O cancro do pulmão é um dos cancros mais comuns no mundo e é a principal causa de morte relacionada ao cancro em homens e mulheres. Os dados são da American Cancer Society. Embora o tabagismo seja a principal causa do cancro do pulmão, e parar de fumar preveniria um grande número de casos de cancro do pulmão, mas não preveniria a todos.
Um estudo recente conduzido por investigadores do National Cancer Institute, EUA, sugere que cerca de 10% dos homens e 20% das mulheres que desenvolvem cancro do pulmão nunca fumaram e que existem três subtipos moleculares de cancro do pulmão em pessoas que nunca fumaram.
Os cientistas ainda estão a tentar desvendar o mistério de como o cancro do pulmão surge em pessoas que não têm histórico de tabagismo. Entretanto, o especialista Missak Haigentz, Jr., chefe de Oncologia Médica Torácica e de Cabeça e Pescoço do Rutgers Cancer Institute de New Jersey, diretor clínico de Integração de Oncologia da RWJBarnabas Health, professor de medicina da Rutgers Robert Wood Johnson Medical School e médico assistente da Robert Wood Johnson University Hospital New Brunswick, compartilha alguns dos atuais conhecimentos.
■ Qual a diferença entre o cancro em não fumador e em fumador?
O cancro do pulmão em fumadores é frequentemente causado pela exposição a agentes cancerígenos do fumo do tabaco ao longo dos anos, ou décadas de uso do tabaco. Como resultado, existem várias alterações genéticas que surgem nas células que revestem os pulmões e que dão origem ao cancro de pulmão.
O cancro de pulmão, entretanto, ocorre devido a outras exposições conhecidas, por exemplo, gás radão ou ao fumo passivo, bem como de outras exposições. O que já sabemos é que os cancros do pulmão, apesar de parecerem semelhantes ao microscópio, podem desenvolver-se de maneira diferente em pessoas que nunca fumaram, e essa informação sobre as diferenças moleculares já teve um impacto tremendo na maneira como tratamos a doença com terapias direcionadas ao cancro.
■ O que achamos que pode causar cancro do pulmão em não fumadores?
Qualquer coisa que inalamos pode expor potencialmente as nossas vias aéreas e nossos pulmões a agentes prejudiciais que podem causar cancro – ainda não foram todos identificados. Embora ainda haja informações sobre esse tópico que estão a ser exploradas, sabemos que a exposição ao gás radão é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de cancro do pulmão, que é algo que precisamos estar particularmente atentos em determinadas regiões.
Algumas outras causas podem incluir a exposição ao amianto, o que pressagia o risco de um certo tipo de cancro chamado mesotelioma, que é um tipo muito raro de cancro que ocorre na fina camada de tecido que cobre a maioria dos órgãos internos. O fumo passivo pesado é também um risco para o desenvolvimento de cancro do pulmão.
■ Qual é a vantagem de identificar subtipos moleculares distintos de cancro do pulmão e a importância para os investigadores?
Apoiar a ciência e identificar subtipos moleculares dá-nos uma grande visão, em primeiro lugar, de como esses cancros são formados. O que realmente queremos é prevenir esse tipo de cancro antes que comece. Esta investigação também nos ajuda a entender como fumadores e não fumadores podem beneficiar de tratamentos como a terapêutica direcionada ao cancro, que foi identificada como alvo de anormalidades moleculares tumorais específicas.
Com base nas características moleculares dos cancros do pulmão, foram desenvolvidas recentemente várias opções de tratamento eficazes visando a sua biologia e, como resultado de investigações científicas em curso são esperados avanços ainda mais emocionantes no tratamento dos cancros.
■ O que é que os não fumadores podem fazer se estiverem preocupados com o cancro do pulmão?
Se nunca fumou, primeiro nunca comece! Também podemos testar as casas quanto à presença de gás radão e estar atentos ao ar a que nos expomos. Agora é recomendado o rastreio anual do cancro do pulmão com tomografias computadorizadas de baixa dose para os que tiveram exposição significativa ao fumo, e há um número crescente de ex-fumadores que podem beneficiar desta tecnologia, que pode salvar vidas.
Mas o mais importante é remover o estigma do cancro do pulmão. Há pessoas que fumaram a vida toda e nunca desenvolveram cancro, e existem pessoas que nunca fumaram e que desenvolvem cancro do pulmão. Qualquer pessoa com pulmão pode ter cancro do pulmão. Independentemente de terem fumado ou não, ninguém merece cancro e todos merecem os melhores cuidados de saúde possíveis.