Ao contrário de muitos outros tipos de cancro, a maioria dos tumores pancreáticos é muito dura. “Essa é uma das razões que torna o cancro do pâncreas um dos mais letais”, referiu Kenneth Olive, da Columbia University Vagelos College of Physicians and Surgeons e investigador em cancro pancreático no Herbert Irving Comprehensive Cancer Center.
“Os tumores pancreáticos recrutam uma camada espessa de tecido conjuntivo chamado estroma que endurece o tumor e age como um escudo”, referiu Kenneth Olive. A anterior investigação descobriu pela primeira vez como o estroma dificulta que os fármacos quimioterápicos a atingir as células malignas. “Como resultado, a maioria dos fármacos quimioterápicos não pode elevar-se aos níveis necessários para serem eficazes”.
Para o investigador, isso sugere, paradoxalmente, que um fármaco de vida mais longa – mas menos tóxico – pode funcionar melhor.
“Para que um medicamento contra o cancro do pâncreas seja eficaz, necessita de permanecer durante o tempo suficiente para passar pelo estroma e acumular-se no tumor. Mas se o fármaco permanece durante muito tempo no sangue, não pode ser demasiado tóxico para o resto do corpo”, explicou o investigador.
Nova combinação de fármacos
Kenneth Olive, na mais recente investigação, pode ter identificado um bom candidato. O fármaco PTC596, um composto experimental que mostrou atividade antitumoral em células de cancro do pâncreas humano e de rato, parece ter as qualidades certas.
O PTC596 tem uma meia-vida durável, sendo que a maioria dos medicamentos contra cancro tem uma meia-vida de alguns minutos a horas, e pode escapar de uma bomba que muitas células cancerosas usam para expelir fármacos. “Isso significa que qualquer quantidade de fármaco que ultrapasse a barreira pode atingir as células malignas”, referiu Kenneth Olive.
Com base nos estudos, Kenneth Olive, Eberle-Singh e os seus colaboradores testaram o PTC596 em combinação com gemcitabina, um medicamento de primeira linha para cancro do pâncreas em ratos geneticamente modificados, com uma forma agressiva de cancro do pâncreas, que geralmente é resistente à quimioterapia.
Os ratos que foram tratados com a combinação dos dois fármacos viveram três vezes mais do que os ratos tratados com apenas um único agente padrão. “Este resultado foi emocionante porque é extremamente raro que qualquer tratamento estenda a sobrevivência neste modelo de rato”, referiu o investigador.
Os investigadores também testaram o fármaco PTC596 em combinação com a gemcitabina e outro fármaco frequentemente usado no tratamento do cancro do pâncreas, o nab-paclitaxel, usando tumores pancreáticos humanos cultivados em ratos. Esta combinação aumentou ainda mais a eficácia, fazendo com que os tumores encolhessem completamente.
“Com base no perfil de segurança do medicamento e nas nossas próprias descobertas, há uma boa razão para testar o PTC596 em combinação com a terapia padrão em pacientes com cancro do pâncreas”, referiu Kenneth Olive.
Quebra de Microtúbulos
A equipa de Kenneth Olive também descobriu que o PTC596 bloqueia a formação de microtúbulos – uma rede de proteínas envolvidas na divisão celular e transporte de nutrientes dentro da célula. Ele demonstrou que o PTC596 pode atuar sinergicamente com nab-paclitaxel, outro agente de ligação a microtúbulos.
“A combinação de diferentes inibidores de microtúbulos tem o potencial de desempenhar um papel importante no futuro da oncologia, pois há muitos agentes que causam impacto nos microtúbulos de diferentes maneiras que podem produzir sinergia”, concluiu Kenneth Olive.