que não cicatriza ou um aumento de volume irregular devem merecer especial atenção;
■ Dor, dificuldade em engolir ou em movimentar a língua constituem também motivo de alerta.
Filipe Freitas alertou que “Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de incidência de cancro oral, sendo que a taxa de mortalidade também é bastante elevada no nosso País. A sobrevivência ao fim de 5 anos é de apenas 40%, por comparação com os 47% da média europeia. De um modo geral, a sobrevivência é ainda menor nos estádios avançados do tumor, sobrevivendo apenas 15 a 30% dos doentes 5 anos depois do diagnóstico tardio. Portanto, o diagnóstico precoce é o mais importante fator para o prognóstico da doença, permitindo alcançar boas taxas de sucesso dos tratamentos. O médico dentista desempenha um papel fundamental quer na prevenção quer no diagnóstico precoce da doença”.